Desafios e sonhos da juventude

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Jovens compartilham suas aspirações em relação à igreja

Márcio Tonetti

Convenção Jovem Maranata reuniu cerca de 20 mil pessoas de oito países sul-americanos em Brasília (DF). Foto: Naassom Azevedo

Manter as novas gerações engajadas na igreja é um desafio crucial para todas as denominações. Falhar em discipular essas gerações representa um grande risco, conforme destacou Barry Gane, um líder de jovens por mais de três décadas, ao afirmar que toda igreja está apenas a uma geração de sua extinção (O Caminho de Volta, CPB, 2013).

Recentes estudos, como o realizado pelo Grupo Barna em 2023, sob o título “Geração Autêntica”, destacam aspectos fundamentais sobre como a igreja pode se tornar mais relevante para a juventude. Um dos pontos mencionados é a busca dos jovens por espaços onde possam ser ouvidos e amados sem julgamentos. Eles anseiam por respostas francas às suas perguntas. Além disso, essa geração não tolera incoerências entre palavras e ações, reagindo vigorosamente contra contradições na vida daqueles que se apresentam como exemplos. Por outro lado, encontram inspiração em líderes que são transparentes, genuínos e capazes de reconhecer suas próprias vulnerabilidades.

Na verdade, as pesquisas revelam um cenário que apresenta desafios, mas também oportunidades significativas. Um exemplo disso é que, enquanto resistem ao autoritarismo e a abordagens hierárquicas, os jovens de hoje demonstram um espírito colaborativo e estão dispostos a participar ativamente da busca por soluções conjuntas. Eles também dispõem de recursos ilimitados que seus antecessores não tinham e desejam impactar o mundo, desde que enxerguem claramente o propósito ou a causa por trás de suas ações. Ao compartilharem uma visão comum, estão determinados a superar quaisquer desafios para alcançar grandes conquistas. Além disso, essa geração demonstra um engajamento muito maior em movimentos sociais, causas ambientais, na defesa de direitos humanos igualitários, e questões antirracistas, entre outras.

Como podemos direcionar todos esses esforços para a missão maior de fazer discípulos? O Plano Maranata, lançado durante a convenção jovem sul-americana em Brasília (DF), de 29 de maio a 1º de junho, visa enfrentar um desafio que preocupa a liderança da igreja na América do Sul: o crescente número de casos de apostasia, especialmente entre os jovens.

A nova estratégia da igreja para transformar este cenário resultou na criação de um livro, distribuído a cada um dos quase 20 mil jovens inscritos no evento (Maranata [CPB, 2024]). Baseado em 48 modelos de discipulado implementados ao redor do mundo, entrevistas com jovens sul-americanos e análises de estudos geracionais, foi elaborado um plano intencional fundamentado nas Escrituras. Este plano se desenvolverá a partir de quatro frentes de ação: Missão (M), Relacionamento (R), Nutrição (N) e Templo (T). “Nosso objetivo é preparar discípulos maduros e com uma fé robusta”, explica Herbert Cleber, diretor de bem-estar estudantil na Faculdade Adventista da Amazônia (Faama) e um dos autores. O pastor Stanley Arco, líder da igreja na América do Sul, enfatizou que o livro é um marco na história do Ministério Jovem. “Esperamos que ele revolucione a juventude na igreja local”, ressalta.

A VOZ DA JUVENTUDE

Compreender os diversos contextos em que os jovens estão inseridos é uma tarefa complexa, mas essencial. Em um ambiente tão multicultural quanto o da América do Sul, há uma variedade de desafios, expectativas e sonhos. É crucial que a igreja ouça a juventude ao explorar novas maneiras de se manter relevante para as novas gerações. A seguir, compartilhamos algumas das aspirações expressas por jovens de diferentes países que participaram da convenção Maranata.

Ruben Rivera Solar – Lima, Peru

“É preciso haver uma mudança de pensamento para que os jovens tenham uma participação ativa nas atividades da igreja, assim como os adultos. Com ideias atualizadas e planos que temos, acredito que podemos contribuir para o crescimento da igreja. Podemos começar pela inserção do Espaço Jovem em mais igrejas, o que ainda é um desafio em nosso país.”

Milena da Silva Ribeiro – Vitória, Brasil

“O maior desafio é conseguir unificar sem perder a essência. É preciso haver mudança, mas sem alterar a doutrina. Precisamos lembrar que as gerações e os modismos passam, mas a Palavra de Deus não. Penso que o caminho seja juntar as gerações, encontrar pontos em comum e trabalhar as ideias.”

Ángela Fernandez – Iquique, Chile

“É importante criar uma rede de apoio para adolescentes e jovens. Muitos desanimam e se distraem, perdendo a noção do que é prioridade. Além disso, existem grandes desafios em relação às emoções e à autoestima. O sentimento de vergonha e incapacidade tem sido um entrave para os relacionamentos.”

Matias Hugo – Montevidéu, Uruguai

“Ter um ambiente onde os jovens possam desenvolver seus dons e talentos para realizar a obra que Jesus nos deixou. Queremos ser úteis!”



Ramón Tachile – Resistência, Argentina

“Precisamos atrair novas pessoas e trazer de volta aquelas que abandonaram a igreja.”



Mary Luz – La Paz, Bolívia

“Se cada um iniciar a mudança em sua igreja, teremos um efeito em cadeia! Um dos principais dilemas da juventude adventista está relacionado aos vínculos que cultivam. Devido à falta de amizades na igreja, buscam preencher esse vazio em outros lugares. Criar laços é fundamental para a permanência na fé.”

MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista

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Última atualização em 4 de junho de 2024 por Márcio Tonetti.