Detentos ajudam a construir igrejas

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Projeto de ressocialização é desenvolvido por empresário adventista do interior de São Paulo
Créditos da imagem: Suellen Timm
Empresa estabeleceu unidades ao lado de Centros de Ressocialização. Créditos da imagem: Eduardo Valiante

Blocos, telhas, cimento, areia, pedras e piso. Construir um templo requer uma lista infindável de produtos e, consequentemente, de fornecedores. A empresa de seu Abelardo de Oliveira é uma das que têm fornecido matéria-prima para a edificação de igrejas adventistas no oeste do Estado de São Paulo.

O material produzido pela fábrica é usado não somente na construção de templos mas também de unidades escolares e casas populares. Mesmo com a recessão econômica e a desaceleração do setor de construção civil, o empresário não perdeu a visão social.

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O diferencial é que Oliveira tem em seu quadro de funcionários vários detentos e ex-presidiários. Algumas unidades da empresa funcionam, inclusive, ao lado de presídios. O empresário adventista começou com uma pequena fábrica e em pouco tempo expandiu a empresa, que hoje conta seis filiais espalhadas pela região.

A ideia de incluir presidiários no quadro de servidores começou na unidade que mantém em Araraquara, logo depois que o governo implantou no município um Centro de Ressocialização, projeto que abriga presos com bom comportamento e que estão prestes a sair da prisão, visando a reinseri-los na sociedade e a reduzir os elevados índices de reincidência no crime.

Enquanto na maioria das penitenciárias brasileiras quase metade dos presos voltam ao mundo do crime assim que conquistam a liberdade, no CR de Araraquara a taxa de reincidência não passa de 4%. “Já trabalho há quase 15 anos com presos no CR e só me lembro de ter visto um ou dois voltarem ao mundo do crime”, recorda Oliveira.

A empresa, que iniciou o trabalho com uma unidade exatamente ao lado do presídio, não demorou para fechar parcerias com outros centros de ressocialização, como aconteceu em Nova Europa, cidade em que o empresário reside.

A ideia é oferecer um espaço no qual os reeducandos trabalhem respeitando as regras do CR. Embora a empresa tenha mecanizado algumas etapas da produção, continuando fabricando algumas peças de maneira artesanal a fim de envolver os detentos no processo.

Oliveira conta com o apoio da família para administrar o empreendimento. O filho, Caio, é o braço direito do pai. Formando em Engenharia Mecânica, o rapaz fabrica e conserta as máquinas usadas na empresa da família.

O rapaz também ajuda a gerenciar o grupo de funcionários que auxilia no reparo e manutenção das máquinas. Marcelo Quirino, ex-presidiário, faz parte da equipe. Ele garante que, assim que muitos detentos recebem a liberdade, têm dificuldade para conseguir emprego, o que leva boa parte deles a voltar ao crime.

Quirino decidiu fazer diferente. Assim que cumpriu pena, foi convidado para trabalhar na empresa. Funcionário dedicado, ele confessa que não tem dinheiro que pague a oportunidade de ganhar o sustento de maneira honesta e pode recomeçar a vida depois de anos vivendo atrás das grades. “É bom quando você tem alguém que confia em você e no seu trabalho. Aqui somos tratados como um funcionário comum. Isso faz a diferença”, Quirino garante.

Sonhos

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Além de oferecer trabalho, Oliveira apresenta aos reeducandos uma nova perspectiva sobre a vida. Créditos da imagem: Eduardo Valiante

O empresário adventista afirma que, embora o projeto já tenha possibilitado a transformação de algumas pessoas, o plano é fortalecer sua dimensão evangelística. “Trabalhamos duramente, mas isso não é tudo. Quero mostrar para eles o que realmente vale a pena na vida”, destaca.

Com esse objetivo em mente, Oliveira quer começar a fazer do talento administrativo um ministério que promova transformação de maneira integral. “Quero mostrar que trabalhar duro para ter dinheiro não é o mais importante. O verdadeiro segredo do sucesso é colocar Deus em primeiro lugar”, ressalta.

SUELLEN TIMM é jornalista e trabalha como assessora de comunicação da Igreja Adventista na região oeste do Estado de São Paulo

Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.