Que legado estamos deixando para as próximas gerações?
Pablo Canalis
Em um sábado à tarde, sentei-me no quintal da casa dos meus pais com meu avô materno, Guilherme, enquanto ele lia a Bíblia. Eu desejava compor uma música para celebrar seu aniversário de 90 anos, que se aproximava. Então, perguntei-lhe: “Vovô, o que o senhor perguntaria para Deus?” Ele ficou visivelmente desconfortável com meu questionamento. “Eu? Perguntar? Quem sou eu para questionar algo a Deus?” Sua resposta me surpreendeu. Ao perceber minha reação, meu avô prosseguiu: “Perguntar, não; mas pedir… isso, sim! Peço a Deus que não me abandone. A vida é muito curta, Pablo! Somos como a erva do campo, que hoje está aqui, amanhã o sol a queima. Nossa vida é efêmera, então tenho que assegurar que Deus não me deixará.”
Parte da letra que compus diz: “Uma vez terei esta vida / Uma vez e passará como a erva que no campo está / Sem o Teu amor, vai secar / Por isso, hoje me inclino perante Ti / Suplico-Te que fiques ao meu lado / Sem Ti, Senhor, não viverei / Preciso da Tua compaixão / Ajuda-me a não soltar Tua mão / Pois uma vez terei esta vida / Uma vez e passará como a erva que no campo está / Sem o Teu amor, vai secar.”
Meu avô faleceu aos 96 anos, e posso afirmar que realizou muitas conquistas ao longo da vida. Nasceu na Argentina por acaso, enquanto seus pais viajavam pelo país, mas sua origem era libanesa. Ele se casou e teve sete filhos, mudando-se com cinco deles do Líbano para a Argentina, começando praticamente do zero. Vovô administrou uma loja de roupas, foi corretor de imóveis, fundou um clube e criou o primeiro time de vôlei na pequena localidade em que vivia. Ele incentivou seus filhos a estudar e se alegrava por ter 18 netos.
Apesar de ter explorado diferentes partes do mundo e alcançado o que desejava, o mais significativo para ele era assegurar a presença de Deus em sua vida. Leu a Bíblia toda 137 vezes! Seu exemplo deixou uma marca profunda em mim, mas me questiono se estou transmitindo essa herança aos meus filhos. Será que as pessoas ao redor percebem isso em mim?
VIVER COM ESPERANÇA RESOLVE MUITAS DAS NOSSAS ANGÚSTIAS, DOS NOSSOS MEDOS E DAS NOSSAS PREOCUPAÇÕES
A vida é efêmera. Quando muito, alcançamos os 100 anos. Se considerarmos, isso representa um pouco mais de 10% do que Adão viveu. Então, é preciso refletir: É válido trocar a perspectiva da eternidade por apenas 100 anos de “vida intensa”? Compensa viver do jeito que desejamos, sem que ninguém imponha regras em nossa trajetória?
Certo dia, enquanto conversava com alguém, enfatizei que a orientação bíblica que nos aconselha a fazer tudo como para o Senhor (Cl 3:23, 24) faz sentido até mesmo para nossa saúde mental. Viver com esperança resolve muitas das nossas angústias, dos nossos medos e das nossas preocupações. Buscar em primeiro lugar o reino de Deus e Sua justiça nos dá um sentido verdadeiro, pois Ele é fiel!
No início do ano, geralmente refletimos sobre o que aconteceu, tanto nas alegrias quanto nas tristezas. Também expressamos o desejo de que o novo ano seja melhor. Contudo, será que olhamos para trás e percebemos nossa verdadeira preocupação em ter Deus por perto? Será que olhamos para o futuro com o anseio de tê-Lo ao nosso lado em todas as situações?
“Uma vez terei esta vida / Uma vez e passará como a erva que no campo está / Sem o Teu amor, vai secar.” Portanto, que a nossa vida seja Cristo, e nada, absolutamente nada, seja mais importante que Ele!
PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina da Família e Comunidade
(Artigo publicado na seção Em Família da Revista Adventista de janeiro/2024)
Última atualização em 11 de janeiro de 2024 por Márcio Tonetti.