Universidade de Loma Linda chama a atenção para a adoção de hábitos que promovam a saúde individual, coletiva e do planeta
Agatha Lemos
Enviada especial
A presença de participantes de todo o mundo confirmou a percepção dos organizadores do 7º Congresso Internacional de Nutrição Vegetariana quanto ao aumento do interesse em âmbito global, tanto de profissionais de saúde, como de instituições e comunidades, pela relação entre a dieta vegetariana e a saúde humana.
Contudo, o crescimento do interesse por essa dieta não significa que os estudos científicos nesse sentido já sejam suficientes. Há muito ainda a se descobrir. Diante disso, o evento realizado nos dias 26 a 28 de fevereiro na Universidade de Loma Linda, na Califórnia (EUA), forneceu uma revisão de estudos acumulados e apresentou conceitos teóricos, bem como aplicações práticas e implicações de práticas alimentares vegetarianas, tanto para a prevenção de doenças, como para a promoção da saúde, e para o aprofundamento de esforços de pesquisa.
Cientistas internacionais, médicos, nutricionistas e outros profissionais de saúde demonstraram os últimos avanços da ciência básica, epidemiologia e ensaios clínicos em nutrição vegetariana. Ainda que com abordagens e perspectivas distintas, todas as apresentações, de palestrantes de diferentes continentes, convergiram para a mesma premissa: a da vantagem da dieta vegetariana e de seu impacto sobre as pessoas, as populações e o planeta.
As plantas como dieta
Pode parecer coisa “dos antigos”, quem sabe uma receita “de vó”. Pode parecer modismo, quem sabe um movimento passageiro. Pode parecer também coisa de artista, de organizações em defesa dos animais ou de quem esteja buscando uma reforma no trato com a própria saúde. Pode ser tudo isso, mas não é!
Muito acima do gosto pessoal ou engajamento ideológico, quem agora dá voz à dieta vegetariana é a ciência, que a indica como a melhor alternativa para a saúde e nutrição humana: prevenção, tratamento e reversão de doenças.
A dieta baseada em plantas é a tendência para a redução de doenças crônicas e enfermidades metabólicas, com expectativas em especial para o diabetes. No entanto, os benefícios pelas plantas vão além, atuando positivamente, inclusive, sobre doenças mais graves como embolia, gota, catarata, neuropatia, problemas renais e muitas outras. “Os estudos mais atuais apontam que a dieta baseada em plantas, ou seja, verduras, legumes, frutas, grãos e nozes, está associada à diminuição do risco de doenças do coração e diabetes tipo 2. Porém, é importante destacar que mesmo as dietas vegetarianas podem não ser saudáveis, como quando se faz muito uso de alimentos refinados, carboidrato e açúcar. Nesse caso, elas acabam aumentando o risco de doenças”, alertou o palestrante Frank B. Hu, coordenador e professor na Escola de Saúde Pública de Harvard, e professor da Escola Médica de Harvard.
Estilo de vida sustentável
Por que nem todos os vegetarianos são iguais? Por que alguns vegetarianos desfrutam de saúde e longevidade, ao passo que outros sofrem com tantas doenças e chegam a perder a vida precocemente?
É verdade que a saúde é uma condição de bem-estar integral e, sendo assim, há muitas variantes, bem como determinantes sociais e contextuais que podem influenciar no resultado final ao se definir alguém saudável ou não.
Embora isso tenha que ser levado em consideração, em Loma Linda, ficou bastante evidente a relação entre estilo de vida e saúde. Isso significa que, com base nas pesquisas, não basta ser vegetariano, é preciso ter hábitos de vida sustentáveis, o que inclui, mas não se restringe a uma alimentação equilibrada. Não se trata de mera opinião, mas sim da afirmação de uma elite intelectual que vem dedicando décadas de estudo a este tipo de comprovação. “Chegará um momento na medicina em que ao entrar no consultório, a primeira pergunta do médico será: ‘O que você come?’”, provoca Frank Hu.
David Katz, médico, fundador do Centro de Pesquisa de Prevenção de Yale-Griffin, da Universidade de Yale e um dos principais especialistas em nutrição e estilo de vida dos Estados Unidos, responsável por orientar o desenvolvimento do sistema de perfil de nutrientes mais valioso do mundo, o Índice Geral de Qualidade Nutricional®, complementa: “Mesmo na área médica, alguns não gostam de ouvir sobre isso. Mas a verdade é que o estilo de vida é a verdadeira prevenção. O que teremos no futuro é o estilo de vida como medicina. Isso é muito sério, pois nosso comportamento pode, inclusive, mudar a estrutura dos nossos cromossomos. Podemos mudar nossos telômeros pelo estilo de vida que adotamos: dieta baseada em plantas, por exemplo. No entanto, não basta comer plantas e passar o dia todo sentado, inativo, sem movimento. É preciso exercício físico, ingestão de água, boas noites de sono, etc. Estamos falando de estilo de vida como meio de tratamento, prevenção e reversão de doenças!”
Por um mundo mais saudável
O 7º Congresso Internacional de Nutrição Vegetariana na Universidade de Loma Linda deu ênfase ainda à economia que o estilo de vida saudável pode gerar para o indivíduo, para a sociedade e para as políticas públicas de saúde das populações.
Tudo isso sem se esquecer de que é preciso haver um habitat para as gerações futuras. Apesar de a Terra continuar realizando seus movimentos de rotação e translação, continuamente, aparentando tranquila normalidade, é preciso atentar para a preservação dos recursos naturais.
A produção de comida gera muito estresse à bioesfera. A produção industrial da carne e de outros alimentos emite gases poluentes e compromete o meio ambiente em que vivemos. Muitas consequências já têm sido colhidas hoje. Imagine amanhã!
É por isso que a simplificação da vida por meio de escolhas sustentáveis é a aposta da ciência para a saúde humana e do planeta.
AGATHA LEMOS, jornalista e mestre em Ciência, é editora associada da revista Vida e Saúde
Última atualização em 28 de março de 2018 por Márcio Tonetti.