Visita pastoral

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A prática que faz diferença no ministério

Lyn Ashby

Foto: Light Field Studios

De acordo com as Escrituras, aconteceram coisas emocionantes quando Jesus, os profetas e os discípulos visitaram as casas das pessoas. A sogra de Pedro foi curada de uma enfermidade (Lc 4:38,39), o filho da mulher sunamita e a filha de Jairo foram ressuscitados (2Rs 4; Mc 5), Zaqueu confessou seus pecados e restituiu o que não era seu (Lc 19:1-10), Jesus descansou na casa de Marta (Lc 10:38-42), o carcereiro de Filipos e sua família foram convertidos (At 16:25-40), os primeiros crentes adoravam com Paulo no lar de Priscila (Rm 16:3-5) e os coletores comeram com Jesus na casa de Mateus (Mt 9:10-13).

EXPERIÊNCIA NA AUSTRÁLIA

Durante 2021, coisas emocionantes também aconteceram nas casas dos membros da Igreja Adventista de Caboolture, no subúrbio do estado australiano de Queensland. Os membros puderam comemorar a marca de 100 visitas domiciliares realizadas.

Meu marido e eu fomos privilegiados por participar de uma das primeiras visitas com o nosso novo pastor, Casey Wolverton. Passamos cerca de uma hora e meia reunidos bem à vontade na sala de estar, conversando sobre nossa família, nossa história, a conexão com a igreja e a respeito da esperança para o futuro. Terminamos orando uns pelos outros e nos sentimos abençoados por passar esse tempo juntos. Iniciamos assim uma amizade que continuou a crescer durante o ano.

Enquanto refletia sobre essa experiência, minha mente voltou até a infância, para a fazenda de laticínios dos meus pais, cerca de 100 km da congregação adventista na cidade de Kingaroy, onde assistíamos mensalmente. Às vezes o pastor e sua esposa iam à fazenda passar o fim de semana, mas na maioria dos cultos de sábado desfrutávamos da companhia de outras famílias que também moravam em lugares isolados.

Lembro-me de alguns pastores irem comigo ao laticínio para ajudar na ordenha. Minha mãe ficava sempre impressionada com a humildade deles e o desejo de participar da nossa rotina. Guardo recordações do pastor Algie Gallagher sentado nos degraus da varanda ensolarada dos fundos, fazendo a classe batismal comigo.

Creio que essas visitas simples, mais de 50 anos atrás, influenciaram positivamente minha fé e minha visão da igreja. Alguns podem dizer que os tempos mudaram, mas será que as necessidades humanas mudaram tanto assim?

Apurei relatos de membros de inúmeras igrejas em toda a Austrália que consideram que a prática da visita pastoral tem sido negligenciada atualmente. No entanto, essa não é uma dificuldade exclusiva da Igreja Adventista ao redor do mundo. Falando de seus colegas, Matt Ward, pastor batista nos Estados Unidos, lamenta: “Conheço pastores que nunca vão a um hospital ou chegam à porta da casa de algum membro da sua igreja” (link.cpb.com.br/42589a).

Ouvir as reações extremamente positivas dos irmãos de Caboolture em relação a recentes visitas pastorais me fez pensar se não é o momento de reconsiderarmos os benefícios dessa tarefa ministerial e reavivar essa ferramenta tão valiosa no contexto religioso.

CONSTRUÇÃO DE RELACIONAMENTOS

A visitação pastoral cria oportunidades para construir uma ligação entre os membros e o pastor. Ela é tão importante quanto o chamado para o ministério. Estar com as pessoas é o coração das responsabilidades do líder religioso (1Pe 5:2) e contatos frequentes tornam o ministério mais efetivo.

É hora de reconsiderar os benefícios da visitação e de reavivar essa ferramenta tão valiosa

Jesus disse ao povo de Jerusalém que se aglomerava ao Seu redor: “As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz; Eu as conheço, e elas Me seguem” (Jo 10:27). Os membros precisam de conexão pessoal com o pastor e seus associados, mas como é possível conhecer as ovelhas se não há tempo dedicado para estar com elas?

ASSISTÊNCIA AO PRÓXIMO

Ao visitar, o ministro do Senhor tem a oportunidade de demonstrar que se importa com os membros. Ao conhecer as famílias, a pregação é enriquecida, crises são evitadas e há um sentimento pessoal de cuidado e atenção. No ambiente descontraído do lar, ambas as partes podem conversar com a devida concentração sobre a vida e criar vínculos espirituais.

Bob Possingham, pastor de igreja e capelão que fez da visitação uma prática constante para a vida, explica: “Quando vamos visitar as pessoas, podemos ter certeza de que Deus está conosco e que Seu Espírito vai adiante de nós. O desanimado e triste recebe esperança, o moribundo recebe paz, o afastado é lembrado de quão importante é para Deus, o solitário é animado porque ali está um irmão que se importa com ele. Aqueles cujo futuro é incerto são lembrados de que a Bíblia aponta um futuro pelo qual almejar.”

INFLUÊNCIA BENÉFICA

As visitas potencializam as outras funções pastorais que precisam ser desempenhadas, pois o envolvimento dos irmãos é ampliado por meio de vínculos cultivados e fortalecidos.

Amizades criadas durante as visitas domiciliares floresceram à medida que nosso pastor pregava sermões relevantes e se unia àqueles que realizam o trabalho da igreja, cultos dos desbravadores, comissões de planejamento, séries evangelísticas e todos os demais aspectos da vida da igreja. Vivenciamos um ambiente de incentivo, instrução espiritual, diversão, amizade, afirmação e solução de problemas.

Quando o pastor visita, ele também pode ajudar em casos de pessoas afastadas. Um casal amigo na igreja de Cabbolture passou justamente por essa experiência. Eles não congregavam havia algum tempo e relataram que, ao serem visitados pelo pastor Casey, sentiram-se valorizados, sabendo que alguém entrou em contato porque se importava. Isso os motivou a voltar à igreja, e pudemos recebê-los de maneira calorosa para compartilharmos um senso de pertencimento em Cristo.

O pastor N. Ashok Kumar chegou a mencionar que as visitas pastorais à moda antiga são importantes e ainda funcionam como uma das melhores estratégias voltadas ao crescimento da igreja. Até porque em muitas ocasiões elas são menos complicadas e dispendiosas que outras iniciativas missionárias. 

Em nossa congregação de Caboolture, estamos muito animados com o reavivamento do presente, pois sabemos que é fruto de uma rotina consistente de visitas pastorais.

De acordo com o pastor Casey, a ênfase nos atendimentos domiciliares é nova em seu ministério. “Felizmente, os líderes da igreja simplificaram minhas responsabilidades para eu ter mais tempo e me concentrar nessa atividade. Tem sido tão compensador e frutífero que pretendo continuar fazendo disso minha prioridade”, ele relata.

LYN ASHBY é líder de louvor e conselheira dos Desbravadores na Igreja Adventista de Cabbolture, Austrália

(Artigo publicado na edição de outubro de 2022 da Revista Adventista / Adventist World)