Feridas invisíveis

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Livro aponta maneiras de superar o sofrimento emocional

Guilherme Silva

Foto: Divulgação CPB

A dor emocional de um coração ferido é tão real quanto a de um corte profundo. Infelizmente, por ser menos visível, muitas vezes é ignorada com a ilusão de que o tempo cura as feridas. No entanto, a restauração não ocorre automaticamente, pois precisa ser produzida “com a transformação do coração por meio de um relacionamento prático e saudável com o Espírito Santo”. Essa é a proposta apresentada no livro Coração Restaurado (CPB, 2023, 264 p.), pelas autoras Deise Marques, Luciana Almeida e Rebeca Moreira.

Unindo experiência e formação em diferentes áreas, como Psicologia, Direito, Teologia e Educação, as autoras têm desenvolvido, desde 2015, o Ministério Corações Restaurados, com foco na saúde emocional. A obra produzida em conjunto reflete a experiência delas em escutar, apoiar e capacitar na superação dos traumas emocionais.

O que guia o leitor ao longo das páginas é a convicção de que, em várias formas de sofrimento emocional, “a cura vem com o novo nascimento, que fará brotar o fruto do Espírito Santo” (p. 36). Apesar de alguns considerarem a proposta simples para um problema complexo, as autoras demonstram como cada aspecto do fruto do Espírito atua como um remédio eficaz e específico para uma angústia da alma.

Amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio são apresentados como poderosos antídotos contra o ódio, a tristeza, o estresse, a impaciência, a indiferença, a crueldade, o medo, a ira e a intemperança, entre outros males que afetam a sociedade.

Ao considerar o ser humano de modo integral, as autoras destacam o domínio próprio, que se desdobra na temperança, como “a linha de equilíbrio que costura o fruto do Espírito”. Elas demonstram que o cuidado da saúde se reflete no cuidado das emoções, em uma espiral positiva de interação entre o corpo e a mente. “O domínio próprio nos leva a viver relações equilibradas […]. Ao cuidar da nossa saúde e usar os remédios naturais, alcançamos um maravilhoso poder vivificante” (p. 215).

Na obra, as autoras também enfatizam o poder do perdão como instrumento de libertação da dor emocional crônica. De maneira sensível, asseguram que o perdão não pode ser usado como instrumento de manipulação em relacionamentos abusivos. Elas diagnosticam que “a razão mais comum para não haver reconciliação” é a busca de um “perdão barato”. “Não há quebrantamento do coração nem percebemos as feridas que causamos no outro” (p. 228). Portanto, “perdoar nem sempre significa o restabelecimento das relações que existiam antes”. Isso só é possível quando há “evidências reais e concretas de que as arestas foram completamente acertadas” (p. 229) por meio das devidas reparações.

Mesmo nos casos mais difíceis, em que a reconciliação não é possível devido ao risco de agressão, as autoras afirmam que o perdão continua sendo um instrumento válido de restauração da integridade emocional. Nesse sentido, “perdoar significa nos desprender do que aconteceu, tirando-nos da condição de vítimas e tornando-nos autores de nossa própria e nova história” (p. 232).

Para quem sofre com feridas emocionais de difícil cicatrização, o livro aponta com serenidade e sabedoria para o caminho da cura.

TRECHO
“Não deixe que as feridas que alguns fizeram em seu coração tirem de você o melhor que ainda está por vir – recomece a sonhar e volte a amar” (p. 262).

GUILHERME SILVA é editor na Casa Publicadora Brasileira

(Resenha publicada na seção Estante da Revista Adventista de novembro/2023)

Última atualização em 27 de novembro de 2023 por Márcio Tonetti.