Conheça a história de um pastor que cruza os céus peruanos para salvar vidas em comunidades de difícil acesso
Márcio Tonetti
Num país onde montanhas, rios e selvas dificultam o acesso a centenas de comunidades isoladas, os céus do Peru tornaram-se uma ponte de esperança e salvação. É por essas rotas aéreas que o pastor e piloto missionário Eben Ezer Espinosa tem levado ajuda. À frente do Projeto Peru, ministério de apoio da Igreja Adventista, ele lidera um trabalho desafiador e inspirador, que inclui assistência médica, humanitária e espiritual.
Em que consiste o Projeto Peru?
Esse ministério é responsável por atender comunidades e igrejas de difícil acesso na selva peruana. Uma viagem que levaria, em média, uma hora de avião pode durar até um dia inteiro de barco. Por isso, o avião torna-se um meio de transporte vital, especialmente em situações de emergência médica. Com frequência, atendemos casos de mulheres grávidas ou de pessoas mordidas por serpentes, entre outras ocorrências em que a rapidez no atendimento pode significar a diferença entre a vida e a morte. Além disso, visitamos comunidades, igrejas e missionários com o objetivo de motivá-los e equipá-los com Bíblias e outros materiais. Nessas viagens missionárias, surgem oportunidades para dedicar crianças, ungir enfermos, realizar batismos, ministrar a Ceia do Senhor e prestar assistência em funerais. Por essa razão, buscamos realizar o máximo possível em cada visita, pois sabemos que pode demorar até retornarmos àquele local. Mais do que uma companhia aérea voltada ao apoio social, nossa missão é levar o evangelho. Para isso, oferecemos um treinamento missionário, por meio do qual recebemos jovens voluntários. Após um período de preparo de dois meses em nossa base, eles são enviados em duplas missionárias às comunidades em que atuamos.
Quando você sentiu o chamado para realizar esse trabalho?
Desde criança, sonhava em ser pastor, piloto e missionário. Deus me chamou para esse ministério por meio do exemplo dos meus pais. A entrega incondicional deles à obra do Senhor fortaleceu em mim o desejo de servir. Hoje, percebo que até mesmo na escolha do nome que me deram já havia uma mensagem voltada para uma vida de serviço ao próximo: Eben, que significa “pedra”, e Ezer, “ajuda”.
Você poderia compartilhar um dos testemunhos que mais o impactaram nesse ministério?
É difícil escolher apenas um testemunho, pois há muitas histórias impressionantes. Mas uma que me marcou foi a do pequeno Alexis. Ele nasceu com um problema grave no intestino e tinha apenas algumas horas de vida para receber atendimento médico. No entanto, o povoado de Dulce Glória, onde seus pais viviam, era acessível apenas por via aérea. Contra quase todos os prognósticos – condições climáticas, logísticas e médicas –, conseguimos pousar naquela comunidade e transportar o bebê e sua mãe com segurança até o hospital da cidade mais próxima. Foi extremamente gratificante saber que Alexis havia sobrevivido. Porém, depois disso, não tivemos mais notícias. Aproximadamente sete anos depois, durante uma visita missionária em um sábado, em uma das igrejas da região da fronteira com o Brasil, na localidade de Puerto Breu, um menino se aproximou de mim, me abraçou e disse: “Você me salvou!” Foi emocionante reencontrar aquela família. Alexis representa não só uma vida salva, mas um futuro cheio de possibilidades no evangelho.
Qual é o maior desafio enfrentado pelo projeto atualmente?
O maior desafio, atualmente, é a renovação da frota. A aquisição de aeronaves mais novas e de maior porte permitiria realizar voos mais seguros e aumentar a capacidade de transporte de equipes médicas e ajuda humanitária. Nosso objetivo é expandir os limites de atuação do ministério, alcançando regiões que ainda não conseguimos atingir.
(Entrevista publicada originalmente na Revista Adventista de julho/2025)
Última atualização em 29 de julho de 2025 por Márcio Tonetti.