Como a pandemia ampliou a influência da congregação local na internet
“Videoconferência”, “streaming”, “Zoom”, “live” … Expressões como essas se consagraram no nosso vocabulário durante a pandemia. E tudo indica que, daqui para frente, elas também farão parte do “novo normal” de muitas igrejas.
Se a fé dos brasileiros teve que se adaptar à internet por conta do isolamento social, evidentemente as congregações locais também. Mesmo igrejas menores sentiram a necessidade de investir em infra-estrutura para a transmissão de cultos. E, com o retorno gradativo aos encontros presenciais, muitos templos provavelmente funcionarão em um modelo híbrido no pós-pandemia.
Além de criar um cenário favorável para o surgimento de novos ministérios on-line, as medidas de isolamento social projetaram serviços que já vinham sendo oferecidos pela igreja local. Foi o que aconteceu, por exemplo, no contexto da Igreja Adventista Central de Curitiba (PR), que saltou de 80 mil para 133 mil inscritos no canal do YouTube.
Há cerca de dez anos, câmeras, luzes, cenários, conteúdos relevantes, estratégias de marketing e interação nas mídias digitais têm ajudado a ampliar a influência da igreja curitibana na internet e a gerar afinidades com o público. “Conquistamos a confiança da igreja e dos internautas e desenvolvemos um padrão para as transmissões, o que permitiu estarmos mais preparados para este momento”, afirma Lucila Tiujo dos Reis, coordenadora do ministério da transmissão, que envolve uma equipe de aproximadamente 50 pessoas na igreja central da capital paranaense.
Nos últimos meses, a comunidade identificou um interesse renovado especialmente por sermões relacionados a temas proféticos. Evidência disso foi o alcance da série intitulada “A Última Crise da Terra”, transmitida em maio, que teve 83 mil visualizações, e da vigília on-line “O Último Clamor”, realizada no dia 18 de julho, que já recebeu 59 mil visualizações. Como resultado, foi criada uma equipe para atuar especificamente na moderação dessas transmissões, tirando dúvidas e identificando interessados em continuar estudando a Bíblia.
De acordo com Daniel Meder, um dos pastores locais, além de séries sobre temas teológicos e escatológicos, a igreja também investiu em lives sobre relacionamentos e ofereceu suporte emocional por meio de programas como o “Fogo do Conselho”. Outra estratégia foi ampliar o leque de opções de conteúdos para as famílias em quarentena, incluindo na grade de programação clipes musicais, histórias para crianças e até mesmo receitas.
Se a pandemia vem influenciando o perfil das transmissões, a internet igualmente está moldando a própria liturgia das igrejas que começam a reabrir. É o caso da Igreja Adventista do bairro Botafogo, no Rio de Janeiro, que, desde o início da pandemia, optou pela transmissão de uma programação mais enxuta, que valorizasse o estudo aprofundado da Bíblia e a fidelização do público por meio de sermões no formato de série. “Eu acredito que nossa igreja não vai mais voltar ao ‘normal’ no que diz respeito à doxologia. Mesmo com o retorno aos cultos presenciais, estamos fazendo no formato da internet”, ressalta Flávio Siqueira, pastor local.
A congregação carioca viu o número de seguidores do seu canal no YouTube praticamente dobrar durante o período da quarentena, passando de 7 mil para mais de 13 mil inscritos. A quantidade de visualizações dos vídeos também cresceu 128% entre meados de julho e agosto. Em média, cerca de 3 mil pessoas acompanham as transmissões ao vivo pelo YouTube e o Facebook.
“Nem me lembro de como vim parar nesse canal, mas essa foi, sem dúvida, a melhor palestra que já ouvi em minha vida”. O comentário de um internauta numa das transmissões feitas pela igreja do Botafogo reforça o fato de que a internet não tem fronteiras. E, já que a lógica da desterritorialização tem permitido que a igreja seja encontrada no mundo virtual por pessoas de diferentes denominações, culturas, cidades e países, isso deve motivá-la a repensar sua abordagem e linguagem.
MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista
(Matéria publicada na edição de setembro de 2020 da Revista Adventista)
Última atualização em 15 de setembro de 2020 por Márcio Tonetti.