Você está enfrentando os desafios com ansiedade, frustração e desânimo ou com coragem, esperança e fé?
Erton Köhler
O ano começou com muitas expectativas e deverá terminar cheio de incertezas. Mesmo conhecendo as profecias dos últimos dias, ninguém imaginava que tudo aconteceria como aconteceu. Os cidadãos comuns, além de autoridades, empresários, comerciantes, educadores e profissionais de saúde, viram seus planos desabarem e o mundo virar de cabeça para baixo. A igreja também teve que se reorganizar, mudar projetos, reduzir despesas, usar mais intensamente os recursos virtuais e fortalecer o atendimento espiritual, repensar a forma de fazer missão e ampliar os projetos de solidariedade.
A Bíblia abre nossos olhos e nos ajuda a entender como Deus lida com crises que frustram planos e tornam incerto o futuro. Um dos exemplos marcantes está em Atos 16, quando a igreja experimentava grande crescimento (16:5) e planejava alcançar a Ásia. Mas repentinamente Deus mudou tudo.
Paulo e sua equipe já estavam preparados para o novo projeto missionário quando foram “impedidos pelo Espírito Santo” (16:6). Mudaram de rota, indo para a Bitínia, e novamente “o Espírito de Jesus não permitiu” (16:7). Todos os planos já tinham sido frustrados, quando veio um chamado sobrenatural para a Macedônia (16:8, 9), um dos maiores países da Europa.
Desde o seu chamado para o ministério, Paulo havia aprendido a aceitar as mudanças radicais do Senhor. Por isso, quando Deus fez o ajuste de planos, ele e sua equipe não tiveram dúvida: “imediatamente, procuramos partir”, “concluindo que Deus nos havia chamado” (16:10). Os resultados foram impressionantes: a mensagem se espalhou pela Europa e, em seguida, pelo mundo.
Em Filipos, o apóstolo e sua equipe começaram a compreender os planos de Deus. Entenderam que Sua especialidade não é fechar portas, mas abri-las. Nessa cidade, encontraram Lídia, uma próspera empresária que serviu de grande apoio ao crescimento da igreja. Paulo e Silas também foram presos, enfrentaram um terremoto, cuidaram dos presos, mas por fim batizaram o carcereiro e sua família. Era apenas o começo de uma história cheia de bênçãos, milagres e crescimento.
Os resultados ficaram mais claros dez anos depois, quando Paulo estava preso em Roma e aguardava sua execução. Ele decidiu olhar para trás, escrever uma carta aos filipenses, recordar a maneira pela qual Deus havia dirigido toda a história e registrar lições que não deveriam ser esquecidas e que podem nos ajudar a enfrentar as mudanças de planos hoje.
No primeiro capítulo, Paulo lembra que todas as dificuldades precisam ser enfrentadas com gratidão (Fp 1:3). Ela é o combustível da fé, pois, quanto mais somos gratos pelo passado, mais renovamos a confiança no futuro. Também nos desafia a encarar as crises com alegria (1:4). Por isso, repete 19 vezes a importância de termos “alegria no Senhor”, aquela que não vem pela falta de problemas, mas pela presença de Cristo. Ele ainda nos chama a descansar no cuidado do Senhor, que sempre completa Sua obra (1:6) e oferece as melhores oportunidades através das maiores dificuldades. Convida também a priorizarmos “o avanço do evangelho” (1:12), como aconteceu em seus dias, quando a mensagem alcançou o centro do poder da época (4:22). Se a missão vai ganhar, não importa o que vamos perder.
No último capítulo, Paulo renova a certeza de que Deus sempre está no comando. A jornada não foi fácil, mas o Senhor é nossa força (4:13). Somos chamados a viver pela fé e não ser consumidos pelo medo. A não viver pelo que vemos, mas pelo que cremos. Finalmente, o idoso apóstolo concluiu seu aprendizado com a certeza de que o cuidado de Deus é mais importante do que qualquer mudança de planos, pois o Senhor sempre suprirá cada uma de nossas necessidades (4:19).
ERTON KÖHLER é o presidente da Igreja Adventista para a América do Sul
(Artigo publicado na seção Bússola da edição de julho de 2020 da Revista Adventista)
Última atualização em 20 de julho de 2020 por Márcio Tonetti.