Projeto pretende unir, decifrar e disponibilizar na internet fragmentos dos Manuscritos do Mar Morto
As novas tecnologias têm ajudado a popularizar o acesso aos Manuscritos do Mar Morto. Desde 2012, parte do acervo, composto por cerca de 20 mil fragmentos, está disponível num site lançado pela Autoridade de Antiguidades de Israel em parceria com o Google. A página da Biblioteca Digital Leon Levy traz uma coleção de mais de 5 mil imagens desses documentos em alta resolução. Até agora, o site já recebeu mais de um milhão de visitas. São cerca de 15 mil acessos por semana.
No entanto, cerca de 3 mil fragmentos desse gigantesco quebra-cabeças ainda não foram digitalizados. Outros, ainda não foram decifrados. “A rápida deterioração dos milhares e minúsculos fragmentos torna a missão urgente”, conforme escreveu Daniela Kresch, colaboradora da Folha de S.Paulo em Tel Aviv, em matéria publicada no site do jornal nesta terça-feira, 29 de março.
Na tentativa de solucionar esse problema, israelenses e alemães anunciaram no fim de fevereiro o projeto Scripta Qumranica Electronica. A iniciativa contará com um orçamento de 1,6 milhão de euros e será financiada pela Fundação Alemã de Pesquisa (DFG).
A complexidade do trabalho justifica o investimento. Para encaixar as peças do enigma sem correr o risco de comprometer ainda mais a nitidez dos fragmentos ou desintegrá-los, será preciso desenvolver tecnologias sofisticadas. Em parceria com especialistas em pergaminhos, cientistas da computação já estão trabalhando em ferramentas que possibilitam reconhecimento da caligrafia e textura dos documentos sem a necessidade de tocar nas peças. “As ferramentas não servirão só para encaixar fragmentos cujo lugar ainda não foi encontrado, mas para ver formas diferentes de montar manuscritos que já pareciam decifrados”, a Folha noticiou.
O projeto, previsto para ser concluído nos próximos cinco anos, deve contar com um site que permitirá aos especialistas e leigos participar do processo ajudando a decifrar os fragmentos. Segundo afirma na reportagem a curadora e diretora do Projeto Manuscritos do Mar Morto, Pnina Schor, nesse ambiente virtual e dinâmico os fragmentos já digitalizados, bem como os que ainda não foram escaneados, poderão ser consultados por gente de todo o mundo, junto a bancos de dados de textos, transliterações e análises de conteúdo. “Primeiro, queremos decifrar tudo o que ainda não conseguimos. Depois, montar o que ainda não foi identificado”, ela informa.
Com o objetivo de tornar o processo mais produtivo, a equipe pretende integrar esforços. Além de unificar o site da Biblioteca Digital Leon Levy aos da Academia de Ciências e Humanidades de Göttingen, na Alemanha, das universidades israelenses de Tel Aviv e Haifa, bem como da Academia de Letras de Israel, “cada uma das instituições se especializará em um aspecto dos manuscritos: do escaneamento das imagens em alta resolução dos fragmentos à transliterações dos textos, passando por um dicionário de palavras e análise do conteúdo”, informou Pnina. “A tecnologia de hoje é incrível. Com fotografia infravermelha e multiespectral, podemos ver palavras ocultas em pergaminhos que escureceram com o tempo. Por isso, há leituras novas dos documentos, que nos fazem repensar o que já foi descoberto”, ela acrescenta.
Tesouro arqueológico
A descoberta dos Manuscritos do Mar Morto entrou para a lista dos principais achados arqueológicos do século 20. Sua grande contribuição para o cristianismo foi confirmar a autenticidade do texto bíblico que é usado hoje. Os 972 textos compilados pelos essênios datam de 400 a.C até 300 d.C. A maioria deles foi escrita em hebraico, mas também há documentos em aramaico, grego e até mesmo numa escrita críptica quase ininteligível.
O acervo é dividido em manuscritos bíblicos (40%); manuscritos apócrifos (30%); e manuscritos sectários, que revelam o pensamento, a cultura e os costumes dos grupos judaicos da época (30%).
O conjunto de 225 textos bíblicos, os mais antigos já encontrados, inclui, por exemplo, a cópia mais antiga dos Dez Mandamentos.
Os Manuscritos do Mar Morto são guardados a sete chaves em um ambiente especial no Santuário do Livro do Museu de Israel, em Jerusalém. Os fragmentos não podem ser expostos à luz natural para que não percam ainda mais sua nitidez ou se desintegrem completamente.
Mantidos por dois mil anos em local escuro e seco no deserto da Judeia, alguns desses documentos foram encontrados praticamente intactos entre 1946 e 1956. Outros, no entanto, se reduziram a pedaços mínimos quase ininteligíveis. Reunir, decifrar e preservar desde as menores peças desse mosaico é um desafio que os especialistas esperam superar com a ajuda das novas tecnologias. [Márcio Tonetti, equipe RA / Com informações de Daniela Kresch/Folha de S.Paulo]
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.