Reconciliação histórica marca trajetória da Igreja Adventista na Hungria

3 minutos de leitura
Após 40 anos de tentativas, assinatura de documento deve contribuir para reaproximar grupo de dissidentes da igreja no país
Foto: Divisão Trans-Europeia
Líderes da organização adventista na Hungria assinam documento que deve favorecer a reconciliação de grupo dissidente com a igreja. Foto: Divisão Trans-Europeia
Um acordo assinado no dia 23 de abril na Hungria deve representar um importante passo na reconciliação de um grupo de dissidentes com a Igreja Adventista no país. A divisão histórica na igreja húngara aconteceu em 1975, em meio a um protesto de jovens pastores e outros membros sobre a colaboração dos líderes da igreja local com o Council of Free Churches (Conselho de Igrejas Livres), um organismo formado para representar os interesses comuns das pequenas denominações protestantes que mais tarde se tornaria uma ferramenta do Estado comunista.

Ócsai Tamás, presidente da igreja na Hungria, e János Cserbik, líder do KERAK, como é conhecido o grupo dissidente, assinaram o documento intitulado “Declaração conjunta quanto à resolução do passado e o estabelecimento de um futuro comum”.

Benjamin Schoun, vice-presidente da Igreja Adventista em nível mundial e um dos principais responsáveis pela reaproximação, comemorou o fato de que “40 anos de ruptura estão chegando ao fim para a maioria das pessoas”.

A Igreja Adventista na Hungria tem 4.629 membros, que congregam em 104 igrejas, enquanto o KERAK tem entre 1.500 e 1.800 seguidores. Os líderes da igreja informaram que 600 desses integrantes devem retornar em breve para a Igreja Adventista.

Longa estrada de reconciliação

Para chegar ao acordo, a Igreja Adventista reconheceu alguns equívocos na remoção do grupo dissidente, composto por 518 pessoas, em 1975.

“Depois de muita turbulência, que abalou a igreja, o grupo foi desassociado, principalmente sem uma razão bíblica válida”, expressou em comunicado a Divisão Trans-Européia da Igreja Adventista, da qual a Hungria faz parte.

Na ocasião, os membros removidos organizaram-se como uma igreja clandestina no que era, à época, um país do bloco soviético. Mais tarde, o grupo surgiu como a denominação oficial KERAK, ou Comunidade Cristã Adventista.

Ao longo dos anos, o movimento dissidente começou a se afastar da cultura, da espiritualidade e da estrutura organizacional da Igreja Adventista, um processo que foi acelerado após o colapso do regime comunista em 1989.

Durante as quatro décadas, líderes adventistas de todos os níveis hierárquicos procuraram reunir a igreja húngara. Mediante tais esforços, alguns pastores e até mesmo congregações voltaram para a Igreja Adventista.

Entre 1989 e 1995, a liderança adventista chegou a manifestar quatro pedidos de desculpa, mas alguns membros do grupo KERAK não estavam prontos para aceitá-los.

Em 2011, no entanto, com uma liderança renovada, o KERAK decidiu iniciar uma nova etapa no diálogo com a Igreja Adventista. Ao ouvir que o grupo poderia estar interessado em voltar, o presidente mundial da organização adventista, pastor Ted Wilson, tomou providências para que Benjamin Schoun e o assistente da presidência da Divisão Trans-Europeia, Raafat Kamal, visitassem a igreja na Hungria.

“A primeira reunião foi em grande parte um evento de escuta e de averiguação”, disse Schoun.

Benjamin Schoun viajou para a Hungria várias vezes com Kamal, que agora é o presidente da Divisão Trans-Europeia, bem como com o ex-presidente da mesma sede, Bertil Wiklander.

“Eu me desculpei onde a igreja cometeu erros, e nós tivemos longas sessões de perguntas e respostas com o povo KERAK”, disse Schoun. “A confiança começou a ser construída. Eu procurava estabelecer uma relação entre os líderes de ambos os lados”, acrescentou.

Ponto de virada

O acordo de 23 de abril sinaliza um ponto de virada significativa na vida da igreja húngara, segundo acreditam os líderes da denominação no país, pois ambos os lados se comprometem a construir um futuro juntos, a fim de cumprir a missão confiada por Deus.

Contudo, eles observam que ainda existem muitos desafios para a construção de uma forte unidade espiritual e emocional depois de 40 anos de incompreensão e de inimizade.

“Mas nós temos uma esperança, que Deus, que ‘em Cristo estava reconciliando o mundo consigo mesmo, não lhes imputando os seus pecados’, vai liderar este processo, como vimos Ele trabalhar até agora “, expressou o comunicado emitido pela organização, citando 2Coríntios 5:19.

Para o presidente da Divisão Trans-Europeia, Raafat Kamal, há grandes esperanças para a igreja na Hungria. “Nos últimos dois anos, testemunhei em primeira mão genuínas expressões de reconciliação envolvendo membros e líderes. Cristo está vindo em breve, e Ele está unindo nossos crentes adventistas na Hungria para que tenham um só pensamento e estejam focados na missão de ser sal e luz”, afirmou. [Equipe RA, da redação / Com informações de Andrew McChesney, da Adventist Review]

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.