Como as habilidades musicais podem ser desenvolvidas para o serviço e não simplesmente para o sucesso
Na era das celebridades musicais, há cantores cristãos que têm buscado o sucesso em primeiro lugar e todas as coisas que lhes vêm acrescentadas: fama, fãs e, às vezes, fortuna. Mas há também cantores cujo sucesso é fruto de trabalho duro e de aperfeiçoamento da habilidade musical, de uma vida que se dedica ao evangelismo musical e à edificação espiritual da igreja.
A dedicação e o desenvolvimento das habilidades de um músico cristão fazem bem à missão da igreja quando essas habilidades são consagradas ao serviço e não ao sucesso. Uma vida dedicada ao serviço musical pode levar ao sucesso, mas não é por causa do sucesso que deveríamos aceitar um serviço.
Às vezes, por aversão ao sucesso musical, critica-se o sucesso de cantores cristãos sem considerar os frutos desse ministério espiritual ou a visibilidade social que a mensagem cristã alcança. Chegamos a dar destaque a quem casualmente entrega um livro denominacional para uma celebridade política e desprezamos quem passa duas horas cantando e pregando a Palavra de Deus para uma multidão de anônimos.
Na verdade, ambas as ações são louváveis e merecem ser incentivadas. O que não merece incentivo é a atitude que mais divide do que agrega, é a imposição do gosto pessoal sobre a cultura musical de cada congregação, é a busca por ocupar espaço no púlpito para cantar e depois deixar o banco vazio na hora em que o pastor toma o púlpito para pregar.
O louvor não é um sacrifício para nos tornar aceitáveis diante de Deus. O que se sacrifica é o “eu” nos atos de adoração e no serviço de edificação da igreja. Nesse sentido, cada músico é chamado a vivenciar a dignidade e a alegria de abrir mão das próprias prerrogativas e, assim como Cristo, esvaziar-se de si mesmo tomando a forma de servo.
O músico-servo busca atender as necessidades da igreja, fazendo tudo com competência e não por competição. O músico-servo pergunta “como o ministério da música pode ajudar”, busca o diálogo tendo em mente as diferentes percepções sobre a música e prefere pontos de equilíbrio, rejeitando modismos contemporâneos e tradicionalismos cegos.
Um dos versos que o músico-servo pode levar como lema de sua profissão é o que está em Efésios 5:18-21: “Enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.”
Sem esnobismos artísticos e comprometido com a missão da igreja, o músico-servo não vê sua própria produção musical como superior à de outros músicos. Antes, entende que a música dos cultos de sua igreja, seja música mais simples ou mais sofisticada, mais moderna ou mais antiga, precisa estar adequada à ocasião, ao lugar e ao propósito.
Será difícil agradar especificamente a cada um dos indivíduos presentes ao mesmo tempo com a mesma música, mas a consciência de pertencer e servir a uma comunidade cristã pode orientar os músicos na seleção do repertório musical que será ouvido nos cultos. Com espírito de comunidade, entendimento teológico e eficiência musical, o músico-servo cumpre seu objetivo: edificar o corpo, que é a igreja, na estatura do caráter de sua cabeça, Cristo Jesus. [Créditos da imagem: Fotolia]
Joêzer Mendonça, doutor em Música (UNESP), é professor da PUC-PR e autor do livro Música e Religião na Era do Pop
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.