Fé sem igreja

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Autor de tese sobre os “sem religião” e os “desigrejados” analisa o perfil desses grupos e como evangelizá-los

Eduardo Teixeira

Foto: Arquivo pessoal

O número de pessoas que se declaram “sem religião” e “desigrejadas” tem crescido ao redor do mundo e serviu de tema para a tese de doutorado do pastor Jolivê Chaves no PhD em Missão Mundial pela Universidade Andrews, nos Estados Unidos (2021). Em sua pesquisa, ele comparou o perfil dos integrantes desses grupos no Brasil e nos Estados Unidos. Nesta entrevista, o diretor do seminário de Teologia da Faculdade Adventista da Bahia (Fadba) explica que os termos “sem religião” e “desigrejados” incluem respectivamente ateus, agnósticos e aqueles que se dizem espirituais mas não são filiados a instituições religiosas. Além de falar sobre as diferentes faces desse fenômeno, ele defende a necessidade de uma aproximação amigável daqueles que, apesar de viver experiências de fé, não reconhecem a relevância das organizações eclesiais.

O que tem caracterizado o fenômeno dos “sem religião” e dos “desigrejados” no Brasil?

Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o crescimento numérico desses grupos é superior ao crescimento proporcional de católicos e protestantes. Existe um pluralismo religioso e até mesmo um “mercado da fé” oferecendo inúmeros produtos. Assim, cada vez mais a experiência religiosa leva muitos a transitar por diversas denominações, desde as tradicionais até as contemporâneas. O compromisso religioso e as normas bíblicas são deixados de lado em troca de benefícios. Com isso, há um crescimento do crer sem pertencer.

Em seu estudo, foi possível identificar os principais aspectos que têm influenciado o crescimento desses grupos?

Sem dúvida, as mudanças sociais e culturais voltadas para um maior relativismo, individualismo e sentimentalismo são marcos dessa mudança. A religiosidade agora é existencialista, subjetiva, embasada em gostos pessoais e não mais nos preceitos bíblicos. Consequentemente, há um olhar de desconfiança em torno de líderes e organizações religiosas.

A comparação feita em sua pesquisa entre americanos e brasileiros secularizados demonstrou alguma semelhança entre esses grupos?

Em ambos os países, a população jovem (18-29 anos) forma a maior parcela do grupo que busca espiritualidade e não religiosidade vinculada a uma verdade bíblica absoluta e a organizações religiosas. Outro ponto em comum é que tanto os “sem religião” quanto os “desigrejados” possuem um alto índice de união consensual, enquanto os registros de casamentos civis e religiosos caem vertiginosamente. Se compararmos as últimas pesquisas do Datafolha e do Pew Research Center, veremos que os americanos têm um índice de secularismo mais alto, com grandes taxas de ateus e agnósticos. Porém, o plurarismo religioso é maior no Brasil e as pessoas acabam tendo mais opções de espiritualidade. Isso eleva o número de “desigrejados” e, portanto, os brasileiros estão mais propensos a continuar acreditando no transcendente e a participar de variadas denominações até perder o vínculo com as instituições religiosas.

De que maneira um cristão pode iniciar um relacionamento amigável com aqueles que, na maioria da vezes, não querem se filiar a uma igreja?

É preciso mostrar a manifestação do poder de Deus na vida das pessoas. Também não podemos deixar de apresentar Jesus como a perfeita e mais completa revelação do Senhor, lembrando de Seu sacrifício. Nas casas ou em pequenos grupos, o estudo funcional da Bíblia também precisa ser realizado. Aliados a isso, os relacionamentos e os atendimentos à comunidade são essenciais no cuidado com os pobres, necessitados, com o meio ambiente e para alcançar esse grupo. Com tantas questões, diferentes métodos devem ser usados, incluindo a tecnologia, para o testemunho de uma mensagem cristã autêntica.

(Entrevista publicada na Revista Adventista de maio/2022)

Última atualização em 24 de maio de 2023 por Márcio Tonetti.