O que fazer quando os pais idosos resistem a mudanças necessárias
Pablo Canalis
Os irmãos iniciaram a conversa cheios de preocupação na sala de espera do hospital. A mãe deles havia escorregado nas escadas de casa e fraturado o fêmur. Ela estava prestes a ser encaminhada para o centro cirúrgico, e eles não tinham ideia do que fariam quando a mãe retornasse ao lar. Havia mais de um ano que vinham insistindo com ela para que mudasse de residência, destacando a necessidade de uma casa térrea, menor e mais próxima de onde eles viviam. Entretanto, a resposta da mãe era sempre a mesma: “Gosto da minha casa. Não compreendo porque desejam me levar daqui!” Contudo, a situação agravou-se dessa vez, obrigando-os a discutir o que estaria por vir.
Um ditado popular afirma que uma mãe cuida de dez filhos, mas dez filhos não cuidam de uma mãe. Esse provérbio reflete diversas questões que podem modificar ou influenciar a estrutura familiar.
Em primeiro lugar, as mudanças são críticas. Requerem sacrifícios aos quais nem sempre estamos dispostos. O apego emocional é o elemento mais difícil de superar.
Além disso, com o avanço da idade, nossas respostas físicas e mentais mudam. Lidar com o processo de envelhecimento é difícil, pois, frequentemente o corpo envelhece antes da mente, e as pessoas enfrentam dificuldades para aceitar as novas exigências.
Outro ponto é que criamos ambientes que podemos controlar. Essa impressão de controle traz uma aparente sensação de segurança, e as mudanças, por sua vez, parecem tirar esse controle de nossas mãos.
Para muitos pais, ainda é difícil reconhecer a capacidade dos filhos em tomar boas decisões e confiar em seus planos. Muitas vezes, acreditam que, devido à experiência de vida, deveriam sempre ver suas opiniões acatadas.
E finalmente, famílias numerosas frequentemente manifestam conflitos de interesses, o que leva os pais a se sentirem desconfiados em relação a seguir as orientações dos filhos.
Podemos listar diversos outros fatores, no entanto, gostaria de compartilhar algumas dicas para lidar de forma mais efetiva com esse tipo de situação dentro da família.
1. Para realizar mudanças bemsucedidas, são necessários diálogo, coerência e trabalho em equipe. Isso demonstra que todos compreendem a necessidade, os desafios e benefícios envolvidos no processo.
2. Aceitar a situação e buscar a melhoria do cenário de vida é mais vantajoso do que negar o que está ocorrendo.
3. Amor, paciência, bom senso, respeito e valorização precisam ser evidentes tanto para os filhos quanto para os pais.
4. Incluir os pais nas decisões é fundamental para que o medo seja reduzido. Muitas vezes, será necessário que eles participem na determinação dos pequenos detalhes, proporcionando-lhes maior tranquilidade ao perceberem que estão sendo ouvidos.
5. Em algum momento os filhos precisarão tomar decisões em nome dos pais, seja devido à gravidade da situação ou à incapacidade dos idosos de fazê-lo devido a questões emocionais ou cognitivas. Por esse motivo, é crucial que a comunicação entre os filhos seja transparente.
Mudanças são desafiadoras, mas ao superá-las, crescemos e nos fortalecemos. Passamos a cuidar melhor dos detalhes, aprendemos a desapegar de coisas que nos machucaram e encaramos o futuro com a consciência de que, em breve, estaremos ao lado do nosso Criador, Redentor e Salvador para sempre.
PABLO CANALIS é médico, pós-graduado em Psiquiatria e Medicina da Família e Comunidade
(Artigo publicado na seção Em família da Revista Adventista de setembro/2023)
Última atualização em 2 de outubro de 2023 por Márcio Tonetti.