Bíblia é o preferido dos brasileiros, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil
Não há como não se surpreender com a recente pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Ibope, mostrando que o hábito de leitura no Brasil aumentou. Atualmente, 56% da população são leitores – um número significativo, considerando que em 2011 eram apenas 50%. Tão impressionante como esse número é o fato de a Bíblia ser a preferência de leitura.
A cultura “enlatada” brasileira, se podemos chamá-la assim, que se formou da mistura heterogênea de moda, estilos, culturas e hábitos de países influenciadores, criou uma sociedade de pessoas constantemente apressadas, com dificuldade de concentração e extremamente críticas. A tão conhecida geração selfie rapidamente se acostumou com pouca leitura e muita imagem. Há cerca de quinze anos, a propagação de textos encaminhados por e-mail, as chamadas “correntes” e mensagens reflexivas, foram emblemáticas da crise de leitura no país. Textos eram atribuídos erroneamente a autores renomados simplesmente porque as pessoas não liam as obras literárias e confiavam cegamente no conteúdo da internet.
Hoje, porém, vemos outra postura. Temos um público bastante exigente e analítico. Cada manifestação artística, seja literária, artística, cinematográfica, etc., é objeto de análise. As redes sociais são um eficiente termômetro para identificar a opinião geral e a repercussão de determinado fato. Nada mais passa despercebido. As pessoas andam sem tempo, mas seu senso crítico se tornou mais sensível e apurado. Os livros volumosos e densos já não assustam tanto. O individualismo que há certo tempo aflorou com a equação internet + smartphone tem se propagado nas mais diversas áreas da vida do ser humano comum. Cada pessoa, em frente à sua tela, torna-se um pensador, um crítico, um revolucionário, um fomentador ou líder.
Nesse contexto, as pessoas voltam aos livros, sejam eles físicos ou digitais. Hoje temos milhares de fontes de informação, que podem ser acessadas facilmente e em pouco tempo. Crianças, jovens e adultos reencontram o livro nos mais variados formatos e temas e em persuasivas propostas. Os clássicos da literatura são revisitados, mas em caráter de crítica, e novos gêneros e subgêneros literários têm surgido e se estabelecido no mainstream em pouco tempo. A Bíblia, conhecida em todas as culturas e países, também é um clássico revisitado. Diante do pluralismo religioso, diversas denominações ganham voz e notoriedade. Ao mesmo tempo, o respeito pelas crenças de cada pessoa é visto hoje com bastante seriedade.
Toda pessoa traz uma filosofia, defende uma crença e representa uma visão no mínimo transcendente. No meio religioso, a leitura sempre fez parte das cerimônias e do embasamento doutrinário das diferentes crenças. O cristianismo se baseia na Bíblia Sagrada. O fato de que as pessoas estejam lendo mais a Bíblia indica um aspecto do qual pouco falamos. Embora isso mostre a busca pelas igrejas cristãs, mais significativo ainda é o fato de que as pessoas expostas à Bíblia estão exercendo seus hábitos de leitura de forma bem mais avançada. Deixando de lado o fator espiritual da Bíblia como Palavra de Deus, temos nela uma riqueza literária que poucos livros apresentam. E não se trata simplesmente de um livro, mas de um compêndio, uma coleção de livros de gêneros e autores diferentes. A pessoa que tem contato com a Bíblia inevitavelmente aprende aspectos de cultura, saúde, família, direitos civis, entre outros, além de conhecer diversos estilos literários históricos, bem como fatos da História.
A pesquisa do Ibope revela que, apesar das críticas, a Bíblia continua sendo um livro que pode beneficiar o leitor que mantém a mente aberta para conhecer esse intrigante livro, independentemente da religião.
LUCAS DIEMER é graduado em Letras e atua como editor de livros na Casa Publicadora Brasileira
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.