A ausência de especificação de gêneros para a seleção musical não significa ausência de critérios para o louvor
Preciso escolher a música que vou cantar no próximo culto. E aqui começa uma saraivada de perguntas: Qual o tema? Qual evento? Em que momento? Onde é? Quem vai ouvir? Quem estará no som?
Percorro textos de Davi, Paulo, Ellen White até chegar em autores contemporâneos, como Mark Finley. Mas não encontro uma lista com os estilos de música mais apropriados para os cultos. Entretanto, a ausência de especificação de gêneros para a seleção musical não significa ausência de critérios para o louvor.
E onde estariam esses critérios? Alguns deles estão na carta do apóstolo Paulo aos coríntios: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas edificam” (I Coríntios 10:23). Se incluirmos os estilos musicais nessa relação de “todas as coisas” da qual fala o autor bíblico, a metodologia e o objetivo do músico irão se orientar pela adequação ou conveniência da música com o fim de edificar a igreja.
Como, então, edificar a igreja, a qual se constitui pela diversidade de gerações e culturas musicais?
Volto aos conselhos de Paulo: “Ninguém busque seu próprio interesse, e sim o do outro” (I Coríntios 10:24). Há músicos que escolhem uma peça sacra de excelência artística porque creem que é isso que agrada a Deus. Outros pensam que não importa o estilo, desde que se esteja louvando a Deus. Mas, ao cantar e tocar uma música na igreja, o músico precisa lembrar que Deus não é o único ouvinte.
Paulo amplia esse conceito na carta endereçada aos crentes de Éfeso: “Enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” (Efésios 5:18-21).
Vemos que a música é apenas um dos componentes de uma vida cristã em comunidade. É preciso ainda coração sincero, gratidão permanente e sujeição mútua.
A soma dessas partes tem como resultado um louvor que glorifica a Deus, pois se trata de um louvor que envolve a sinceridade da fé e que também busca a unidade espiritual na diversidade cultural.
Mas, às vezes, estamos tão mais atentos à qualidade artística dos cânticos que acabamos mais preocupados com o louvor do irmão do que com o irmão que louva.
Por outro lado, se os músicos estiverem despreocupados com a conveniência da música nos cultos, essa atitude pode resultar em música tecnicamente bem feita, mas incapaz de edificar a igreja.
No fim, a música grandiosa e o cântico simples, canções contemporâneas e hinos antigos deveriam ser selecionados e ouvidos com amor: “Todas as vossas coisas sejam feitas com amor (I Coríntios 16:14). O amor que leva músicos e ouvintes a buscar o interesse do outro e a cumprir a missão comum de todos. [Imagem: Fotolia]
Joêzer Mendonça, doutor em Música (UNESP), é professor da PUC-PR e autor do livro Música e Religião na Era do Pop
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.