A novidade da vez

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Ferramentas como o ChatGPT mostram que a Inteligência Artificial veio para ficar,
mas precisamos pensar sobre suas implicações

Vanessa Pizzuto

Foto: Adobe Stock

Durante um treinamento recente sobre gestão de crises, nosso instrutor passou um tempo exagerado elogiando o ChatGPT. Como eu não tinha ideia do que se tratava, discretamente pesquisei no meu celular. O ChatGPT, ou Chat Generative Pre-Training Transformer, é basicamente um software usado para conversas on-line, sendo alimentado por Inteligência Artificial (IA) e projetado pelo OpenAI, laboratório de pesquisa da Califórnia, nos Estados Unidos. A ferramenta pode fornecer respostas surpreendentemente humanas a qualquer solicitação.

E tem mais! O ChatGPT pode conceber programas de computador e compor música. Pode até escrever ensaios e poesias. Considerando sua simplicidade de uso e, por outro lado, seu poderoso resultado, nosso instrutor proporcionou uma breve demonstração. Tudo o que ele fez foi conectar o ChatGPT ao Google Forms e pedir que escrevesse o índice de um artigo sobre “gestão de crise” e alguns parágrafos também. Depois de esperar apenas alguns segundos, à nossa frente estava um texto notavelmente coerente e preciso.

Questões de Copyright

Então perguntei o que qualquer escritor teria perguntado: “E quanto aos direitos autorais?” Afinal, o ChatGPT foi treinado usando uma enorme quantidade de dados da internet, alguns dos quais são materiais com direitos autorais. Acontece que essa é uma área cinzenta. No momento, não está claro se o ChatGPT altera suficientemente as obras originais para evitar violações de direitos autorais. O que está claro é que o OpenAI não parece se responsabilizar pelas violações. Portanto, ao que tudo indica, os usuários terão que responder se forem confrontados com uma ação judicial.

Implicações com os direitos autorais à parte, uma coisa é certa: com o Google lançando também seu próprio chatbot, chamado Bard, a IA, mais do que nunca, já faz parte do nosso dia a dia.

Implicações para a educação

Quase todos na minha família são professores. Assim, uma vez terminado o treinamento, minha mente passou diretamente às implicações para a educação. Peguei o telefone e liguei para minha irmã gêmea, Inés, que é professora em uma escola bilíngue na Argentina.

A Inteligência Artificial deve deixar de ser dirigida por dados para ser dirigida por princípios

Conversamos um pouco sobre como a IA forçará as instituições educacionais a repensar o plágio. Mas logo estávamos navegando em águas mais profundas, discutindo critérios de avaliação e os objetivos fundamentais da educação. “Acho que os avanços da IA nos forçarão a nos concentrar ainda mais na instrução emocional e no pensamento crítico”, disse minha irmã. “Em uma época em que um computador pode dar uma resposta em fração de segundos, nossa ênfase deve ser no discernimento, não na regurgitação de conteúdo”, ela completou.

E quanto à igreja?

Como igreja, quando encaramos cenários complexos como esse, frequentemente adotamos a abordagem simplista de demonizarmos as novas tecnologias. Creio que esse seja um erro terrível, porque essa tecnologia não desaparecerá. E quanto mais adiarmos nosso engajamento, mais seremos vulneráveis a potenciais abusos e menos capazes de impactar efetivamente a sociedade. Afinal, a menos que o sal se misture com o alimento, ele não pode ressaltar o seu sabor.

Ao mesmo tempo, devemos defender o valor da compaixão como um componente-chave da IA. Compaixão não é uma palavra associada a ela com frequência. Mas espero que, um dia, seja. Pelo menos, poderia ser, se começarmos a ensinar a cultura e a ética da IA. Podemos garantir que desenvolvimentos como o ChatGPT melhorem significativamente nossa vida e nossa sociedade. A IA compassiva não só é possível, mas também absolutamente necessária. Somente então, a IA poderá prestar uma contribuição importante para nossa missão.

VANESSA PIZZUTO é diretora associada do departamento de Comunicação da Divisão Transeuropeia

(Texto publicado na edição de maio/2023 da Revista Adventista / Adventist World)

Última atualização em 5 de maio de 2023 por Márcio Tonetti.