Trabalho de voluntários adventistas na cidade de São Paulo torna o evangelho acessível para os surdos
Você, em algum momento da vida precisou se comunicar com uma pessoa surda? Se a resposta for positiva, qual foi a sua reação e como aconteceu a troca de informação? Apesar de não representar um número expressivo se comparado ao número de habitantes do país, os surdos – pessoas que já nasceram sem ou perderam 100% da audição – correspondem a 5% da população brasileira, de acordo com o IBGE.
Chega a ser curioso e impressiona a forma como as informações são transmitidas, por meio de gestos, sinais acompanhados ou não de som. Um dos meios mais eficazes de comunicação utilizados pelos surdos é a Língua Brasileira de Sinais (Libras). No entanto, para estabelecer uma conversa, expressar sentimentos e ideias é intrínseco o uso da linguagem corporal e o uso enfático das expressões faciais.
Mesmo sendo cidadãos comuns, muitos surdos enfrentam a discriminação. Contudo, na luta contra o preconceito, iniciativas altruístas e conscientes em favor de uma sociedade melhor estão sendo colocadas em prática. Grupos de pessoas interessadas e dispostas a ajudar têm dedicado tempo e desenvolvido projetos de inclusão e responsabilidade social.
Inclusão
A fim de integrar os surdos na sociedade, foi criado na zona sul de São Paulo, o Ministério dos Surdos que, há mais de 15 anos, realiza um trabalho de inclusão, sociabilização e educação cristã. ”A gente tem um projeto de integração. O objetivo é que os surdos sintam-se acolhidos e atuantes no meio em que vivem, inclusive junto aos ouvintes”, declara Jackeline Mennon Fernandes, assessora do ministério dos surdos no Estado de São Paulo.Os encontros evangelísticos são realizados regularmente aos sábados, no templo do Unasp, campus São Paulo. Além da programação religiosa, existe uma classe exclusiva, onde os surdos estudam e explanam de maneira informal assuntos e valores ligados à Bíblia e, com a participação de adeptos, compartilham experiências.
O lugar recebe surdos de diversos lugares de São Paulo e regiões do país. Thiago Gomes dos Santos, por exemplo, mora na cidade de Barueri, na capital paulista. Após ser acometido pela meningite, ele perdeu audição. No entanto, a limitação não o fez desistir de apresentar a mensagem de esperança a outras pessoas.Há 14 anos, Santos realiza um trabalho com os surdos na Igreja Adventista do Sétimo Dia de Barueri. “Tenho como missão ajudar outras pessoas que se encontram na mesma situação que eu. Fico feliz em acompanhar o crescimento, desenvolvimento e o interesse da igreja em apoiar os surdos”, afirma.
Hoje, ele trabalha em um restaurante. “Antes a nossa comunicação não era tão fácil. Aos poucos fui ensinando ao meu supervisor a Libras e hoje nos entendemos”, declara.
Projeto educativo
Para Marco Arriens, pastor e intérprete internacional, “um dos maiores desafios no universo surdo, além da falta de intérpretes, é a escassez de materiais educativos nesse segmento”.
Foi em meio a essa realidade, que o intérprete Elias Fernandes pensou em produzir um livro com conteúdo cristão que contribuísse para o aprendizado dos surdos e o incentivo à população ouvinte em ter acesso a Libras de forma lúdica. “Em uma oficina de interpretação, percebemos que não havia literatura para surdos e principalmente para as crianças. Então surgiu a ideia”, afirma Jackeline, esposa de Fernandes.
“Não tínhamos nada no contexto cristão e evangélico brasileiro para crianças surdas, a não ser estórias de bruxas, fadas e contos que não levam a criança a lugar algum”, assegura Arriens.
Passo a passo
Diversas pessoas colaboraram na produção do material que passou por várias etapas. Após estruturar e redigir o conteúdo, o próximo passo foi reescrevê-lo em Libras. Foi necessário seguir minuciosamente a estrutura gramatical e linguística dos sinais. Esse trabalho teve o apoio de um surdo, Eduardo Rocha, amigo do casal (Elias e Jackeline) que ficou responsável pela revisão em Libras.
A elaboração do projeto gráfico teve a participação do desenhista Sidney Santos. “Foi bem trabalhoso”, reconhece. “Cada sinal foi fotografado e, em seguida, tive que desenhar tudo em detalhes”, explica. “Mas a proposta de aliar a imagem da criação com a Libras foi o que mais me entusiasmou porque me fez pensar como criança e como surdo. Isso foi um grande desafio para desenvolver todo o projeto”, conclui.
A contribuição financeira de voluntários foi fundamental para que todo o projeto pudesse ser concretizado. “Em princípio tínhamos um sonho, mas financeiramente ficaria inviável conseguirmos realizá-lo sozinhos. Isso só foi possível com o patrocínio de pessoas e instituições”, confirma a assessora do ministério.
Um sonho realizado
Com o apoio da família e dos amigos, Fernandes lançou para a comunidade surda e escolas que trabalham com inclusão um livro religioso que conta a história da criação do mundo. “Há muito tempo pensamos em fazer algo assim. Estamos vivendo a realização de um sonho. A proposta não foi somente produzir, mas deixar à disposição essa literatura para que todos tivessem acesso”, comenta o intérprete.
Hoje, o ministério dos surdos conta com 7 intérpretes, sendo 2 aspirantes, na região Sul de São Paulo. Para saber mais sobre o trabalho realizado por esse grupo, ter acesso à obra ou receber orientações sobre acessibilidade de emprego, basta acessar o site: www.surdosadventistas.com.br ou entrar em contato com Jackeline pelo telefone (11) 99658-4021. [Reportagem e fotos: Danúbia França]
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.