Beleza discreta

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Saiba como combinar modéstia e elegância
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Imagine este diálogo…

– Eva! Você está nua! – disse Adão asperamente, como se ela mesma não tivesse notado.

– Adão, não finja que você não está nu – replicou Eva ofendida.

– Aqui, pegue esta folha de figueira e costure com… esta outra folha – ele sugeriu, diminuindo o volume da voz enquanto olhava em volta.

O primeiro homem e a primeira mulher se protegeram com sua elegante vestimenta de folhas de figueira, a última moda no Jardim do Éden.

Não demorou muito para ouvirem uma voz familiar:

– Onde você está? – a voz perguntou.

– Você ouviu isso? – Adão cochichou para Eva.

– Psssiu! Ele pode nos ouvir – ordenou Eva, ainda tentando costurar suas folhas.

Finalmente, Adão arrumou coragem para falar:

– Ouvi teus passos no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; por isso me escondi [Gênesis 3:10].

– Quem lhe disse que você estava nu? Você comeu do fruto da árvore da qual lhe proibi comer? [v. 11].

Adão culpou Eva, e ela culpou a serpente. Deus amaldiçoou a serpente, a mulher e Adão. Contudo, ele ainda não havia terminado. Jeová Jireh, o nome que retrata Deus como nosso provedor, fez roupas para Adão e a esposa. E assim é que, em Gênesis 3, vemos, pela primeira vez, a humanidade tentando resolver um problema ao lidar com os sintomas e não com a causa. Problema: o pecado. Sintoma: a vergonhosa nudez. Solução: folhas de figueira. Deus sabia que eles não tinham esperança sem ele; por isso, fez o que sabe fazer de melhor: providenciou-lhes algo, enquanto eles nem sabiam o que precisavam.

Exterior x interior

Ao discutir o assunto da modéstia, as pessoas tendem a colocar ênfase nas roupas femininas e não passam disso. Em geral, a conversa pode ser resumida nesta frase: “Se as mulheres se vestissem de forma apropriada, os homens não as cobiçariam.” É como se o pecado fosse culpa de outra pessoa. Esse tipo de raciocínio é estreito e cheio de erros.

Sem dúvida, a roupa de uma mulher pode ser um problema. Os cristãos deveriam ser bons administradores de sua aparência. Porém, a roupa não é o componente único da modéstia nem a raiz do problema. A aparência exterior da pessoa reflete o que está no interior.

Se você visse uma mulher com um jaleco branco e um estetoscópio ao redor do pescoço, provavelmente não pensaria que fosse uma professora. Seria mais seguro assumir que ela trabalhe na área médica. Que tal se ela aparecesse em sua primeira consulta usando uma camiseta desbotada, uma calça surrada, um boné de beisebol e chinelos? Isso faria você se sentir seguro para conversar sobre sua reação alérgica à penicilina? Talvez não!

O médico não usa um jaleco branco para ser médico; ele o usa porque é médico. Igualmente, o cristão não faz certas coisas para ser cristão; ele as faz porque é cristão. Conforme observa Peter Chin, “a modéstia não é a rejeição da beleza do corpo, nem um julgamento da fraqueza moral dos outros”, mas “uma decisão consciente com base na força e no amor”.

Em sua apresentação “The Evolution of the Swimsuit” (A Evolução da Roupa de Banho), Jessica Rey, a mulher que criou a própria linha de roupas de banho para oferecer trajes mais decentes, menciona um estudo que mostrou como os homens consideram as mulheres simples objetos quando as veem com roupas escassas (assista ao vídeo). Se a mulher quiser estar no “controle”, ela deve usar algo que faça os homens reagirem de maneira apropriada. Nesse contexto, diz Rey, a mulher recupera seu poder quando usa a inteligência para montar o guarda-roupa.

