Clássico sobre a história do movimento adventista ganha nova edição atualizada
Jessica Manfrim
Marc Bloch, historiador francês de origem judaica, dizia ser possível ter “uma experiência religiosa que nada deva à história”. Bastaria uma iluminação interior para crer em Deus. Mas isso não seria possível para crer no Deus dos cristãos: “O cristianismo é, por essência, uma religião histórica” (Apologia da História, p. 57 e 58).
Bloch acertou. Contudo, além de histórico, o cristianismo é uma religião de “historiadores”, de gente que olha para os acontecimentos a fim de identificar a atuação de Deus ao longo do tempo. Foi o que fizeram, por exemplo, Estêvão (At 7:2-53), Paulo (At 22) e Lucas (Lc 1:1-4). Ellen G. White, pioneira e profetisa adventista, escreveu que identificar a liderança de Deus na trajetória de Sua igreja inspira confiança Nele e o progresso da missão (Eventos Finais, p. 72).
Por reconhecer a importância da recapitulação histórica para a consolidação da fé de um movimento, a CPB está relançando um clássico da história do adventismo em língua portuguesa: A Mão de Deus ao Leme (CPB, 2018, 365 p.). Escrito pelo pastor Enoch de Oliveira e publicado originalmente em 1985, o livro é fruto dos estudos de mestrado do seu autor na Universidade Andrews (EUA). Falecido em abril de 1992, o pastor Enoch foi um apreciado pregador e destacado líder da denominação, chegando a ser presidente da sede sul-americana da igreja e um dos vice-presidentes da sede mundial.
A obra, agora em sua versão revisada, apresenta biografias e estatísticas atualizadas. O livro se propõe a fazer uma análise contextual do ambiente em que surgiu o adventismo no século 19, bem como apresentar algumas explicações históricas e proféticas para a origem e consolidação do movimento.
Na primeira parte da obra, o autor mostra como a herança teológica da Reforma Protestante e a cultura de respeito à liberdade religiosa nos Estados Unidos criaram um contexto favorável para o surgimento do movimento milerita. O pastor Enoch também discorreu sobre a experiência do desapontamento em 1844, bem como sobre as crises e os períodos de crescimento da igreja ao longo de sua história.
A segunda parte da obra é dedicada à biografia de cinco pioneiros do adventismo, enquanto a terceira seção destaca líderes do movimento que, apesar de terem dado grande contribuição, acabaram abandonando a fé adventista. Na quarta parte, por sua vez, o livro discorre a respeito da liderança dos presidentes mundiais da igreja, desde John Byington e Tiago White até Jan Paulsen e Ted Wilson. Os dados desta seção foram atualizados pelo pastor e historiador Eugenio Di Dionisio.
O relançamento de A Mão de Deus ao Leme viabiliza o acesso das novas gerações da igreja a esse clássico do adventismo, cujo principal objetivo é mostrar que, por trás de datas, números, fatos e biografias, existe um Deus que está no comando da história e da igreja.
JESSICA MANFRIM é revisora-assistente de livros na CPB
(Resenha publicada originalmente na edição de abril de 2018)