Quando cada membro da família não está ativamente empenhado em contribuir para o conforto e felicidade dos demais, todos sofrem
Fernando dias
Em algumas famílias, percebe-se, infelizmente, que os deveres domésticos não estão distribuídos de forma justa. Há lares em que a tarefa do marido é trabalhar fora; a atividade dos filhos resume-se à escola; e para a mãe e esposa sobra fazer todo o restante: cuidar da casa e providenciar todo o conforto para os demais. Alguns pais de família despendem muito tempo em partidas de futebol, atividades com amigos, filmes e até mesmo jogos eletrônicos, além de outros entretenimentos. Algumas crianças crescem e, em vez de deixar seus brinquedos de lado para assumir cada vez mais as responsabilidades peculiares da idade adulta, apenas substituem os brinquedos da infância por outros brinquedinhos mais caros e mais envolventes. Às vezes, a própria mãe é omissa com seus deveres, pois também desperdiça com redes sociais e com entretenimento midiático o tempo precioso que deveria dedicar à família.
Quando cada membro da família não está ativamente empenhado em contribuir para o conforto e felicidade dos demais, todos sofrem, e a casa deixa de ser um refúgio de paz e harmonia e se torna um antro de conflitos e brigas. Muitas vezes a família é sobrecarregada financeiramente ao ter que pagar uma pessoa para fazer as tarefas que todos deixam sem fazer.
Em muitos lares, a diversão vem antes do dever. Ensinam-se às crianças e adolescentes que, nessa fase da vida, devem apenas se divertir. Parece que esses pais imaginam que, em algum momento por volta dos dezoito anos de idade, de repente, da noite para o dia, os jovens passarão a ser adultos responsáveis. Isso somente acontecerá se, desde cedo, eles entenderem que, à medida que crescem, devem ter menos divertimentos e mais responsabilidades. Ellen White, conselheira cristã respeitadíssima, escreveu:
“Mesmo entre os pais cristãos há excessiva aprovação ao amor por divertimentos. Os pais aceitam os valores do mundo, conformam-se com a opinião geral de que é necessário que os primeiros anos de crianças e jovens sejam passados na ociosidade, em divertimentos egoístas e em caprichos tolos. Dessa maneira tem sido criado o gosto por prazeres estimulantes, e crianças e jovens têm educado a mente no sentido de se deleitarem em exibições instigantes; e detestam categoricamente as obrigações sóbrias e úteis da vida. Vivem a vida mais segundo a ordem dos irracionais. Não voltam os pensamentos para Deus nem para as realidades eternas, mas esvoaçam como mariposas na sua estação. Não agem como seres sensíveis, cuja vida poderia ser medida com a vida de Deus, e que a Ele devem prestar conta de cada hora do seu tempo” (O Lar Adventista, p. 526).
Deve haver sim recreação na família. Atividades prazerosas são importantes para a felicidade do lar, mas devem atender a alguns critérios para que sejam benéficas. O que, infelizmente, muitas vezes se vê é que filhos e muitas vezes os pais desperdiçam boa parte de seu tempo em entretenimentos estimulantes, sensuais, viciantes, vis, individualistas, fúteis e nada construtivos. Assiste-se à um filme, quase sempre vulgar ou mesmo satânico, durante duas ou três horas, enquanto a casa fica por varrer e a louça por lavar. Desperdiça-se o dinheiro no cinema ou na assinatura de um plano de televisão, sacrificando a compra de itens importantes para a casa. Horas e horas perdem-se prendidos em jogos eletrônicos que apenas estimulam o cérebro com violência e brutalidade.
As atividades recreativas só serão realmente benéficas e satisfatórias se forem a recompensa do dever cumprido. Para um cristão, a diversão preferida deve ser simples, pura, inocente, edificante. Nada de competividade, sensualidade e vulgaridade. Ao contrário, a boa recreação deve incentivar a socialização e reforçar valores morais e habilidades físicas e mentais. Passeios em família em meio à natureza, a leitura de livros adequados, a prática de esportes sem competividade, a audição de boa música e jogos educativos são alguns exemplos de atividades proveitosas. Mesmo sendo muito mais benéficas do que as citadas anteriormente, não existem para substituir o cumprimento de deveres domésticos que todos, marido e mulher, adultos e crianças, devem assumir para a felicidade e harmonia do lar.
O pensador quaker Elton Trueblood escreveu sobre “a aceitação da responsabilidade”. Ele disse: “Algum dia o mundo voltará à palavra ‘dever’ e abandonará a palavra ‘prêmio’. Não há prêmios, e há muitos deveres. E, quanto mais cedo um homem reconhecer isso e agir de acordo, tanto melhor será para ele” (A Vida Que Prezamos [Rio de Janeiro: Ipanema, 1961], p. 79).
FERNANDO DIAS, pastor e editor da Casa Publicadora Brasileira, está cursando mestrado em Teologia
Última atualização em 15 de janeiro de 2020 por Márcio Tonetti.