A orientação espiritual dos filhos começa cedo e dura a vida inteira
Erton Köhler
Deus não joga dados”, disse alguém para demonstrar que o acaso não existe. Na formação da família, o acaso realmente não funciona. No quebra-cabeças dos relacionamentos, as peças não se encaixam sozinhas. Elas precisam ser cuidadosamente colocadas. Se não for assim, o resultado será frustração, decepção e revolta. Este princípio vale para todos os aspectos da família, mas é fundamental para as questões espirituais (Sl 127:1).
O sacerdote Eli é um triste exemplo dessa realidade. Apesar de sua dedicação ao templo, ele descuidou-se da família. Enquanto isso, a mãe do pequeno Samuel, que crescia na própria casa do sacerdote, investiu na educação espiritual de seu filho. O resultado não poderia ter sido diferente: Samuel se tornou um jovem fiel e foi escolhido como mensageiro de Deus; já os filhos de Eli perderam o respeito pelas coisas sagradas, trouxeram desgosto ao pai e vergonha ao povo. A história poderia ter sido bem diferente se Eli tivesse assumido sua responsabilidade, sem deixar ao acaso a formação espiritual dos filhos.
É preciso transmitir os valores espirituais de maneira intencional. Quando isso não acontece, a família termina em crise. Os pais precisam ter “um senso da solenidade e santidade de sua tarefa”, pois uma atitude descuidada irá “desencaminhar seus filhos” (E Recebereis Poder, p. 138).
Quando minha filha ainda era bebê, chorava muito durante a noite, e eu dormia mal. Conversando sobre a situação com um colega de ministério, ele me disse algo que nunca esqueci: “Não se preocupe! Minha filha tem 22 anos e eu durmo mal até hoje.” O recado foi claro: a educação e a salvação de nossos filhos são uma obra para toda a vida. Ellen White lembra que os pais “jamais são desobrigados do encargo de educar e preparar os filhos para Deus”, uma obra que começa “antes do nascimento” deles (Signs of the Times, 9 de abril de 1896).
Educação de qualidade começa dentro de casa, mas seus efeitos são sentidos dentro da igreja, que trabalha sobre a base espiritual que os pais já construíram. Por maior que seja o esforço, inovação e envolvimento, pouco será modificado. Por isso, antes de preparar uma igreja melhor para nossos filhos precisamos preparar melhor nossos filhos para a igreja.
Nessa grande obra, os pais são a referência. Eles precisam de palavras sábias, mas muito mais de exemplos concretos. Devem ser convidados para ir à igreja, estudar a Bíblia, orar e ler literatura cristã. Se esse não for o hábito dos pais, o processo estará comprometido.
Apesar de todo o esforço, alguns filhos podem acabar esfriando na fé, alimentando sentimentos de revolta ou seguindo influências que os levam para longe de Deus. O importante é não se conformar “enquanto eles estão frios e indiferentes” (Orientação da Criança, p. 558). Se a base espiritual for sólida, os pais poderão confiar na semente plantada e nos milagres de Deus. Felizmente, muitos retornarão.
Para ajudar nessa tarefa, o movimento dos 10 Dias de Oração deste ano, que ocorrerá de 18 a 27 de fevereiro, terá seu foco na família. Manter uma base sólida espiritualmente ou enfrentar as crises de relacionamento expostas pelo longo tempo de pandemia só será possível se buscarmos mais intensamente o Senhor. Só assim teremos famílias fiéis até o fim, e a formação espiritual dos filhos não será deixada ao acaso.
ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul
(Artigo publicado na seção Bússola da edição de fevereiro de 2021 da Revista Adventista)
Última atualização em 23 de fevereiro de 2021 por Márcio Tonetti.