Temporada de solidão

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Embora todos precisem de momentos a sós, o ser humano foi feito para se relacionar

Torben Bergland

Foto: Adobe Stock

A época das festas de fim de ano traz consigo as reuniões de família e amigos. No entanto, para muitas pessoas é também um período marcado por grandes dificuldades. Alguns se encontram longe de casa e não podem viajar, ou são reféns de circunstâncias que não permitem esses reencontros. Outros, mesmo estando com seus queridos, podem se sentir sozinhos. O que fazer quando o sentimento de solidão parece estar além do nosso controle?

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que a solidão indica que uma pessoa não está se relacionando com os outros tanto quanto poderia ou gostaria. A solidão é um sintoma de desconexão. E a desconexão prolongada não faz bem para ninguém. Ainda assim, a solidão é algo que a maioria das pessoas sente em algum período da vida. É o lado negativo de ser um indivíduo independente.

Mas devemos entender um fato muito importante: solidão e solitude não são a mesma coisa. Pode-se certamente sentir-se só quando se está sozinho, mas também podemos nos sentir só entre as pessoas, inclusive entre amigos e familiares. Solidão é o sentimento que a pessoa tem quando sua necessidade de conexão não é satisfeita. E a sensação de desconexão é realmente dolorosa.

É importante, sim, separar um tempo para ficar sozinho sem se sentir só – para passar algumas horas ou alguns dias sem desejar desesperadamente por uma conexão. Na vida haverá momentos e circunstâncias em que teremos que estar longe das pessoas mais importantes para nós. Mas, se esses momentos forem prolongados ou involuntários, é natural que a solidão se instale.

A solidão também é uma experiência subjetiva. Se uma pessoa se sente sozinha, então esse sentimento é verdadeiro. Não importa o que os outros pensem ou falem sobre a situação. E, para muitos, o pior tipo de solidão pode ser a desconexão emocional, o sentimento de que os outros não veem, reconhecem, compreendem ou valorizam o que está dentro de você.

O QUE DIZ A BÍBLIA?

Será que Jesus Se importa com nossos momentos de solidão? Sem dúvida. Jesus sabe o que é solidão. Ele compreende nossos sentimentos e tem compaixão de nós. Pendurado na cruz, entre o céu e a terra, esperando a morte e abandonado pela maioria de seus amigos e familiares, Ele clamou a Deus: “Por que Me desamparaste?” (Mt 27:46). Mas nós sabemos que Ele não estava sozinho.

Ao redor da cruz havia soldados e espectadores, porém eles não estavam lá para consolar a Cristo e nem se comunicar com Ele. Ao contrário, eles O ridicularizavam e O hostilizavam. Mesmo tendo alguns dos que Ele amava ali ao redor na cruz, Jesus ainda Se sentia solitário. Mas Ele perseverou. E no fim Cristo venceu a morte e também a solidão. Ele vivenciou uma solidão extrema. Portanto, sabe como é sentir-Se sozinho e sofre com cada pessoa solitária. Mesmo que talvez não sintamos Sua presença, devemos nos lembrar de que “nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8:38, 39).

Não deixe a solidão paralisá-lo, mas permita que ela o impulsione à ação

Quando em dor e sofrimento, vá a Jesus e ore as palavras do Rei Davi: “Volta-Te para mim e tem compaixão, porque estou sozinho e aflito. Alivia-me as tribulações do coração; tira-me das minhas angústias” (Sl 25:16, 17).

PRÓXIMOS PASSOS

Quando a solidão chegar, leve-a a sério. Reconheça seus sentimentos e procure pessoas que possam respeitar esses sentimentos e cuidar deles.

Admita o problema. Não é vergonhoso se sentir solitário. Isso não faz da pessoa um fracassado. Que o sentimento de solidão seja um ­estímulo para pensar e agir de maneira apropriada!

Considere as causas. De onde a solidão está vindo? Estão faltando pessoas para se relacionar ou está sendo difícil se conectar emocionalmente com elas? Quais os medos e obstáculos que impedem a conexão com outros? Estamos ­procurando nos relacionar com o tipo certo de pessoas ou seja, aquelas que podem ver e apreciar quem somos e o que está dentro de nós?

Aceite o que não pode ser mudado. A vida é cheia de mudanças e transições, e seguir em frente implica deixar algo para trás. Sair de casa, de perto da família, dos amigos e dos ex-colegas de classe pode criar sentimentos temporários de solidão. Mas aprecie as novas oportunidades de relacionamento que existem por aí.

Mude o que pode ser mudado. É importante ter pelo menos uma pessoa na vida com a qual possa se abrir. Busque a verdadeira conexão, não a popularidade ou a atenção. Envolva-se com outras pessoas em algo em que esteja interessado, ou voluntarie-se para alguma causa na qual acredita.

Coma com outras pessoas. Precisamos comer juntos. Convide alguém para uma refeição em sua casa ou para comer fora. Muitas vezes, é nesses momentos que os relacionamentos são formados e as conexões, construídas.

Considere a possibilidade de ter um animal de estimação. Cuidar de algo que não seja você mesmo – por exemplo, alimentando seu cãozinho e passeando com ele, ou acariciando seu bichano – pode ser uma ótima solução. Entretanto, tenha em mente que a aquisição de um animal de estimação é um compromisso de longo prazo e envolve muita responsabilidade.

Procure ajuda profissional. Se você não sabe o que fazer para melhorar a qualidade e a quantidade de relacionamentos significativos, procure ajuda profissional. É extremamente importante conversar com um médico, conselheiro, terapeuta, psicólogo ou psiquiatra para avaliar possíveis problemas de depressão.

CONFIANÇA

Mesmo nas piores experiências da vida, podemos confiar que Deus trabalhará em nosso favor para que algo de bom aconteça. Não deixe a solidão paralisá-lo, mas permita que ela o impulsione à ação. A experiência da solidão pode ­impulsioná-lo a buscar um relacionamento mais profundo com Deus – uma verdadeira experiência vivida em conexão com Ele. 

TORBEN BERGLAND é psiquiatra e diretor associado do Ministério de Saúde na Associação Geral

(Artigo publicado na edição de dezembro/2022 da Revista Adventista)

Última atualização em 9 de janeiro de 2023 por Márcio Tonetti.