Som do recomeço

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A música pode restaurar a paz quando a tensão está no ar

Pablo Canalis

Crédito: Adobe Stock

Naquela madrugada, o casal estava tão exausto que não percebeu a queda de energia no bairro. O celular de Paulo ficou sem bateria e desligou. O horário de acordar chegou, mas o alarme não tocou. Laura, confiando no costume, não havia programado o despertador. Afinal, o marido sempre havia se responsabilizado por isso. Resultado: nenhum dos dois acordou a tempo!

Felizmente, o relógio biológico não desliga. De repente, Laura despertou com aquela sensação incômoda de estar atrasada. Correu para olhar o celular, confirmou o que temia e, num salto, saiu da cama, chamando Paulo, que ainda tentava entender o que estava acontecendo.

A cena que se seguiu parecia tirada de um filme: correria, tensão, nervos à flor da pele. Laura foi acordar os filhos e ajudá-los a se vestirem. Paulo trocou de roupa às pressas, procurou algo rápido para eles comerem, pegou um pacote de bolachas e começou a organizar as mochilas no carro. O clima era de estresse.

Já no veículo, prestes a sair, o filho mais velho gritou: “Esperem! Esqueci uma tarefa no meu quarto!” Paulo precisou parar. O garoto correu até a casa, chave em mãos. O pai, impaciente, esperava. Assim que o filho retornou ao carro, ele esbravejou: “Ninguém esqueceu mais nada, não é?”

Silêncio. Então, a filha mais nova sussurrou: “Deixei minha agenda em cima do piano…” Foi a gota d’água para Paulo: “Eu não acredito, Maria Antônia! Corre, menina!”

Quando usada com sabedoria, a música se torna uma ferramenta valiosa para o bem-estar emocional no lar

O ambiente no carro ficou pesado. Todos estavam calados, imóveis. Então, Laura se lembrou da história de Davi que, ao tocar sua harpa, conseguiu acalmar o rei Saul. Com sabedoria, ela decidiu colocar alguns hinos para tocar no carro. Escolheu um em especial, que poderia trazer calma ao coração da família, especialmente ao do marido.

Pouco a pouco, a canção foi amenizando os ânimos. Quando Laura sentiu que já podia falar, virou-se para Paulo e disse, com serenidade: “Vamos começar de novo? Que nosso dia não seja estragado pelo que acabou de acontecer.” Paulo silenciou por alguns segundos, respirou fundo e decidiu aceitar o convite da esposa.

Essa cena é mais comum do que se imagina. Quem nunca enfrentou uma sucessão de imprevistos que parece não ter fim? Infelizmente, isso tende a ser negativo, mas é possível interrompê-lo. Como? Pode ser necessário se afastar da situação por alguns minutos, buscar silêncio, refletir e, então, recomeçar. A música é uma grande aliada nesse processo. Seja cantando, ouvindo, interpretando ou até apenas pensando em uma melodia, ela tem o poder de acalmar, redirecionar e restaurar.

A música tem o poder de unir a família. Ela deixa marcas afetivas, constrói memórias, aproxima corações. Quando usada com sabedoria, torna-se uma ferramenta valiosa para o bem-estar emocional no lar. Mas também pode afastar e gerar tensão, caso não seja bem utilizada. Por isso, reflita: quais músicas você está ouvindo em casa? Quais emoções elas provocam? Elas têm aproximado os membros da família? Têm favorecido a comunhão com Deus?

A música interage com nosso comportamento de formas complexas e profundas. Entenda seu poder. Não a subestime. Use-a como ferramenta de adoração, reconexão e equilíbrio. 

PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina da Família e Comunidade

(Artigo publicado originalmente na Revista Adventista de junho/2025)

Última atualização em 23 de junho de 2025 por Márcio Tonetti.