Declaração de consenso

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Documento formulado em simpósio teológico sul-americano reafirma a interpretação adventista do livro de Daniel  

Márcio Tonetti

O livro de Daniel foi o objeto de estudo do 14º Simpósio Bíblico-Teológico Sul-Americano, realizado nos dias 28 a 30 de abril na Faculdade Adventista do Paraná (FAP). O evento promovido pelo Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT), em parceria com o curso de Teologia da FAP, reuniu aproximadamente 400 teólogos, professores, pastores e outros interessados no tema. A programação incluiu palestras proferidas por estudiosos de vários países, bem como a apresentação de dezenas de trabalhos em salas temáticas, além da divulgação de obras teológicas produzidas pelas editoras da igreja.

Tradicionalmente, os simpósios resultam na formulação de uma Declaração de Consenso, que costuma ser elaborada por uma comissão envolvendo representantes do Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI, na sigla em inglês), órgão vinculado à sede mundial da denominação, decanos das faculdades de teologia, entre outros líderes da igreja. Leia a seguir a declaração na íntegra.

FACULDADE ADVENTISTA DO PARANÁ
SEMINÁRIO ADVENTISTA LATINO-AMERICANO DE TEOLOGIA
XIV Simpósio Bíblico-Teológico Sul-Americano
28 a 30 de abril de 2022

DECLARAÇÃO DE CONSENSO
“Daniel: Visões e mensagens para o tempo do fim”
Proposta para o XIV Simpósio Bíblico-Teológico Sul-Americano
Faculdade Adventista do Paraná
Ivatuba, Paraná, Brasil

      Nós, os participantes do XIV Simpósio Bíblico-Teológico Sul-Americano, após um estudo do tema “Daniel: Visões e mensagens para o tempo do fim”, segundo esta Declaração de Consenso, reafirmamos que:

  1. O livro de Daniel foi escrito pelo profeta homônimo que viveu nos séculos VII e VI a.C. Ele foi reconhecido como inspirado por diversas comunidades de fé, por seus contemporâneos, por Jesus e por escritores do Novo Testamento, seja em menções explícitas ou por alusões (Dn 1:1-7, 21; 5:1, 13; 6:1, 2; Mt 24:15; Ap 1:9-18 [comparar com Dn 10:7-9]; Ap 13:1-8 [comparar com Dn 7:1-8, 25; 8:25]).

  2. Conforme o texto de Daniel expressa repetidamente, o profeta recebeu revelações divinas por meio de sonhos e visões. Assim como as demais Escrituras, é Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo (Dn 2:19; 7:2; 8:1, 2, 16; 9:23; 2Tm 3:16; Hb 1:1; 2Pe 1:20, 21).

  3. O método interpretativo das profecias de Daniel, evidenciado no próprio livro, deve ser o historicista. Isso significa que os eventos identificados exegeticamente no livro têm seu cumprimento ao longo da história. É necessário ressaltar que o historicismo já contempla o passado, o presente e o futuro, e assim dispensa hermenêuticas críticas (Dn 7:15-27; 8:15-26; 9:24-27; comparar com Mt 24:15; Mc 1:15; Lc 21:20; Gl 4:4).

  4. Como um todo, o livro de Daniel apresenta um claro conceito de filosofia divina da história, que aponta para a soberania de Deus e a redenção dos fiéis (Dn 1:19-21; 2:46-49; 3:26-30; 4:34-37; 5:29, 30; 6:19-28; 7:9-14; 9:24; 12:1). 

  5. Jesus Cristo é identificado em Daniel como Filho do Homem, o Príncipe, o Ungido e como Miguel, o Grande Príncipe. Por Sua atuação redentora, o livro converge para a reconquista do domínio perdido desde o Éden (Dn 3:25; 7:13, 27; 9:25-27; 10:21; 12:1-3). Também alude às diferentes fases do ministério de Cristo como oferta pelo pecado (Dn 9:24), nosso Sumo Sacerdote no santuário celestial (Dn 8:14; comparar com Hb 1:3; 2:16, 17; 4:14-16; 8:1-5; 9:11-28; 10:19-22), nosso Advogado no juízo (Dn 7:10, 13; comparar com 1Jo 2:1) e como Rei vindouro (Dn 7:13).

  6. O princípio dia-ano marca as profecias de tempo de Daniel, que se estendem por longos períodos. As profecias sobre “tempo, tempos e metade de um tempo” (1260 dias), as 70 semanas, as 2300 tardes e manhãs, os 1290 e os 1335 dias também se fundamentam nesse princípio, o qual é subentendido, retomado e ampliado no Apocalipse (Dn 8:17, 19, 26; 10:14; comparar com Nm 14:34; Ez 4:6, 7; Mt 24:15; Dn 7:25; 8:14; 9:24-27; 12:11, 12; 2Ts 2:3, 4; Ap 11:2, 3, 9, 11; 12:6, 14; 13:5).

  7. A profecia das 2300 tardes e manhãs de Daniel 8:14 cumpriu-se em 22 de outubro de 1844, conforme o ponto de partida indicado pela explicação do anjo no livro, 457 a.C. (Dn 9:25). A purificação do santuário celestial e a restauração das verdades a seu respeito são elementos centrais dessa profecia que demarca o início do juízo investigativo pré-advento (Dn 9:25; cf. Dn 7:9-14; Ap 12:17; 14:6-12).

  8. A teologia do santuário celestial, conforme apresentada no livro de Daniel, constitui a chave hermenêutica que “revelou um sistema completo de verdades ligadas harmoniosamente entre si” (O Grande Conflito, p. 423). Portanto, a compreensão desse ensino bíblico tem fundamentado o desenvolvimento doutrinário e moldado a identidade e a missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Dn 8; comparar com Êx 25:8, 40; Lv 16; Hb 8:1, 2; 9:23; Ap 10; 14:6-12). 

  9. O livro de Daniel revela de modo explícito e implícito episódios e o desfecho do grande conflito entre Cristo e Satanás, iniciado no Céu e transferido para a Terra, onde se desenvolve até a erradicação do mal e o livramento dos filhos de Deus (Dn 1:1, 2; 10:12, 13; 12:1, 2).

  10. O profeta Daniel e seus amigos são um exemplo de estilo de vida e testemunho para o povo de Deus. Seus valores devem ser ensinados nos ambientes familiar e educacional, com vistas ao desenvolvimento de uma geração fiel e comprometida com a missão (Dn 1:8; 3:16-18; 6:10; 9:1-19; 11:11, 12:17; comparar com Ap 14:1-5).

  11. Ellen G. White estimula o estudo contínuo do livro de Daniel em conexão com o de Apocalipse (O Grande Conflito, p. 341), para identificar os perigos dos últimos dias (Conselhos sobre Educação, p. 114), expor a fé (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 410, 411) e experimentar um reavivamento espiritual (Testemunhos para Ministros, p. 114).

  12. O estudo e a difusão do conhecimento de Daniel no contexto do tempo do fim cumprem uma profecia anunciada de que o conhecimento a seu respeito se multiplicaria. Assim, renovamos nosso compromisso de investigá-lo à luz de toda a Bíblia, especialmente em conexão com o livro de Apocalipse. Conforme somos exortados por Cristo (Mt 24:15), é necessário aprofundar e expandir ainda mais o conhecimento desse livro profético, que se revela crucial para a igreja em meio aos desafios atuais e futuros (Dn 12:4, 9; comparar com 2Ts 2:10).

Última atualização em 2 de maio de 2022 por Márcio Tonetti.