A tortura do ciúme

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Como vencer um dos principais inimigos dos relacionamentos conjugais

Pablo Canalis

Crédito da imagem: Adobe Stock

Pedro chega angustiado ao consultório. A esposa, que o acompanha, pede permissão para entrar junto na sala de consulta. Mas vejo na expressão facial dele um desconforto. Diante da situação, pergunto com certo cuidado se ele está confortável com a presença dela. Depois de uma respiração profunda, quase sussurrando, ele fala que prefere ficar sozinho. Meio sem graça, a esposa sai da minha sala, mas diz que depois gostaria de conversar comigo a respeito do marido. Ele espera alguns segundos e, olhando fixamente nos meus olhos, desabafa: “Eu não aguento mais! Essa mulher não me deixa em paz! Não posso fazer nada, que ela já começa a me questionar. Se saio de casa, logo em seguida ela me liga, querendo saber onde estou, ou se passo alguns minutos do horário previsto para retornar, ela fica furiosa. Tudo pra ela é um gatilho para o ciúme. Já não tenho vontade de sair de casa. Sinto-me preso e exausto nesse relacionamento.”

Depois de expressar seus sentimentos, ele contou que a esposa nem sempre agiu assim. Os primeiros anos de casamento tinham sido ótimos. Porém, o clima de desconfiança começou quando ela soube que seu pai havia traído sua mãe. O receio era que ele fizesse o mesmo. “Não sei mais o que fazer para que ela confie em mim. Minha esposa tem acesso às minhas senhas, ao meu celular e sabe que eu não faço nada além de trabalhar. Aliás, eu só continuo trabalhando por não haver mulheres na equipe. Caso contrário, já teria sido pressionado a pedir demissão. Estou angustiado, vivo estressado, não tenho mais vida social, deixei de frequentar até a igreja e, mesmo assim, ela consegue ter ciúmes de mim!”, ele relata.

INSISTIR NA DESCONFIANÇA SÓ VAI GERAR MAIS DESCONFIANÇA. PARA ENFRENTAR O CIÚME, É PRECISO FAZER O CONTRÁRIO: CONFIAR

São muitos os relacionamentos que sofrem com o efeito devastador do ciúme. Se há algo que destrói relacionamentos é a falta de confiança, pois é difícil viver com a sensação constante de insegurança e com as cobranças.

O ciúme pode ser motivado por diversas causas. Entre elas, ter sido vítima de traição ou ter traído. Além disso, ver alguém cometer esse tipo de falha na família também pode alimentar o sentimento de desconfiança. Há casos ainda de transtorno de personalidade paranoide, em que a pessoa acha que estão querendo prejudicá-la ou tentando enganá-la. Trata-se, portanto, de um processo mental delirante, imaginário, ligado a uma doença.

Normalmente, temos a tendência de lidar com a desconfiança com mais desconfiança. Para confiar, alguns precisam se certificar o tempo todo de que não há nenhuma mensagem ou ligação comprometedora no celular do cônjuge, ou entram em uma rotina de monitoramento constante. Há casos, por exemplo, em que não basta um áudio, exige-se uma chamada de vídeo para ter certeza de que o outro está falando a verdade.

Insistir na desconfiança só vai gerar mais desconfiança. Para enfrentar o ciúme, é preciso fazer o contrário: confiar. Se esse é o seu caso, mude, portanto, o foco. Ofereça oportunidades para o seu relacionamento crescer da maneira certa, fortalecendo a parceria que todo casamento precisa para se manter saudável. 

PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina da Família e Comunidade

(Artigo publicado na seção Em Família da Revista Adventista de junho/2024)

Última atualização em 17 de junho de 2024 por Márcio Tonetti.