Cinco macrotendências que, de acordo com os analistas, continuarão tendo impacto em 2023
Márcio Tonetti
Se você buscar pelos termos “tendências para 2023” no Google encontrará, em menos de um segundo, aproximadamente 33,4 milhões de resultados (somente em português, é claro). Embora boa parte das referências não mereça sua atenção, alguns desses links trazem informações úteis em relação aos cenários que poderemos ter no próximo ano. Muitas projeções têm sido feitas, mas destacaremos apenas cinco macrotendências que vão da tecnologia ao meio ambiente.
- Tecnologia. Os especialistas dizem que o chamado “metaverso” tende a se fortalecer, apesar de não sabermos ao certo se ele será uma onda passageira como o ambiente virtual Second Life foi há alguns anos. Aliás, as ações da Meta despencaram, mas pode ser que o conceito em si ganhe mais popularidade. Seja como for, alguns preveem ambientes virtuais mais imersivos e colaborativos. Para tanto, empresas como a Microsoft e a Nvidia estão desenvolvendo plataformas de trabalho com essas características. Outra tendência, de acordo com o site da revista Forbes, é de aperfeiçoamento dos avatares, com robôs cada vez mais humanizados e estilizados, capazes de imitar nosso timbre de voz e nossa linguagem corporal. Assim, a Inteligência Artificial estará cada vez mais presente na vida das pessoas.
- Geopolítica. Mais do que no passado, o mundo de hoje funciona como uma engrenagem. Atritos entre China e Taiwan, maior produtora de chips (semicondutores), podem afetar, evidentemente, fabricantes de produtos tecnológicos de todo o globo. Da mesma forma, a comunidade internacional continuará sentindo os efeitos das tensões no Leste Europeu e terá que lidar com a imprevisibilidade do impacto do conflito na geopolítica e na segurança, conforme escreveu Tom Standage (saiba mais aqui). Os analistas acreditam que a Rússia irá prolongar a guerra na tentativa de fazer com que a escassez de energia e as mudanças políticas nos Estados Unidos prejudiquem o apoio ocidental à Ucrânia. Paralelamente, estamos vendo o fortalecimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que receberá dois novos membros. Por outro lado, percebe-se um movimento de desarticulação de alianças políticas e econômicas favorecidas pelo crescente protecionismo. É o que os analistas têm chamado de “desglobalização”, um fenômeno que pode ser temporário ou não. O fato é que isso colocará em risco a ideia de um “mundo sem fronteiras”, pelo menos do ponto de vista comercial.
- Economia. O relatório “Perspectivas Econômicas Globais”, divulgado pelo Banco Mundial em janeiro deste ano, já apontava uma desaceleração de 4,1% em 2022 e de 3,2% em 2023, tendo em vista os reflexos da pandemia, o descontrole inflacionário, a guerra na Ucrânia, crises energéticas, etc. Infelizmente, as previsões de recessão econômica se mantêm. Alguns se perguntam, inclusive, se a própria China, segunda maior economia do planeta, começará a entrar em declínio, seguindo a tendência de seus indicadores demográficos (se as projeções da ONU se confirmarem, em 2023 a Índia irá assumir o posto de país mais populoso). Conforme prevê a revista britânica The Economist, as principais economias do mundo entrarão em recessão à medida que os bancos centrais aumentarem as taxas de juros para conter a inflação. A recessão mais forte provavelmente ocorrerá na Europa. Mas a “dor” será global, pois fatores como a desvalorização de outras moedas em relação ao dólar afetam principalmente os países em desenvolvimento, que já estão sofrendo com a alta no preço dos alimentos, por exemplo.
- Saúde. Embora a pandemia de Covid-19 tenha perdido força em 2022, o ano foi marcado por surtos de outras doenças, como a varíola dos macacos. Felizmente, a OMS vê sinais de esperança para 2023. A expectativa das autoridades sanitárias é que a Covid-19 deixe de ser uma emergência de saúde global. Porém, o vírus parece ter vindo para ficar, e os países devem continuar gerenciando essa e outras enfermidades respiratórias. O fato de apenas uma em cada cinco pessoas em países de baixa renda ter sido vacinada contra a Covid-19 é preocupante. Isso deve manter a comunidade internacional em estado de vigilância quanto à possibilidade de surgimento de novas cepas do coronavírus, o que, aliás, pode estar ligado às novas ondas de infecções e mortes na China.
- Meio ambiente. Neste ano, a Europa enfrentou uma das piores crises energéticas de sua história. Além dos efeitos da estiagem prolongada, o corte no fornecimento do gás russo trouxe complicações para a indústria e o bolso do consumidor. Mas, ao mesmo tempo que a escassez cada vez maior desse insumo traz grandes desafios, os especialistas encaram esse cenário como uma oportunidade para acelerar o processo de transição para matrizes energéticas renováveis. Recentemente, Fatih Birol, diretor-executivo da Agência Internacional de Energia, enfatizou isso: “O mundo da energia está mudando drasticamente diante de nossos olhos. As respostas dos governos em todo o mundo prometem fazer deste um ponto de virada histórico e definitivo em direção a um sistema de energia mais limpo, mais acessível e mais seguro.” Porém, apesar de a COP 27 (Conferência do Clima da ONU), realizada em novembro no Egito, ter buscado evoluir nos acordos globais contra as mudanças climáticas, o resultado das negociações ficou aquém do esperado. Portanto, o tema do meio ambiente deve continuar sendo uma questão prioritária na agenda global.
O que exatamente virá pela frente, somente Deus sabe. Não devemos consumir nossas energias físicas e mentais pensando nas dificuldades que poderão sobrevir nos próximos 365 dias ou nos próximos anos. O próprio Jesus aconselhou: “Portanto, não se preocupem com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal” (Mt 6:34).
Ao mesmo tempo, o cristão não deve viver alheio aos acontecimentos e tendências. Primeiro, porque isso nos ajuda a tomar precauções e fazer provisões. Precisamos estar cientes de que mudanças sociais, tecnológicas, geopolíticas, econômicas e ambientais afetam igualmente a igreja. Além disso, ficar de olho nos cenários que despontam no horizonte permite que repensemos atitudes e comportamentos e identifiquemos novas maneiras de ser relevantes no cumprimento da missão.
MÁRCIO TONETTI, pastor e jornalista, é editor associado da Revista Adventista
Fontes: forbes.com.br; news.un.org; episódio 32 do podcast A Síntese (UFRPE); ipea.gov.br; gazetadopovo.com.br; cnnbrasil.com.br; economist.com; e worldbank.org
Última atualização em 26 de dezembro de 2022 por Márcio Tonetti.