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Um artigo publicado recentemente na revista Christianity Today, intitulado “Don’t Blame the Bikini, Blame the Bikini Culture” (Não Culpe o Biquíni, Culpe a Cultura do Biquíni), enfatiza a necessidade de os homens verem as mulheres como pessoas, e não objetos, muito menos objetos sexuais. Homens e mulheres foram planejados para refletir a imagem de Deus (Gênesis 1:26).

Nunca foi o objetivo de Deus que as mulheres tivessem status inferior. Em Patriarcas e Profetas (p. 46), Ellen White diz: “Eva foi criada de uma costela tirada do lado de Adão, significando que não o deveria dominar, como a cabeça, nem ser pisada sob os pés como se fosse inferior, mas estar a seu lado como sua igual, e ser amada e protegida por ele.”

Esse ideal de igualdade e proteção anda lado a lado com o princípio da modéstia, que é a atitude de abandonar o orgulho e colocar os outros no centro, amando-os e protegendo-os. Modéstia é pôr Deus e o próximo antes da exibição pessoal e agir de maneira que não chame tanto a atenção. É permitir que o caráter de Deus brilhe através do nosso caráter.

Como diz o apóstolo Paulo, “quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31). A modéstia não deve fazer com que a pessoa se sinta reprimida nem entediada – um argumento que já ouvi dezenas de vezes. Ela tem início com a compreensão e a aceitação do amor de Deus por nós, o que resulta no desejo de dar-lhe toda a glória.

Roupa certa

Suponha, por exemplo, que Patrícia dissesse: “Amo a Deus de todo o meu coração. Meu relacionamento é entre ele e eu. Por que não posso usar o que gosto?”

Alberto, 26 anos, responde dizendo: “Os homens são muito mais visuais do que as mulheres imaginam. A primeira coisa que observo em uma garota é a parte física. Depois, avalio os outros aspectos.”

Talvez a maioria dos homens pense assim, mas tenha dificuldade em admitir. “Os homens não admitem isso porque não querem dar a impressão de ‘objetificar’ as mulheres”, ele comenta. “Por que alguém faria algo para atrair a atenção e então esperaria ser ignorado? A maquiagem e a roupa de uma garota têm o mesmo efeito. É irreal achar que todos os homens evitam olhar para a roupa decotada.” O comentário de Alberto pode parecer superficial; porém, a maioria realmente avalia os outros pela aparência, e não pela personalidade.

A ideologia de Patrícia tem sua raiz na ideia feminista de que as mulheres devem usar o que quiserem porque homens e mulheres são iguais. O problema é que a roupa imprópria leva os homens a ter maus pensamentos. Assim, as mulheres podem ser pedras de tropeço e levá-los a pecar. O apóstolo Paulo nos adverte: “tenham cuidado para que o exercício da liberdade de vocês não se torne uma pedra de tropeço para os fracos” (1 Coríntios 8:9).

No livro O Lar Adventista (p. 331, 332) Ellen White faz um comentário seguindo o mesmo raciocínio: “Escrevo com mágoa no coração que as mulheres deste século, casadas ou não, com demasiada frequência não mantêm a reserva que é de esperar. São provocativas. Chamam a atenção de homens casados e solteiros, e os que possuem faculdades morais debilitadas são enredados. Essas coisas, se permitidas, enfraquecem o senso moral e cegam a mente, de maneira que o crime não pareça pecaminoso. São despertados pensamentos que o não seriam se a mulher tivesse mantido sua posição de modéstia e sobriedade. Ela pode não ter tido propósito doloso nem premeditado motivo, mas tem encorajado homens que são tentados, e que necessitam toda ajuda que possam obter dos que com eles se associam. Mediante circunspecção, reserva, não tomando liberdades, não recebendo atenções não permissíveis, mas preservando alto tono moral e impecável dignidade, muito mal pode ser evitado.”

Atitude apropriada

Os comentários com relação à modéstia frequentemente sugerem que as mulheres devem se esconder numa burca para mostrar seu recato. Contudo, não há nada inerentemente errado em ser mulher; a essência da mulher não está em se cobrir da cabeça aos pés. A modéstia não tem que ver apenas com a porcentagem da pele que está sendo exposta; tem que ver com a beleza interior (o caráter de Deus nela) definindo a aparência.

