O direito de crença é um princípio fundamental que precisa ser defendido de maneira mais ampla
Márcio Tonetti
A liberdade religiosa sempre foi uma importante bandeira defendida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia na arena pública. Desde o século 19, ao se posicionar contra “leis dominicais”, escravidão ou comércio de bebidas alcoólicas, a igreja reconheceu a necessidade de lutar contra questões que violam o direito fundamental à vida, dignidade e liberdade.
Apesar de, em alguns momentos, os adventistas terem se afastado dos assuntos públicos, a causa da liberdade religiosa se manteve viva ao longo da trajetória da igreja. Contudo, até hoje, esse engajamento às vezes ainda é mal compreendido por alguns, sendo frequentemente associado ao ecumenismo. Por isso, sempre que um evento dessa natureza é realizado pela denominação, há necessidade de relembrar que convivência não é sinônimo de conivência. É comum frisar também que todo “embaixador” que milita nessa área não pode “legislar em causa própria”, mas lutar pelo direito de todos.
Além de reforçar esses e outros pontos, o “Freedom 25”, evento híbrido promovido nos dias 15 a 17 de maio pela Divisão Sul-Americana, em parceria com as Uniões Central e Leste Brasileira, trouxe novos temas ao debate. Transmitido a partir do auditório de um dos escritórios administrativos da denominação na capital paulista, que recebeu participantes de países vizinhos, a programação foi aberta ao público na internet (youtube.com/@adventistasbrasil). As palestras gerais foram proferidas presencialmente por autoridades, como a ministra do Tribunal Superior Eleitoral, Maria Claudia Bucchianeri, o doutor John Graz, que liderou esse departamento em nível mundial por duas décadas, e Bill Knott, responsável pelo relacionamento da igreja com o Congresso norte-americano. Já os workshops foram ministrados via Zoom por especialistas espalhados pelo Brasil.
Felizmente, o Brasil já avançou muito na discussão sobre aspectos como a prestação alternativa, o que resultou em garantias não só para os adventistas. Julgamentos como o que ocorreu na Suprema Corte, em 2020, como lembrou a ministra Maria Claudia (para saber mais, clique aqui), trouxeram reflexos muito positivos para o amadurecimento da liberdade religiosa no país.
Porém, a causa da liberdade religiosa é mais abrangente do que se imagina. Assim, o evento procurou discutir também temas transversais, como as questões étnico-raciais e de gênero. Outro tópico atual teve que ver com o fortalecimento do discurso de ódio na internet, muitas vezes relacionado à intolerância religiosa. Todo o cuidado deve ser tomado com o que se fala na web, na igreja e em outros espaços, pois declarações que incitem ou induzam ao preconceito e à discriminação estão sujeitas a medidas judiciais, conforme explicaram Luigi Braga, advogado geral da sede adventista sul-americana, e Fernanda Covolan, coordenadora do curso de Direito do Unasp, campus Hortolândia (SP).
Tudo isso reafirmou a necessidade de respeito na comunicação. “A liberdade religiosa conversa com as pessoas”, disse o doutor Graz, na palestra de abertura, ao falar sobre a necessidade de mais diálogo. Compartilhar suas crenças livremente é um direito sagrado, mas que precisa ser exercitado com responsabilidade, sem atacar quem pensa diferente. Da mesma forma, a liberdade religiosa não pode ser usada como argumento para forçar a igreja a aceitar práticas não condizentes com seus princípios.
Ao propor uma agenda com 25 temas (agenda25.com), a proposta central do evento foi dar início a uma série de ações previstas para os próximos dois anos. Haverá publicação de documentos oficiais, criação de grupos de trabalho, produção de lives e documentários e a inserção de uma data no calendário eclesiástico voltada para o combate ao discurso de ódio.
MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista
(Reportagem publicada na Revista Adventista de junho/2023)
Última atualização em 7 de junho de 2023 por Márcio Tonetti.