Campanha realizada pela igreja há duas décadas tem buscado se renovar, indo além da assistência básica para atender de maneira mais ampla as necessidades humanas
Márcio Tonetti
A cada ano, o projeto Mutirão de Natal desafia a igreja a envolver mais voluntários, aumentar as arrecadações, usar a criatividade e ir além da doação de cestas básicas que proporcionem uma ceia digna para famílias sem condições financeiras.
Embora combater a fome tenha sido o objetivo inicial do projeto, criado em 1994 na Igreja Adventista do Botafogo, na capital carioca, nos últimos anos a campanha agregou outras formas de assistência. “Temos procurado oferecer não apenas cestas básicas para famílias carentes, mas também promover o desenvolvimento das famílias beneficiadas pela campanha”, explica o pastor Everon Donato, coordenador sul-americano do Mutirão de Natal.
Em 2017, além da meta de arrecadar 6 mil toneladas de alimentos (cerca de 20% a mais que em 2016), algumas ações ampliaram o atendimento e incluíram grupos que nem sempre são lembrados nesta época do ano. Por exemplo, em Pacaraima (RR), município localizado na fronteira do Brasil com a Venezuela, foi inaugurado um espaço que será utilizado pela Ação Solidária Adventista (ASA) para atender pessoas que fogem da crise que afeta o país vizinho. A intenção é oferecer a eles aulas de português e culinária saudável, bem como cursos voltados para a geração de trabalho e renda. O primeiro a ser oferecido será na área de panificação. Em Manaus, a estrutura da ASA também será usada para promover programas de capacitação para haitianos que vivem na capital do Amazonas.
No caso de São Paulo, doações mensais de cestas de alimentos foram feitas ao longo de todo o ano pelo Instituto Base Gênesis aos refugiados que vivem na maior cidade brasileira. Somente no dia 20 de dezembro, 120 delas foram entregues com o apoio do Unasp, campus São Paulo, de uma igreja local e da Comunidade Árabe Aberta. No dia 17 de dezembro, cerca de 200 crianças, a maioria árabe, participaram de um programa especial juntamente com seus familiares. Além de lanches e brincadeiras, pelo segundo ano consecutivo, elas receberam presentes doados por funcionários da empresa de telecomunicações Oi.
Ainda em São Paulo, a família de um cadeirante que vivia em condições precárias recebeu mais do que alimento. Na periferia da Vila Andrade, bairro nobre da zona sul, o Natal de 11 pessoas será diferente. Com o apoio de empresas, igrejas e escolas, voluntários entregaram para a família uma casa nova, toda mobiliada.
Ampliando as fronteiras do Mutirão de Natal, funcionários da sede administrativa da igreja para os estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais (União Sudeste Brasileira) igualmente se mobilizaram e organizaram uma gincana que resultou na arrecadação de 29 mil reais que beneficiarão 50 famílias refugiadas no Líbano.
Já numa comunidade ribeirinha de Costa do Aruanã (AM), onde foram entregues 133 kits de higiene bucal, 300 brinquedos, 1,2 mil peças de roupas e 100 cestas básicas, algumas famílias beneficiadas participaram de uma classe bíblica. A meta é plantar uma igreja na localidade.
Embora o Mutirão de Natal hoje faça parte do calendário oficial da igreja (não só no Brasil, mas em outros sete países do continente) e até mesmo de
alguns municípios, como é o caso
de Bragança Paulista (SP), os maiores desafios talvez ainda sejam torná-lo um programa permanente (que não se limite aos últimos meses do ano) e mais abrangente (que promova o desenvolvimento humano). ]
MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista
(Matéria publicada originalmente na edição de janeiro de 2018)
Última atualização em 5 de fevereiro de 2018 por Márcio Tonetti.