Conheça o casal de pesquisadores da Universidade de Loma Linda que se tornou referência internacional nos estudos sobre demência
Cassandra Wagner
Foi aparentemente por acaso, em uma festa na capital do Afeganistão, Cabul, em 2003, que dois jovens médicos se encontraram e criaram conexões a partir de um fato em comum: a perda dos avós por demência. Para Dean e Ayesha Sherzai, esse vínculo moldaria os 17 anos seguintes de sua vida como cônjuges, neurologistas e pesquisadores do mal de Alzheimer.
Hoje, como codiretores do Programa de Saúde do Cérebro e Prevenção do Alzheimer da Escola de Saúde da Universidade de Loma Linda, na Califórnia (EUA), o casal tem ajudado milhares de pacientes – desde aqueles que têm problemas cognitivos até os que sofrem de Alzheimer – a encontrar esperança por meio de mudanças no estilo de vida. Atualmente, o Alzheimer é a sexta principal causa de morte nos Estados Unidos e afeta cerca de 5,8 milhões de americanos a cada ano.
“Quando olhamos para os números e percebemos que a cada 64 segundos alguém desenvolve Alzheimer, nos perguntamos se isso pode ser evitado”, diz Dean. “A resposta é sim. Descobrimos que mais de 90% dos casos podem ser evitados e isso começa com nossa maneira de cuidar de nós mesmos”, o médico explica.
Na Escola de Saúde de Loma Linda, eles criaram o plano NEURO, uma abordagem concentrada no estilo de vida para prevenir a doença, e produziram o livro The Alzheimer’s Solution, um best-seller com tradução para o português, inclusive, a fim de compartilhar com o mundo os resultados de suas pesquisas.
“Não há uma droga, vitamina, comida nem exercício único que impeça o Alzheimer”, Dean explica. “Usamos a abordagem NEURO com nossos pacientes porque é um plano abrangente que melhora múltiplas facetas que afetam a saúde do cérebro”, acrescenta.
Dean começou a batalha contra a doença em 1979, quando o avô, um ex-secretário de Estado da Educação, esqueceu como devia mover uma das peças enquanto jogava xadrez com o neto. No caso de Ayesha, a jornada começaria em Cabul, quando o avô, ex-primeiro ministro do Afeganistão, esqueceu seu nome em certa ocasião.
Dean completou a residência em neurologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Georgetown e recebeu uma bolsa para estudar terapêutica experimental em doenças neurodegenerativas no National Institutes of Health (NIH). No fim do período de vigência da bolsa de estudos, em 2002, ele foi recrutado pelo Banco Mundial para liderar os esforços de assistência médica no início do governo de Hamid Karzai, no Afeganistão. Posteriormente, ele foi solicitado pelo presidente para ajudar a reconstruir o sistema de saúde do país árabe como vice-ministro da Saúde. Nessa época, Ayesha, recém-graduada em Medicina, havia se apresentado como voluntária para trabalhar em campos de refugiados perto de Cabul.
Eles se casaram em 2004 e passaram os três anos seguintes no Afeganistão trabalhando para capacitar 10 mil mulheres em obstetrícia e outras disciplinas em regiões controladas pelo Taliban. No entanto, a frustração com a burocracia do governo os levou a retornar aos Estados Unidos. Lá continuaram realizando trabalhos significativos no campo da neurologia. Ayesha concluiu um duplo treinamento em Medicina Preventiva e Neurologia na Universidade de Loma Linda e recebeu uma bolsa em Neurologia Vascular e Epidemiologia na Universidade Columbia.
Dean concluiu dois mestrados: um em Ciências Avançadas na Universidade da Califórnia, em San Diego, e outro em Saúde Pública pela Universidade de Loma Linda. Atualmente, ele está terminando o doutorado na área de Liderança em Saúde na Universidade Andrews.
