Fórum da SBB reforça necessidade de voluntários para a tradução da Bíblia
“Se Deus me ama, por que Ele não fala a minha língua?” A frase de William Townsend, missionário e linguista americano do século 20, reflete um desafio de sua era que continua monumental: traduzir a Bíblia para milhares de línguas. Das cerca de 7 mil línguas faladas no mundo, apenas 2 mil têm algum versículo bíblico traduzido e somente 554 têm a Bíblia completa, de acordo com o pastor José Carlos de Alcântara, da Associação Linguística Evangélica Missionária (Alem) e que atua há 28 anos entre indígenas brasileiros. Ao apresentar os dados no 12º Fórum de Ciências Bíblicas, promovido pela Sociedade Bíblica do Brasil, Alcântara fez apelos por voluntários que se disponham a traduzir a Bíblia para línguas minoritárias.
Pode-se falar nas mais de 1,4 mil línguas das ilhas do Pacífico, dentre as quais 400 são faladas apenas na Indonésia. Na Oceania são 403 línguas carentes de tradução. Na África há 759. Mesmo na Europa, existe uma demanda de tradução para 43 línguas, que se tornou ainda mais urgente devido ao fluxo de refugiados provindos das regiões mais inacessíveis ao evangelho. “A crise humanitária abriu uma porta para alcançar essas pessoas”, afirma Alcântara.
No Brasil e nas Américas como um todo, as demandas não são menos agudas. Segundo Alcântara, das 949 línguas faladas na região, 396 não têm sequer um versículo da Bíblia traduzido. Essa realidade também pode ser percebida no contexto brasileiro, onde apenas 58 das 181 línguas indígenas têm porções da Bíblia traduzidas e poucas contam com uma tradução completa. Entre as 132 etnias que falam o português, 48 expressam a necessidade de uma nova versão.
No Brasil e no mundo, as necessidades de tradução da Bíblia não giram somente em torno das etnias indígenas, mas também das chamadas línguas alóctones, como o pomerano (uma versão do alemão falada em certas comunidades). Pensa-se também nos 1,6 milhão de ciganos no país e nos surdos-mudos brasileiros, que ainda não têm uma Bíblia traduzida em libras, entre outras comunidades que necessitam da Palavra de Deus.
O que fazer
Pensando somente na realidade brasileira, são necessários pelo menos 500 missionários tradutores, segundo Alcântara. Para se tornar um, embora sejam requeridas qualificações básicas, não é preciso ser um especialista, mas ter uma vivência na comunidade falante da língua. Todos dos anos, no período de janeiro a setembro a Associação Linguística Evangélica Missionária oferece um curso na área. Atualmente, segundo Erní W. Seibert, secretário de Comunicação, Ação Social e Arrecadação da SBB, o trabalho de tradução da Bíblia para uma nova língua requer de 8 a 10 anos para ser concluído.
Diante dos desafios nacionais e globais de tradução da Bíblia, os adventistas têm muito com o que contribuir. A missão de pregar o “evangelho eterno” a “cada nação, e tribo, e língua” (Ap 14:6) está em nosso DNA. Porém, essa pregação, especialmente na Janela 10/40 seria dinamizada significativamente com o uso de uma versão bíblica na língua do povo a ser alcançado. Mikhail M. Kulakov, por exemplo, emocionou o público na Assembleia Geral de 2015 ao apresentar a primeira tradução para o russo moderno, após 23 anos de um trabalho iniciado por seu pai e concluído por ele, com a participação de eruditos russos de outras denominações. Iniciativas como essa podem ser tomadas por pastores, professores e membros de qualquer formação que se sintam chamados. Afinal, cremos, como Kulakov, que a Bíblia deve falar ao coração de cada filho de Deus.
DIOGO CAVALCANTI, pastor e jornalista, é editor de livros na Casa Publicadora Brasileira
VEJA ALGUNS NÚMEROS DA TRADUÇÃO DA BÍBLIA NO MUNDO
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.