Síndrome do ninho vazio

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A tensão entre o apego e a necessidade de independência

Pablo Canalis

Crédito da imagem: Adobe Stock

“Não consigo dormir sem ficar angustiada pensando em minha filha. Ela é minha companheira; somos muito unidas!”, afirma Laura ao telefone. “Meu esposo não me entende. Fala que devemos apoiá-la, que isso faz parte da vida. No entanto, desde que ela passou no vestibular, estou aflita, pensando: ‘Por que ela teve que escolher aquela universidade? São mais de 500 km de distância entre nós!’ Há alguns dias levamos a mudança dela. Ela está dividindo um apartamento com uma amiga do colégio. Ontem conversamos pelo telefone, e ela me disse que está muito feliz. Meu filho mais novo está em casa, mas também expressou o desejo de cursar uma universidade que é distante daqui uns 800 km. Ainda bem que faltam dois anos para ele se formar no ensino médio. Até lá, posso tentar fazê-lo mudar de ideia. Você me conhece há muitos anos e sabe que em nossa família somos muito apegados. Eu jamais pensaria em morar longe da minha mãe. Todos moramos no mesmo bairro. No entanto, parece que essa geração não se importa com os pais. Querem viajar e conhecer outros lugares. Isso me deixa muito triste. Realmente, não estou bem.”

A chamada “síndrome do ninho vazio” representa a dificuldade que muitos pais têm em compreender o fato de que os filhos crescem e, ao atingirem certa idade, buscam trilhar seu rumo acadêmico, profissional e afetivo. Em realidade, é preciso reconhecer que a vida de nossas crianças é uma progressão na qual os momentos de crescimento e a experiência de anos nos quais podemos tê-las em casa, ensinando, apoiando, cuidando e acompanhando passam, e agora elas decidem voar por conta própria.

Alguns pais desejam postergar esse momento, mas será que manter os filhos no “ninho” é saudável? Convivemos com uma geração que está muito mais confortável com as comodidades de casa, onde a mãe cozinha, lava, passa, organiza, e os filhos podem usufruir do tempo e do salário que recebem com outras atividades. É verdade que procurar independência muito cedo ou muito tarde é um problema, mas a independência é uma necessidade para o crescimento social, profissional, emocional, econômico e espiritual de qualquer ser humano. Como tudo na vida, precisamos entender o ponto certo para experimentar a independência, ou motivar as pessoas que amamos a experimentá-la.

PROCURAR INDEPENDÊNCIA MUITO CEDO OU MUITO TARDE É UM PROBLEMA, MAS A INDEPENDÊNCIA É UMA NECESSIDADE PARA O CRESCIMENTO INTEGRAL

Reconhecendo, portanto, que a busca pela independência é um caminho fundamental para o amadurecimento, gostaria de compartilhar alguns benefícios que ela proporciona.

Estimula o livre-arbítrio. Optar por decidir por si mesmo pode ser mais desafiador, mas aprender a enfrentar as consequências das escolhas é fundamental para o crescimento pessoal.

Ensina sobre a resolução de problemas. Enfrentar desafios sem depender de outros ensina a desenvolver habilidades para resolver problemas de maneira autônoma.

Incentiva o gerenciamento do tempo. A capacidade de administrar o tempo é essencial para lidar com qualquer desafio que surja em nossa vida.

Promove a criatividade. Buscar alternativas quando as primeiras tentativas falham estimula a criatividade e a busca por soluções inovadoras.

Ajuda-nos a decidir se vamos ser dependentes de Deus. Surpreendentemente, nossa independência leva-nos a refletir sobre nossa dependência do Senhor. Decidir as coisas por amor a Deus, obedecer-Lhe, permanecer Nele e aprender Dele garantem uma vida verdadeiramente abundante e feliz (Jo 10:10).

Se desejamos que nossos filhos sejam sal e luz por onde passarem, será necessário auxiliá-los no desenvolvimento da dependência de Deus, que conduz a uma independência responsável. Dessa forma, ao percorrerem seus caminhos, poderão refletir o amor e o caráter de Cristo às pessoas ao seu redor. 

PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina da Família e Comunidade

(Artigo publicado na seção Em família da Revista Adventista de fevereiro/2024)

Última atualização em 21 de março de 2024 por Márcio Tonetti.