Cantar faz bem

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A música cristã pode ajudar na sua saúde mental e no seu bem-estar

Joêzer Mendonça

Foto: Adobe Stock

Nos tempos difíceis e dolorosos em que estamos vivendo, as pessoas têm buscado filmes, séries, livros e músicas como meio de conforto e desafogo da dura realidade. Falando especificamente dos músicos, eles têm providenciado gravações e lives que têm ajudado as pessoas a passar o tempo de distanciamento social e a aproximá-las virtualmente por algumas horas.

Mas a música tem cumprido um papel muito além de mero entretenimento ou passatempo escapista. Ao ouvir suas músicas preferidas nas vozes dos seus artistas prediletos, as pessoas relembram momentos e podem ter sentimentos positivos despertados em relação ao presente e ao futuro, encontrando conforto e ânimo. Isso quer dizer que a música que gostamos pode contribuir para nosso bem-estar e saúde mental.

Nunca, nunca desanimes se ao redor as trevas vêm. Se o caminho é penoso e o fim é dor também, crê em Deus.

Muitas das músicas que mais apreciamos são do período da nossa infância e juventude, quando estávamos construindo nossa identidade e quando tudo para nós tinha o sabor das primeiras coisas. Aquelas músicas ficam gravadas de forma indelével em nossas vivências e experiências e, ao ouvi-las na vida adulta, nossas memórias daquela época são ativadas rapidamente. A sensação, em geral, é bastante agradável, caso essas músicas estejam ligadas a experiências positivas, e não a traumas e dores do passado.

Se amargas tristezas da vida curvarem tua fronte em dor e, vendo a esperança perdida, caíres nas mãos do temor, fixa teus olhos no Mestre, confia no bom Salvador.

Quando os cristãos ouvem um cântico de sua preferência, eles se envolvem emocionalmente e se sentem confortados e motivados. Essa música pode estar associada a diferentes eventos de sua vida, como ao tempo de sua conversão espiritual ou a eventos familiares da infância e adolescência, como as refeições e os cultos domésticos.

E aqui está um primeiro aspecto benéfico da música cristã: cantar no ambiente doméstico pode contribuir para o bem-estar familiar. A escritora Ellen White recomendava o hábito de cantar hinos no lar para que houvesse então “menos palavras de censura e mais de ânimo, esperança e alegria” (Educação, p. 167). Os membros adultos da família podem reunir a família no pôr-do-sol para cantar com as crianças e adolescentes, ensinar-lhes os cânticos da tradição cristã e também deixá-los entoar cânticos de sua preferência, com os quais eles se sentem espiritualmente motivados.

Muitas pessoas estão vivenciando uma sensação de abatimento e desânimo. Cantar um hino não é a solução, mas é uma atitude de confiança e resistência capaz de banir a tristeza e os pressentimentos pessimistas. A lembrança de um cântico que marcou sua vida pode ser uma ferramenta emocional contra o desalento: “Quantas vezes, ao coração oprimido e pronto a desesperar, vêm à memória algumas das palavras de Deus – as de um refrão, há muito esquecido, de um hino da infância […] e a vida assume novo sentido e propósito, e o ânimo e a alegria se comunicam a outras pessoas!” (Ellen White, Educação, p. 166).

Vou caminhando sempre contente pela estrada rumo ao céu

Não tenho medo, vou confiante, pois Jesus comigo está

Simplesmente cantar não garante a cura para a ansiedade ou a solidão. Mas, “ao abrirmos assim o coração à luz da presença do Salvador, teremos saúde e Sua bênção” (A Ciência do Bom Viver, p. 254). Talvez nunca se tenha precisado tanto como agora de saúde mental para enfrentar as diferentes dificuldades que têm assolado a vida das pessoas em todos os lugares. Em tempos de distanciamento social, a música pode ser o abraço apertado de consolo e esperança que todos precisamos.

Deus sabe o que vai dentro da alma, Deus ouve a oração suplicante. Deus vê sua angústia e o acalma. Deus sabe, Deus ouve, Deus vê.

JOÊZER MENDONÇA, doutor em Musicologia (Unesp) com ênfase na relação entre teologia e música na história do adventismo, é professor na PUC-PR e autor dos livros Música e Religião na Era do Pop e O Som da Reforma: A Música no Tempo dos Primeiros Protestantes

Última atualização em 28 de abril de 2021 por Márcio Tonetti.