Saiba como usá-las adequadamente para edificar os relacionamentos
Elas podem ferir ou curar, animar ou desestimular, trazer vida ou matar. As palavras são poderosas e deixam marcas. Porém, sem elas é impossível se relacionar. Por isso, quanto mais habilidoso for seu uso, mais sucesso você terá nas relações familiares.
Um bom teste inicial é pensar no tipo de palavras que você tem usado em casa. As que você proferiu na última semana para sua família serviram para edificar ou destruir? O que não é dito também é importante. Às vezes, calamos quando deveríamos falar e falamos quando deveríamos calar. Há palavras que sempre são bem-vindas como “por favor”, “obrigado” e “me desculpe”. Mas mesmo essas podem ter a aridez da formalidade. Mais grave, contudo, são as palavras que funcionam como flechas, atingindo de maneira rápida e mortal aqueles que convivem conosco.
Quando os pais falam aos filhos, precisam ter muito cuidado. Não apenas porque podem esmagar a autoestima deles, mas também porque estão ensinando um padrão de comunicação do qual eles mesmos serão alvo no futuro. Tudo o que desacredita a pessoa tem um poder devastador. Expressões como “você não tem jeito”, “você não faz nada certo”, “você é burro”, “nada dá certo para você” e “por que não age como seu irmão?” são claramente danosas e nunca deveriam ser usadas.
Por outro lado, frases como “seja o melhor”, “foi bom, mas você poderia…”, “não fez nada mais que sua obrigação”, entre outras, podem também dar a sensação de um ideal que nunca é atingido e de uma incapacidade em “agradar”. Sempre que a crítica acontece gera uma sensação de inadequação. Quando ela é constante, a pessoa simplesmente acredita que há algo errado com ela. Temos pressa para criticar e demoramos para elogiar. É preciso fazer um balanço das palavras usadas ao longo do dia: quantas vezes você apontou os erros alheios e quantas vezes deixou de reconhecer algo feito pelo outro.
Entre os cônjuges isso também pode ocorrer. As mulheres em especial gostam de elogios, de ser notadas, de ouvir palavras românticas e receber encorajamento nas atividades diárias. Muitos maridos acreditam que, se estão casados, já há evidência suficiente de amor. Mas não é bem assim. Muitas mulheres vivem à míngua de afeto e são alvo fácil de um galanteador que tente uma investida. Por sua vez, os homens também precisam de reconhecimento e apreço. Desejam sentir que há gratidão por seu esforço no trabalho e que sua opinião é importante nas decisões da família. Porém, alguns só encontram palavras duras da esposa. Sentem-se realmente desanimados ao chegar em casa. Tudo isso cria um ciclo de mal-estar que não cessa e não muda. Pois, mesmo quando há algo para mudar, vale a máxima de que ninguém muda para melhor se sentindo mal.
Há filhos que falam coisas terríveis aos pais e aos irmãos. Mas toda palavra desrespeitosa precisa ser contida, não deve ter lugar no lar. Até porque, se fora de casa já existe tanta coisa para nos destruir, por que fazer isso com nossa família? Infelizmente, muitos apenas refletem aquilo que experimentaram na jornada da vida. Não foram amados, cuidados nem acolhidos, só foram julgados e condenados.
O fato é que as palavras que ouvimos têm relação direta com nossos sentimentos, sejam positivos ou negativos. Um estudo feito no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) pelos psicólogos Antônio da Silva e Geison Marinho revelou uma conexão direta entre a autoestima e as relações afetivas familiares. Segundo os pesquisadores, nossos sentimentos resultam da nossa interação com o contexto em que vivemos. Eles não têm geração espontânea. Ou seja, quem é valorizado sente-se competente. Logo, críticas e punições podem gerar até reações corporais adversas.
O que você escolhe? Qual repertório vai adotar ou abandonar? Não pense que você não tem parte nessa engrenagem. Eximir-se da responsabilidade de plantar a boa palavra vai gerar uma colheita de mágoas. Que tal escolher as melhores sementes? Só depende de você!
TALITA BORGES CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.