A redescoberta da caridade

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Todo cristão é desafiado a doar um pouco de si

Márcio Tonetti

Foto: Adobe Stock

Se você fosse um bilionário, quanto da sua fortuna estaria disposto a doar? Segundo um ranking da revista Forbes, no ano passado, os 25 mais generosos dos Estados Unidos deram uma quantia estimada em US$ 169 bilhões. Foi com o objetivo de desafiar os mais ricos a doar a maior parte de seu patrimônio em vida que, em 2010, nasceu a The Giving Pledge. Warren Buffett, um dos fundadores da entidade filantrópica juntamente com o casal Bill e Melinda Gates, assumiu o compromisso de doar 99% de sua riqueza. Recentemente, Jeff Bezos, o fundador da Amazon, também se tornou signatário desse plano ao anunciar que irá destinar US$ 124 bilhões para caridade.

No entanto, doar não é exclusividade de quem tem alto poder aquisitivo. Aliás, em uma entrevista concedida em 2019 à revista Veja, o filantropo José Luiz Setúbal considerou que os mais ricos doam pouco. “Há aqueles que não têm quase nada e, mesmo assim, doam”, disse ao enfatizar que a generosidade é uma questão de compromisso com o próximo.

Felizmente, conforme aponta o World Giving Index 2022, levantamento feito pela organização britânica Charities Aid Foundation (CAF) e divulgado em setembro, a generosidade tem crescido no mundo. E, embora não esteja no topo desse ranking, que é liderado por países como Indonésia, Quênia e Estados Unidos, nos últimos anos o Brasil passou da 54ª para a 18ª posição, tendo melhorado especialmente no quesito “ajuda a um desconhecido”.

Fatores econômicos, sociais, culturais e religiosos podem criar um ambiente favorável para essa prática. Além disso, quando existe uma causa por trás, o engajamento tende a ser maior, conforme mostrou a Pesquisa Doação Brasil 2020. Naturalmente, isso deveria fazer dos cristãos os maiores doadores de tempo e recursos. Afinal, o próprio Jesus disse que dar é melhor do que receber (At 20:35).

O espírito solidário não deve se limitar ao período do Natal nem a contextos de tragédias, quando ficamos mais sensibilizados

Infelizmente, apesar de a maioria das pessoas considerar positivo o ato de doar, fatores como a desconfiança nas organizações e a concepção de que os problemas sociais são responsabilidade do governo ainda impedem que muitos repartam com o próximo as bênçãos de Deus. Porém, Ellen White, que também viveu em um contexto de bastante desigualdade, entendia a importância da caridade. Dando o exemplo, ela costurou meias para missionários que serviriam no rigoroso inverno do norte da Europa e ajudou a custear os estudos de alunos que não tinham condições de fazê-lo.

Sempre com uma visão mais ampla do trabalho humanitário, ela escreveu: “A verdadeira filantropia significa […] um genuíno interesse no bem-estar dos outros. Devemos tentar compreender as necessidades e ambiente dos pobres e aflitos e dar-lhes a ajuda que lhes seja mais benéfica. Dar tempo e pensamentos e esforço pessoal custa muito mais do que simplesmente dar dinheiro. Mas é a mais genuína caridade” [Um Convite à Diferença [Publicadora Atlântico, 2002], p. 97).

Para a pioneira do adventismo, a bondade e o amor são chaves para alcançar o coração (Beneficência Social, p. 81). Nessa via de mão dupla, ajudar os outros também desenvolverá o caráter (Review and Herald, 27 de junho de 1893). Foi o que ela chamou de “bênção reflexa”.

O espírito solidário não deve se limitar ao período do Natal nem a contextos de tragédias, quando ficamos mais sensibilizados. Cada cristão é desafiado a doar um pouco de si e fazer disso um estilo de vida. A realidade do mundo é um constante lembrete e, ao mesmo tempo, um convite à prática da verdadeira religião (Tg 1:27), que supre necessidades físicas, emocionais e espirituais.

MÁRCIO TONETTI, pastor e jornalista, é editor associado da Revista Adventista

(Texto publicado originalmente na seção Enfim da Revista Adventista de dezembro/2022)

Última atualização em 5 de dezembro de 2022 por Márcio Tonetti.