O desafio de ajudar um familiar adoecido
Pablo Canalis
Era uma noite como outra qualquer. Rita estava jantando com seu esposo enquanto assistia ao telejornal. De repente, Carlos ficou quieto, com o olhar perdido, até que foi caindo devagar para o lado. Rapidamente, sua esposa o ajeitou na cadeira novamente, preocupada com o que estava acontecendo. Sem perder tempo, ligou para uma equipe de emergência e para o filho Roberto, que morava a 5 minutos de distância. Tentando controlar o desespero, aguardou a ajuda. Carlos foi levado ao hospital, onde descobriu ter sofrido um acidente vascular cerebral.
Depois de 20 dias de internação, eles voltaram para casa. Rita, agora, teria que lidar com o esposo dependente de medicamentos, com a metade direita do corpo paralisada e necessitando de ajuda para realizar qualquer tarefa. A família se mobilizou para apoiá-lo. Carlos era diabético, mas não cuidava muito da saúde; contudo, de maneira geral, vivia bem. Repentinamente, tudo mudou! Médicos e enfermeiros o visitavam semanalmente, e um fisioterapeuta o estava ajudando a fazer exercícios para recuperar a mobilidade da parte do corpo afetada.
Rita começou a ter dificuldades para dormir à noite, preocupada com o bem-estar do esposo. Além disso, estava exausta pelo esforço necessário para cuidar de alguém com aquela sequela neurológica. O filho de 34 anos não podia deixar de trabalhar para ajudar a mãe, e a filha morava em uma cidade muito distante. O que fazer? As coisas poderiam voltar a ser como antes?
PRECISAMOS COMPREENDER O NOVO CENÁRIO E FAZER O MELHOR QUE PUDERMOS COM AS FERRAMENTAS DISPONÍVEIS
Muitas vezes planejamos a vida sem pensar nos imprevistos. No entanto, em um piscar de olhos, tudo pode mudar. Infelizmente, muitas famílias se desestruturam diante de situações como essa, dando espaço para críticas e repreensões mútuas. “Está vendo, mãe! Se a senhora tivesse cuidado melhor da alimentação e dos remédios do pai, ele não estaria assim!” “A culpa é dele, que nunca quis se cuidar!” Em vez de se unirem para resolver o problema, afastam-se uns dos outros.
Gostaria de destacar algumas atitudes que podem ajudar a melhorar esse panorama e preservar a família:
1. Encare o presente. Olhar para o passado e culpar os outros ou a si mesmo não ajudará. Precisamos compreender o novo cenário e fazer o melhor que pudermos com as ferramentas disponíveis.
2. Busque ajuda especializada. Independentemente da doença que surja, precisamos reconhecer a importância dos especialistas. Opiniões de amigos podem ser bem-intencionadas, mas somente médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos têm o conhecimento e a responsabilidade para validar cada tratamento recomendado.
3. Cuide do cuidador. Doenças como essa desgastam muito quem cuida do paciente. É essencial que o cuidador também receba atenção e suporte, a fim de que esteja bem para cuidar do outro.
4. Tome decisões em família. Promova reuniões familiares frequentes para que as decisões tomadas considerem os conselhos e as orientações dos especialistas sobre o que precisa ser feito para melhorar a condição do paciente.
5. Não se esqueça de que Deus pode transformar essa situação em bênção e oportunidade de salvação.
Ao seguir esses passos e enfrentar o desafio com amor e união, a família pode encontrar forças para superar as adversidades, mantendo-se fortalecida durante o processo de cuidar de um familiar adoecido. Cada desafio pode ser uma oportunidade para crescer, resultando em uma base sólida de apoio mútuo, capaz de enfrentar qualquer obstáculo que a vida possa apresentar.
PABLO CANALIS é médico, pós-graduado em Psiquiatria e em Medicina da Família e Comunidade
(Artigo publicado na seção Em família da Revista Adventista de agosto/2023)
Última atualização em 23 de agosto de 2023 por Márcio Tonetti.