Em 2008, os Sherzais chegaram à Escola de Saúde da Universidade de Loma Linda, onde tiveram a oportunidade de pesquisar dois grupos muito diferentes e observar o impacto que o estilo de vida saudável tem no cérebro. De um lado, os Sherzais trataram pacientes da população adventista do sétimo dia de Loma Linda, conhecida por ter uma alimentação à base de plantas, realizar atividade física regularmente e dar ênfase na fé e na comunidade. De outro, acompanharam os da cidade vizinha, San Bernardino, área carente com altos índices de doenças crônicas e falta de acesso a cuidados básicos. “Observando essas duas populações distintas, verificamos consistentemente que os pacientes que tinham um estilo de vida mais saudável apresentavam taxas muito mais baixas de demência”, diz Dean.
Capacitados a partir de seus estudos na Escola de Saúde da Universidade de Loma Linda, os Sherzais aceitaram atuar no Programa de Prevenção do Alzheimer no Cedars-Sinai Medical Center, na cidade de Los Angeles, em 2014. Lá eles trabalharam com a elite de Hollywood e participaram de estudos inovadores, que os levaram a concluir que o estilo de vida pode realmente ser uma forma de tratamento bem-sucedida contra o Alzheimer.
Evidentemente, eles não chegaram a essa conclusão da noite para o dia. Ayesha diz que, quando começaram como neurologistas, eles esperavam que suas pesquisas resultassem na cura ou no desenvolvimento de uma pílula que combatesse a patologia que eles conheciam muito bem. “Foram necessários quinze anos de trabalho com pacientes para percebermos que não se pode abordar com assistência médica uma doença crônica do envelhecimento, como demência”, diz Ayesha. “Para nós, o conceito de prevenção se tornou muito importante”, ela ressalta.
Motivados pelos resultados dos estudos e pelo desejo de ajudar outras comunidades, Dean e Ayesha retornaram a Loma Linda em 2017 e continuaram o trabalho como codiretores do Programa de Saúde do Cérebro e Prevenção do Alzheimer. Com base nos dados que eles coletaram de seus pacientes e que serviram de apoio aos estudos longitudinais da saúde dos adventistas nos Estados Unidos e a outras pesquisas externas sobre estilo de vida, o casal de médicos está determinado a compartilhar com o mundo o que acredita ser uma das formas de frear o mal de Alzheimer. “A medicina está em constante avanço e é fundamental para o atendimento ao paciente que nossos estudos evoluam”, Ayesha sublinha.
A Associação Americana de Alzheimer prevê que cerca de 14 milhões de americanos terão a doença ou problemas de demência até 2050. No entanto, os Sherzais acreditam que é possível reverter esse prognóstico. “Você não pode controlar sua idade nem seu perfil genético, mas pode controlar suas escolhas relacionadas ao estilo de vida, a melhor defesa que temos”, diz Dean.
A fim de conscientizar as pessoas a respeito do mal de Alzheimer, aqui estão cinco coisas que eles dizem que você pode começar a fazer agora para reduzir o risco de ter a doença.
- Alimente seu cérebro com uma dieta rica em frutas, grãos, vegetais, feijões e legumes, além de nozes e sementes.
- Você não precisa ser um entusiasta da academia para ser ativo. Mas estabeleça como meta se movimentar a cada hora e progrida para uma rotina de exercícios dos quais você goste e que possam ser praticados em casa mesmo.
- Encontre espaço no seu dia para praticar atividades que desestressam.
- Crie o hábito de dormir de sete a oito horas restauradoras à noite.
- Seja sociável e encontre coisas que desafiem seu cérebro, como aprender um novo idioma ou tocar um instrumento musical. Essas atividades criam resiliência ao declínio cognitivo.
CASSANDRA WAGNER atua na equipe de comunicação e relações públicas da Escola de Saúde da Universidade de Loma Linda, na Califórnia (EUA)
Última atualização em 22 de novembro de 2019 por Márcio Tonetti.