Revista aborda a origem e as implicações teológicas do movimento controverso que tem se espalhado pelo mundo
O movimento emergente, que surgiu em meados da década de 1990 como uma tentativa de reagir aos desafios impostos pela cultura pós-moderna à “igreja tradicional”, já não é algo restrito a alguns projetos vanguardistas da igreja protestante nos Estados Unidos. Há alguns anos, o fenômeno se espalhou pelo mundo e tem influenciado o modo de ser igreja em diferentes lugares do planeta, inclusive na América do Sul.
Por isso, o tema ganhou destaque na edição de julho-agosto da revista Ministério, periódico impresso pela Casa Publicadora Brasileira. Renomados teólogos abordam a origem do movimento e falam sobre os cuidados necessários no diálogo com a teologia da chamada igreja emergente.
Segundo o pastor Wellington Barbosa, editor do periódico bimestral, apesar dessa notória expansão, observa-se que, de modo geral, a teologia do movimento emergente tem sido pouco analisada criticamente. “Por esse motivo, existe muita desinformação sobre suas implicações, tanto da parte dos críticos quanto de seus considerados adeptos. Tal condição pode provocar equívocos na avaliação daqueles que censuram projetos contemporâneos de evangelização, como também sérios erros daqueles que irrefletidamente se dedicam a pregar o evangelho no contexto pós-moderno”, esclarece.
Para uma análise mais equilibrada, ele sugere que as discussões sobre a igreja emergente levem em conta fatores como a variedade de ideias presentes em seu amplo espectro. “Dentro de seu arcabouço encontram-se teólogos conservadores que se preocupam apenas com a contextualização da mensagem para os pós-modernos; teólogos que estão dispostos a manter os elementos principais da doutrina cristã, mas que desejam reconstruir o modo de ser igreja; e teólogos que se propõem a causar uma revolução a partir de uma leitura pós-moderna da Bíblia”, argumenta.
Embora reconheça que a igreja emergente faça uma leitura proveitosa do contexto atual, o pastor Wellington considera que um dos principais problemas do movimento seja colocar a cultura contemporânea acima da Bíblia.
Em entrevista ao periódico, o pastor Kwabena Donkor, diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI, na sigla em inglês), ampliou a discussão. Para ele, embora o movimento emergente esteja essencialmente preocupado com assuntos ligados à eclesiologia, ou seja, com o modo de “ser igreja”, ele traz implicações problemáticas no que diz respeito à interpretação da doutrina das Escrituras, bem como da soteriologia e da escatologia. “Obviamente, o impacto do movimento emergente sobre esses conceitos cristãos gera sérias preocupações”, o pastor Donkor ressalta.
Ao falar sobre como pastores adventistas podem trabalhar para manter a relevância da igreja no contexto pós-moderno sem comprometer a essência teológica da denominação, ele sugere: “As igrejas adventistas precisam ser relevantes não apenas em contextos pós-modernos, mas em todos os contextos culturais e sociológicos em que se encontram. Assim, há necessidade de uma contextualização adequada e sólida que não conspire contra os valores bíblicos”.
Como comenta o doutorando em Teologia Pastoral, Geraldo Beulke Júnior, outro colaborador da edição de julho-agosto, a contextualização é necessária para a evangelização. Porém, alguns podem cair no erro de “uma aceitação sem filtros da cultura ao redor, uma rendição do evangelho a antigas crenças, rituais, costumes, artes e filosofias, que resultam no sincretismo”.
Tendo em vista as implicações da assimilação acrítica dos pressupostos da igreja emergente, o pastor Jean Zukowski, doutor em Teologia Histórica conclui sua análise da gênese do movimento afirmando que, “embora muitos problemas levantados pelos emergentes sejam válidos e mereçam uma resposta da igreja, sua metodologia, base teológica e filosófica devem ser avaliadas se são consistentes com a revelação bíblica”.
O articulista Fernando Canale, doutor em Teologia, reforça que o tema, de fato, merece atenção. Afinal, segundo ele, um crescente número de pastores tem recomendado literatura emergente às suas igrejas para a vida devocional, ministérios, missão e adoração. “Se algo não for feito, esse processo pode redefinir o adventismo à imagem da igreja emergente. É preciso notar que surgem no movimento práticas pastorais distantes das Escrituras, baseadas no pentecostalismo e na espiritualidade mística católica”, sublinha o professor emérito de Teologia e Filosofia do Seminário Teológico da Universidade Andrews (EUA). [Equipe RA, da Redação]
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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.