Se o Criador não valorizasse a beleza, ele não teria feito uma variedade de flores. Se não gostasse de criatividade, não teria criado as borboletas com variadas cores. A beleza física é importante, mas a beleza que perdura encontra-se em um íntimo relacionamento com Cristo, o designer mestre que deseja recriar seus filhos à sua imagem.

Muitas vezes, nós interpretamos mal a beleza. Ora, uma das maneiras mais puras de expressá-la é por meio do caráter. Não é por acaso que a mulher virtuosa de Provérbios 31 “reveste-se de força e dignidade” (v. 25). São as qualidades do caráter que definem a aparência.

No caso dos homens, a ausência de modéstia pode ser resultado da falta de humildade. Orgulho, ostentação e exibicionismo podem caracterizar os homens (e as mulheres) que não percebem que a modéstia tem que ver com uma atitude apropriada. Aliás, a palavra grega traduzida como modéstia (kosmios, termo derivado de kosmos, “universo”) significa ordem, propriedade e autocontrole.

Os homens podem ser imodestos quando não são humildes em relação a si mesmos, suas qualidades e suas conquistas. Não há nada errado em ser eficiente; porém, quando o homem fala constantemente sobre seu dinheiro e seu carro, não está sendo modesto. Uma atitude de ostentação não combina com modéstia.

Homens sem modéstia que se acham bonitos são “convencidos”. Ao mostrar essa atitude, eles podem motivar uma escalada de comportamentos censuráveis, ou levar algumas mulheres a pensar que eles estão interessados em ter um relacionamento com elas.

A Bíblia parece apontar a luxúria como um problema masculino, embora ele não seja exclusivo dos homens. Vários versos indicam que os homens são mais propensos a ter sentimentos sexuais apenas por olhar para as mulheres (Êxodo 20:17; Mateus 5:28; Provérbios 5:15-20; 6:27-32). Observe que esses versos não culpam as mulheres pelo pecado dos homens; eles devem assumir a responsabilidade pelos próprios pensamentos.

Êxodo 20, Deuteronômio 5 e especialmente Mateus 5 enfatizam que a cobiça começa no coração. Não é surpresa que o homem mais sábio que já viveu tenha escrito: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (Provérbios 4:23). Nos tempos antigos, a maioria dos códigos não ia além das ações, mas a Bíblia menciona o coração. Portanto, se um homem olhar para uma bela mulher, não estará pecando; mas, se cobiçá-la, estará.

Manual de modéstia?

Modéstia não se restringe a roupas, mas é nessa área que o desafio parecer ser maior. Se houvesse um Manual de Modéstia, as coisas seriam mais fáceis. Poderíamos usá-lo para medir todos pelo mesmo padrão. Será? Qualquer um que já tenha ido com uma mulher ao shopping sabe quanto é difícil até mesmo dizer o número da roupa que cada uma usa!

Então, como pode uma mulher cristã ser aceita pela sociedade, não ser considerada antiquada e ao mesmo tempo mostrar modéstia? O desafio pode ser resolvido com a resposta a cinco questões:

? Mantenho tal conexão com Deus que Jesus e eu podemos ir juntos comprar roupas?

? Estou glorificando a Deus em meu corpo e em meu comportamento?

? Estou mostrando parte do corpo que deveria ser reservada para meu esposo?

? O que estou usando ou fazendo dificultará que outros me vejam como filha do Rei?

? Que mensagem estou comunicando por meio de meu comportamento e de minha roupa?

Para usar a veste da justiça de Cristo no futuro, você precisa começar a usá-la agora. O mesmo Deus que providenciou vestes para Adão e Eva ainda a oferece. Você aceitará o presente?

Laura Sámano é editora-assistente da revista Guide; seu artigo foi publicado primeiramente na Adventist Review

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Marcos Araujo.