Quando um tempo de festa pode se transformar em um período de angústia
Pablo Canalis
Isabela entrou em casa depois de ir ao mercado, em que fizera as compras da semana. Viu que Marcelo, seu esposo, estava sentado no sofá da sala, com a televisão ligada, mas mexendo no celular.
“Querido, você me ajuda com as coisas do mercado? O porta-malas está cheio”, pediu, enquanto entrava com algumas sacolas nas mãos. O esposo olhou para ela e, resmungando, levantou-se para ajudar. Então, gritou chamando os filhos:
“Marcos, Miguel! Vamos ajudar a mamãe a descarregar as compras do carro! Rápido!”
Enquanto descarregavam as sacolas, Isabela comentou com Marcelo:
“Minha mãe me ligou para saber o que vamos fazer no Natal.”
Nesse momento, Marcos ouviu e exclamou:
“Não quero ir à casa da vovó!”
Isabela estranhou aquela afirmação do filho e perguntou o motivo.
“Ah, mãe… Antes eu gostava de ir, mas, nas últimas duas vezes, a gente não tinha nada para fazer e ainda teve briga entre você e a tia.”
Os pais se olharam e ficaram em silêncio. O que o garoto falou era verdade.
“Olha, filho, isso é algo que vamos conversar e depois falamos com vocês”, respondeu Isabela.
Marcos respirou fundo, olhou para o irmão, que também parecia insatisfeito com a ideia de passar o Natal na casa da avó, e foi para o quarto.
Isabela e Marcelo terminaram de guardar os alimentos e se sentaram para conversar. Era a primeira vez que os meninos expressavam esse tipo de insatisfação, o que deixou o casal preocupado.
“De fato, a última briga com a minha irmã foi pesada, mas achei que os meninos não estivessem sendo afetados. Será que eu falo com ela antes?”, perguntou Isabela.
“Bem, da última vez, vocês nem se falaram. Você ficou remoendo a raiva sozinha. Sua irmã, depois de um tempo, resolveu fazer de conta que nada havia acontecido e voltou a falar com você”, respondeu Marcelo.
“Marcos tem razão. Eu também quero passar o Natal tranquilamente. Será que minha mãe vai se ofender se não formos à casa dela?”, completou Isabela, preocupada.
É interessante como as festas familiares podem ser momentos agradáveis e esperados ao longo do ano ou, ao contrário, transformar-se em ocasiões de briga, desconforto e guerra de egos. Nessas situações, conflitos mal resolvidos podem voltar à tona, gerar discussões infrutíferas e, novamente, ser empurrados para debaixo do tapete, como se o tempo fosse capaz de solucioná-los.
O que aconteceria se, não somente nessas festas, olhássemos para cada momento da vida como uma oportunidade única para respeitar a capacidade de escolha e reflexão individual? Chorando com os que choram, rindo com os que levam a vida com mais leveza, filosofando com os mais experientes e brincando com a imaginação das crianças que estão aprendendo a desbravar a vida?
Que o período de festas seja repleto de equilíbrio emocional, financeiro, espiritual e nutricional. Que os sonhos para o próximo ano sejam alicerçados em Deus e que não lhe falte esperança de que, em breve, estaremos em Seu Reino para sempre!
PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina da Família e Comunidade
(Artigo publicado na seção “Em Família” da Revista Adventista de dezembro/2024)
Última atualização em 26 de dezembro de 2024 por Márcio Tonetti.