Batismos, homenagens e lançamento de um livro sobre a história da igreja marcaram as comemorações do centenário da Divisão Sul-Americana
O passado, o presente e o futuro da igreja na América do Sul se interligaram durante o Concílio Quinquenal da Divisão Sul-Americana, realizado entre os dias 3 e 7 de novembro, em Brasília (DF). Para os mais de 200 administradores que participaram do encontro, esse foi um momento para refletir sobre o atual panorama da denominação no continente e planejar os rumos da igreja para os próximos cinco anos. Além disso, eles também relembraram como Deus conduziu a denominação desde que ela estabeleceu suas raízes nessa parte do mundo. “Precisamos liderar olhando para a frente, mas sem tirar os olhos do retrovisor”, disse na ocasião o presidente sul-americano da igreja, pastor Erton Köhler.
Prestes a completar cem anos de existência, a Divisão Sul-Americana aproveitou a ocasião para comemorar esse marco histórico. Os dois últimos dias do evento foram dedicados a uma programação especial que trouxe, a partir da ótica de cada departamento, dados sobre o crescimento do adventismo na América do Sul ao longo desse período.
Cada apresentação destacou não somente os feitos de um passado distante, mas as conquistas atuais. “Quando olhamos para o que a igreja era e o que ela representa hoje, vemos que nesses 100 anos não aconteceram só bênçãos, aconteceram milagres. O fato de, nesses 100 anos, ela ter crescido 10 vezes mais do que a população, não é normal. O normal seria que nós tivéssemos acompanhado o crescimento da nossa própria geografia. Por isso, eu vejo que Deus olhou com carinho para a América do Sul, abençoou esse continente e fez muitos milagres. E o mais bonito é que os milagres do passado continuam se repetindo no presente”, reforçou Erton Köhler.
Entre as inspiradoras histórias de conversão registradas nos últimos anos, a do jovem Renato de Oliveira ganhou destaque no evento na sexta-feira à noite. Há aproximadamente quatro anos, o ex-integrante de uma banda de rock teve contato com o evangelho por meio do livro O Grande Conflito, de autoria da escritora norte-americana Ellen G. White, e foi batizado.
Entre as surpresas reveladas durante a programação também se destacaram 12 batismos realizados em um tanque colocado dentro de uma réplica do primeiro templo adventista sul-americano, estabelecido em 1887 na região de Crespo, Entre Ríos (Argentina). Para a adolescente Giuliana Hetze, de 14 anos, ser batizada nesse local teve um significado especial: ela é descendente de Reinhardt Hetze, o primeiro adventista sul-americano batizado de que se tem registro.
Giuliana estava acompanhada de seu pai, Ariel, que é tataraneto do pioneiro. Homenageado durante o evento, o contador público que vive na região que foi uma das portas de entrada do adventismo na Argentina, contou como seu tataravô abraçou a fé adventista e se tornou um missionário voluntário. “Em 1890, meu tataravô hospedou o missionário Jorge Riffel, que tinha aceitado a mensagem nos Estados Unidos e veio pregar na Argentina. Foi por meio desse homem que Reinhardt se tornou adventista, embora já tivesse tido contato com a mensagem na Europa. Creio que ele deve ter enfrentado uma situação muito difícil para viver a fé adventista naquela época e pregar numa região agreste. Se ele fez tanto naquele período, iniciando a obra em vários lugares, nós podemos fazer muito mais hoje”, ressalta Ariel.
De geração em geração
A história que passou de geração em geração, chegando até Giuliana, a sexta geração de adventistas na família Hetze, agora também está registrada em um livro lançado no último sábado, 7 de novembro, como parte das comemorações do centenário.
A obra, composta por nove capítulos e 236 páginas, foi escrita pelo pastor Roberto Gullón Canedo. Aos 83 anos, ele diz que “ver esse livro publicado é uma felicidade e uma recompensa, pois, ao longo da minha vida, sempre me interessei pela história da igreja”.
Gullón afirma que, ao escrever a obra Uma semente de esperança, impressa pela Casa Publicadora Brasileira e editorada por Rubens Lessa, que trabalhou como redator-chefe da editora por vários anos, ele teve a confirmação de que Deus abençoou ricamente sua igreja, aumentando o número de membros. E, como resultado desse crescimento de fiéis, foi necessário que a organização ampliasse sua estrutura.
“À semelhança do que acontece com uma criança, uma estrutura nasce, cresce e se desenvolve, e um fato significativo ocorreu em 1895, quando a Missão Costa Leste da América do Sul se dividiu para a criação da Missão Brasileira. Em 1901, foi estabelecida a União-Missão Sul-Americana. Depois de outras fases em que se dividiram e subdividiram, ocorreu o maior acontecimento, ou seja, a organização, em 1916, da Divisão Sul-Americana, com 4.903 membros” (p. 27).
Roberto Gullón divide o livro em três fases. A primeira delas, que abrange o período de 1885 a 1894, fala sobre “os primórdios da obra adventista na América do Sul e os meios utilizados pelo Senhor para que, no devido tempo, a luz da mensagem do terceiro anjo começasse a brilhar nestas terras”. Na sequência, o autor descreve o que aconteceu entre 1894 a 1916, época que envolve a organização das primeiras igrejas no continente. Também é apresentada a maneira pela qual a estrutura organizacional, até então conhecida como Missão Sul-Americana, desenvolveu-se rapidamente “com ousadia e coragem incríveis”. A terceira fase (1916-2015) retrata a organização da Divisão Sul-Americana e o desenvolvimento de sua estrutura organizacional. Nessa parte, Gullón também narra a transferência da DSA de Buenos Aires para Montevidéu, no Uruguai, e, posteriormente, para Brasília (DF), além de apresentar o perfil de cada um dos presidentes da Divisão.
João Wolff, que presidiu a Divisão Sul-Americana de abril de 1980 a julho de 1995, é o único ex-presidente ainda vivo. Ele foi um dos personagens homenageados durante o lançamento do livro do centenário. Emocionado, Wolff afirmou que “muitos novos templos foram fundados nesse período como resultado do trabalho de centenas de pessoas, incluindo aqueles que dirigiram esse departamento” e que fica “cada dia mais feliz ao ver como Deus tem conduzido sua igreja rumo ao cumprimento dessa missão”.Protagonismo sul-americano
Como afirma Gullón (p. 225), se no passado a América do Sul já foi conhecida no mundo adventista como o “continente negligenciado”, passando a ser visto, na década de 1950, como o “continente das oportunidades”, no século 21 pode-se dizer que ele é o “continente do futuro”.
De fato, os olhos do mundo adventista na atualidade estão voltados para a América do Sul, cujo território concentra mais de 2,2 milhões de adventistas. Conforme expressou o presidente mundial da Igreja Adventista, pastor Ted Wilson, que acompanhou toda a programação, “é fascinante ver como a Divisão Sul-Americana, com sua grande energia e foco na missão, está agora além de suas fronteiras, enviando missionários para outras partes do mundo e participando das atividades mundiais da igreja como nunca antes”.Assim, a igreja na América do Sul vem desempenhando um papel protagonista na história do adventismo no século 21. Mas, embora esse seja um importante motivo para comemorar, a liderança da organização no continente fez questão de ressaltar que o objetivo da igreja não é continuar mais um século neste mundo. Afinal, como observou o pastor Edward Heidinger, secretário executivo da Divisão Sul-Americana, “se todos se envolvessem na missão, nós passaríamos de um centenário na Terra para um milênio no céu”. [Márcio Tonetti, equipe RA / Com informações de Jefferson Paradello]
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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.