O caminho para o relacionamento conjugal feliz
Pablo Canalis
“Doutor, estou cansada!”, desabafou Joana, logo que entrou no consultório. “Tenho que fazer tudo em casa depois que volto do trabalho. Meu marido não me ajuda em nada!” Com uma feição reflexiva, ela continuou: “Na verdade, eu tinha percebido essa tendência no namoro, mas achei que ele fosse mudar depois que a gente se casasse. Quanta ingenuidade! A situação está ficando cada vez pior. Ele está desempregado há três meses, mas parece não se preocupar. Fica em casa o dia todo em frente ao computador, enquanto vou trabalhar. Por falar nisso, o ambiente na empresa está um caos. Neste mês, duas pessoas foram demitidas, e estou com medo de ser a próxima.”
Enquanto ela falava, eu ouvia seu relato com empatia. Depois de uma ligeira pausa, Joana disse: “Esses dias estava conversando com a irmã dele, e ela me falou que meu marido sempre foi assim. Minha sogra nunca deixou ele fazer nada porque é ‘homem’, e as tarefas domésticas devem ser feitas por mulheres. Como assim? Vivemos num contexto em que se não colaborarmos uns com os outros, nada poderá ser conquistado! Ainda bem que não temos filhos. Imagine eu tendo que trabalhar fora e ainda ser responsável sozinha pela casa e pela criança?”
O conceito de “equipe” é fundamental para fortalecer a relação e estreitar os laços
Machismo ou feminismo? Nenhum extremo leva o ser humano a olhar para o outro com amor e disposição de fazê-lo feliz. Tanto homens quanto mulheres que querem permanecer em um relacionamento precisam entender a importância do trabalho em equipe, da parceria, do esforço mútuo constante. Precisam manter os olhos no esforço e nas necessidades do outro. Mas o egoísmo e os preconceitos contribuem para que os conflitos apareçam.
A atitude autoritária não deve ter espaço em um relacionamento que pretende manter uma atmosfera de respeito, amor e crescimento. Isso não significa que temos que remover os limites. No entanto, o conceito de “equipe” é fundamental para fortalecer a relação e estreitar os laços.
Se eu estiver atento às necessidades do meu cônjuge e agir para supri-las, não apenas diminuirei a carga sobre ele, mas também acelerarei os processos das tarefas menos prazerosas e aumentarei o tempo para realizar as atividades agradáveis que gostaria de fazer como casal. Como resultado, haverá redução no nível de estresse, diminuição do atrito desnecessário e, finalmente, os momentos leves e agradáveis começarão a ocupar mais os nossos dias. Se o casal tiver filhos, eles entenderão, tanto por preceito quanto por exemplo, que as conquistas são obtidas com trabalho. Aprenderão a ser resilientes, tolerar as frustrações, cultivar a independência de maneira inteligente e nutrir o conceito correto do resultado do
esforço, seja por meio das coisas simples do dia a dia ou das situações mais importantes e desafiadoras.
Unir forças é um conceito fundamental para enfrentar uma vida repleta de egoísmo, ansiedade, tristeza e falta de afeição. Jesus disse que o amor de muitos se esfriaria (Mt 24:12). E o nosso? Não seria melhor fortalecer nosso relacionamento conjugal para ter uma vivência significativa?
PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina da Família e Comunidade
(Artigo publicado na seção “Em família” da Revista Adventista de agosto/2024)
Última atualização em 6 de setembro de 2024 por Márcio Tonetti.