Quando a raiva fala

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A importância do controle emocional na educação dos filhos

Pablo Canalis

Foto: Adobe Stock

Quinta-feira, 18 horas, em uma grande cidade do país. Cinco minutos depois de sair de casa, Rita, seu esposo, Ângelo, e a filha do casal, de quatro anos, começaram a ficar impacientes com o congestionamento no caminho em direção ao shopping center, onde planejavam comprar algumas roupas.

O esposo estava atrás de um caminhão carregado e queria ultrapassá-lo, pois a baixa velocidade do veículo o deixava nervoso. Contudo, no momento em que ligou a seta para efetuar a ultrapassagem, um carro vermelho que vinha atrás dele se antecipou, acelerando e impedindo-o de executar a manobra. Ângelo gritou de raiva e disse alguns impropérios, queixando-se da manobra do motorista: “Eu não acredito que ele fez isso. Ele viu que a seta estava ligada!”

Então, a filha, sentada na cadeirinha, levantou o braço esquerdo e, olhando em direção ao carro vermelho, decidiu repreender o motorista usando alguns palavrões. Imediatamente, os pais levaram um susto e ficaram envergonhados com a situação. Ouvir uma criança falar daquela maneira indicava que não era a primeira vez que ela ouvia aquelas palavras.

“Eu não acredito no que ouvi!”, exclamou a mãe, desesperada, olhando firmemente para o esposo. “Diga-me onde ela aprendeu isso? Agora, você vai ter que se virar para tirar essas palavras da mente dessa menina!” O esposo ficou sem palavras, envergonhado e sem saber o que fazer.

O controle do nosso temperamento é um desafio que enfrentamos constantemente. É fácil nos descontrolar; mas, muito difícil controlar nosso “monstro interior”. Existem situações que nos tornam mais vulneráveis e propensos a perder o controle, e o trânsito é uma delas. No entanto, também podemos nos exceder em outras situações, como em conversas sobre política, esportes e até religião.

Cultivar as qualidades positivas do caráter em uma criança requer muito mais esforço e oração, e leva mais tempo para frutificar

Normalmente, tendemos a defender nosso ponto de vista quase como se estivéssemos defendendo nossa honra, apresentando nossas opiniões de maneira agressiva e pouco reflexiva. As emoções acabam dominando o raciocínio, levando a atitudes impulsivas e incoerentes. Por que era tão importante sair detrás daquele caminhão? Por que tanta irritação com o movimento do outro carro? A expressão de raiva com aqueles palavrões resultou em algo produtivo?

Vivemos semeando ideias na mente dos nossos filhos, e essas sementes, muitas vezes, germinam mais rápido do que esperamos, especialmente quando se trata de influências negativas. Parece que cultivar as qualidades positivas do caráter em uma criança requer muito mais esforço e oração, e leva mais tempo para frutificar. Frequentemente, não percebemos que o bombardeio de influências ruins é maior do que as sementes boas que conseguimos compartilhar com nossos filhos. Isso faz com que o autocontrole seja tão necessário e, ao mesmo tempo, tão difícil de conquistar.

Evidentemente, lidamos com as influências que recebemos de nossos pais, que também enfrentaram a luta contra suas próprias tendências pecaminosas. Isso, porém, não serve como desculpa. Nosso objetivo deve ser o de melhorar constantemente. Pedir perdão aos filhos e aceitar que erramos é o primeiro passo. Embora possamos enfrentar muitas quedas, é fundamental levantar-se de cada uma delas e buscar sempre o aperfeiçoamento, mantendo os olhos direcionados ao Céu. 

PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina da Família e Comunidade

(Artigo publicado na seção “Em família” da Revista Adventista de setembro/2024)

Última atualização em 27 de setembro de 2024 por Márcio Tonetti.