Do balaio à universidade

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Relato biográfico revela bênçãos da superação

Guilherme Silva

Crédito da imagem: Divulgação CPB

Enquanto perambulava pelas ruas de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, vendendo frutas com um balaio pendurado nos ombros, o menino de oito anos tentava atrair clientes e, ao mesmo tempo, fugia de menores infratores que ameaçavam o pequeno lucro conseguido à custa de tanto esforço. Órfão de mãe e negligenciado pelo pai, era socorrido por irmãos mais velhos, que ajudavam conforme podiam. Zaro, como o chamavam, fazia jus ao próprio nome, Belisário, adjetivo que o dicionário define
como desventurado.

Apesar de incontáveis adversidades, o menino escolheu um caminho que fez prevalecer o sentido original de seu nome, que no grego antigo significa flecha ou dardo, demonstrando desde cedo um traço combativo, daqueles que não fogem à luta.

Na vida adulta, Zaro transformou-se no psicólogo Belisário Marques, doutor em psicologia pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Sua atuação como psicólogo clínico, professor universitário, colunista de revistas e palestrante remonta aos primórdios da psicologia no Brasil, exercendo influência reconhecida entre seus pares.

Essa história de superação é narrada pela jornalista Priscilla Stehling no livro Zaro: Um doutor na sarjeta (CPB, 2024, 208 p.). A obra revela o potencial transformador da educação adventista, que marca o ponto da virada no acidentado percurso do protagonista. O convívio cristão, o ambiente regrado e o acesso ao conhecimento, proporcionados pelo antigo Colégio Adventista Brasileiro, instituição que deu origem ao atual Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), transformaram aquele jovem atribulado em um homem com o propósito de servir a Deus e ao próximo.

Um dos hábitos mais importantes adquiridos no aprimoramento pessoal de Belisário foi a leitura de bons livros. O antigo leitor de histórias em quadrinhos aprofundou-se em leituras que construíram novos padrões de pensamento e interpretação da realidade. A Bíblia tornou-se sua referência, sendo lida por completo mais de 40 vezes.

Nesta biografia recém-lançada, você conhecerá Zaro, o homem por trás de inúmeras contribuições à psicologia e ao aconselhamento, e sua empolgante história de superação. 

TRECHO

O nascer do sol marcava aquela instituição aos olhos de Belisário, inaugurando esplendidamente diversos outros desper­tares que ocorriam em seu interior ao longo do dia. De maneira semelhante, o pôr do sol também o recolhia a um aconchego diferente de tudo o que ele havia experimentado. Não se tratava apenas de um lugar que oferecia ensino acadêmico e pensionato. Era mais que estudos, alimento e abrigo. Era um tipo de inte­ração social que trazia luz a alguém conhecedor da obscuridade da solidão. Regras, rotinas e regimentos não se resumiam apenas a interesses comerciais, mas ao cuidado, acolhimento, gerando a sensação de pertencimento a alguém que conhecia de perto ape­nas a rejeição (p. 114).

GUILHERME SILVA é editor na CPB

(Resenha publicada na seção Estante da Revista Adventista de julho/2024)

Última atualização em 23 de julho de 2024 por Márcio Tonetti.