Vitória virtual, derrota real

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O que fazer para evitar transtornos relacionados a jogos eletrônicos

Pablo Canalis

Foto: Adobe Stock

Maria entrou no consultório muito preocupada com o filho de 14 anos. Algumas mudanças de humor e nos hábitos de higiene, alimentação, sociabilização e estudo acenderam o sinal de alerta. “Desde que o tio deu esse computador de presente para ele, doutor, o menino fica no quarto o dia todo jogando. Não quer fazer mais nada! Não come direito nem tem amigos. Na realidade, fala que tem os amigos que jogam com ele esses jogos na internet. Meu filho não quer mais jogar bola, e ir para a escola tem sido um problema, porque fica a madrugada toda jogando e, depois, não tem quem o levante da cama. Outro dia ficamos sem internet em casa e foi um transtorno! Nunca o vi tão irritado. E o pai dele não colabora. Ele diz simplesmente que é só uma fase, mas estou muito preocupada. Trouxe meu filho para uma consulta para ver o que pode ser feito. Ele está muito estranho, e eu estou agoniada.”

Você conhece alguém que está enfrentando essa dificuldade? Esse assunto está sendo estudado com atenção desde a década de 1980, a ponto de ser considerado, mais recentemente, uma doença. Trata-se de um fenômeno global, sério, mais frequente em crianças e adolescentes, mas que pode atingir todas as idades.

O estímulo de dopamina provocado pelos jogos eletrônicos é equivalente a outros que originam quadros de dependência. Uma vez que os jogos estão sendo feitos para criar realidades cada vez mais extraordinárias no mundo virtual, muitas pessoas acabam perdendo o gosto pelo mundo real. O desequilíbrio provocado por esse vício leva a pessoa a ficar impulsiva, descuidar da saúde, privar-se do sono, ter má alimentação, ignorar responsabilidades na escola ou no trabalho, desenvolver baixa autoestima, tornar-se agressiva e sofrer com a falta de memória. O viciado prioriza o jogo e começa a enganar os membros da família ou o terapeuta quando é questionado sobre o tempo que gasta jogando. O quadro pode se tornar ainda mais complexo, quando a adicção se relaciona com outras doenças como transtorno de ansiedade e quadros depressivos. Por isso, quando a situação se torna suspeita, é importante procurar a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra.

Alguns procedimentos podem ser úteis para evitar a doença:

• Praticar atividades ao ar livre, envolvendo familiares e amigos;

• Reduzir o tempo de contato com os jogos;

• Motivar a prática de atividade física regular;

• Incentivar passatempos saudáveis, como ler, tocar algum instrumento musical, pintar, entre outros;

• Encorajar a boa comunicação familiar.

Vivemos em um tempo no qual é preciso reduzir a velocidade cerebral. Parece que tudo colabora para que tenhamos menos paciência, esforço, interação real e capacidade de tolerância à frustração. Sejamos cuidadosos com nosso cérebro, para que ele desempenhe suas funções de maneira saudável.

Se você enfrenta lutas referentes ao transtorno de jogos eletrônicos, ou conhece alguém que esteja lidando com esse problema, procure orientação profissional. Não tenha medo do tratamento. O Senhor deseja que nada neste mundo nos escravize. Ele nos chama para que encontremos a verdadeira liberdade em Cristo. Só assim experimentaremos vida plena.

PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina da Família e Comunidade

(Artigo publicado na seção Em família da Revista Adventista de junho/2023)

Última atualização em 19 de julho de 2023 por Márcio Tonetti.