Mundo em Revista

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Os principais fatos que marcaram a semana no Brasil e no exterior
MÁRCIO TONETTI
E-class: ambiente virtual atende os mais de 225 alunos da rede adventista no Brasil no período de confinamento. Foto: Janaína Holles Sousa

Nem tudo parou durante a pandemia. A educação, por exemplo, foi um setor que, graças à tecnologia, conseguiu manter o contato, mesmo que virtual, entre escola-aluno-família. O ensino a distância, que já era uma tendência, ganhou ainda mais popularidade no contexto da atual crise. Plataformas criadas para suprir a nova demanda alcançaram resultados bastante expressivos.

No Brasil, o ambiente virtual E-class, que têm atendido a rede adventista em todo o país, acumula 700 mil aulas cadastradas, 250 milhões de visualizações de páginas e 10 milhões de respostas dos alunos, conforme mostra uma reportagem que será veiculada na Revista Adventista de junho.

A restrição às aulas presenciais também não impediu a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) de continuar oferecendo treinamento vocacional, uma importante frente de atuação da agência humanitária. No contexto da pandemia, Mianmar, no sudeste asiático, foi o ponto de partida de um projeto com capacidade para atender até 226.000 alunos por meio do e-learning. Lá, a ADRA começou a utilizar uma plataforma on-line desenvolvida por uma empresa de tecnologia norueguesa para oferecer aulas de idiomas e cursos profissionalizantes na área de empreendedorismo e habilidades digitais, além de capacitar professores.

Plataforma on-line que a ADRA tem utilizado em Mianmar para oferecer cursos profissionalizantes durante a pandemia

O portal educacional é parte do programa da ADRA que busca oferecer oportunidades iguais ­de acesso à educação, lançado em março do ano passado. Depois de testar o programa na Ásia, a agência humanitária da igreja pretende levar a iniciativa para a Etiópia e a Somália, na África. A expectativa é oferecer oportunidades de desenvolvimento para quem nunca teve acesso à escola ou foi obrigado a abandoná-la por razões culturais, econômicas ou sociais. Para se ter uma ideia, hoje há cerca de 264 milhões de crianças nessa condição, segundo a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

É essa realidade que a campanha da ADRA Internacional intitulada “Cada criança, em todo lugar, na escola” tem procurado mudar. Mas não se trata apenas de possibilitar o acesso desses meninas e meninas ao ensino formal. Em outra matéria que entrará na edição de junho da Revista Adventista, Michael Kruger, diretor da ADRA Internacional, explica que “o casamento precoce e as deficiências são apenas duas das muitas circunstâncias que mantêm as crianças fora da escola. Outros fatores são guerra, pobreza, desastres naturais e fome”.

Um dos exemplos que ele cita é o de Maputo (Moçambique), onde as taxas de desnutrição crônica superam a casa dos 30%. Lá, conforme Kruger relata, a ADRA detectou que metade dos estudantes da região tem peso abaixo do normal. Nesse cenário, não adiantava apenas alimentar a mente. Por essa razão, a agência realizou parcerias com o objetivo de combater a desnutrição. “Para alguns alunos, essa iniciativa de alimentação escolar fornece a única refeição que eles recebem por dia”, ele conta.

Segundo Kruger, como resultado, a frequência às aulas alcançou números recordes. Ela destaca também o fato de, desde 2017, a iniciativa de alimentação escolar da ADRA ter melhorado a nutrição e o acesso à educação de quase 50 mil crianças em Moçambique, Eswatini (ex-Suazilândia), Madagascar, Zimbábue e Malawi.

DOAÇÃO

Da África para os Estados Unidos. Afim de auxiliar as famílias mais vulneráveis no país com maior número de casos de Covid-19, a ADRA Internacional irá destinar 150 mil dólares para ajudar a repor os estoques de alimentos do Adventist Community Services (ACS), ministério de ajuda humanitária da Igreja Adventista na América do Norte. O equivalente a 2,3 milhões de dólares também será doado ao ACS em materiais médicos como Equipamentos de Proteção Individual (leia mais aqui, em inglês).

Outro gesto de solidariedade noticiado nesta semana foi a iniciativa da Clínica Americana, em Juliaca, cidade onde vivem cerca de 280 mil pessoas. Lá, a unidade que integra a Rede Médica de Saúde Adventista do Peru colocou à disposição de um hospital 15 camas hospitalares elétricas, que foram montadas na Unidade de Terapia Intensiva da instituição.

RECONHECIMENTO

Centro Médico da Universidade de Loma Linda (EUA) comemora certificação inédita atribuída à equipe de enfermagem da instituição. Foto: Loma Linda University Health News

Uma semana depois do celebrado Dia do Enfermeiro (12 de maio), o reconhecimento pelo trabalho desses profissionais nos hospitais adventistas norte-americanos veio através de uma certificação inédita para o contexto do Centro Médico da Universidade de Loma Linda (LLUMC, na sigla em inglês). Em 19 de maio, o American Nurses Credentialing Center (ANCC) Magnet Recognition Program reconheceu publicamente a excelência dos serviços prestados pela equipe de enfermagem da instituição. É a primeira vez que o hospital de 371 leitos recebe a prestigiada certificação, atribuída a apenas 9% das mais de 6 mil organizações de assistência médica existentes nos Estados Unidos (leia mais clicando aqui).

Funcionários de escola adventista do Maranhão homenageia profissionais que garantem a limpeza das cidades. Foto: Reprodução do Portal Adventista

Outro grupo que tem um papel importante na manutenção da saúde das pessoas também foi homenageado nesta semana. Reconhecendo o trabalho dos profissionais que ajudam a cuidar da limpeza das cidades, a Escola Adventista de Santa Inês, no Maranhão, mobilizou-se para agradecer aos garis no dia que o calendário reserva para eles (16 de maio). Na data, funcionários da escola distribuíram kits com lanche, frutas e itens de proteção, como máscaras e álcool em gel (leia mais sobre essa ação aqui).

HIGIENE ACESSÍVEL

Na edição desta semana do Entenda, podcast da Revista Adventista, falamos sobre o impacto desigual da pandemia nas regiões periféricas das metrópoles. Nesses grandes centros urbanos, outro grupo que também está bastante exposto ao novo coronavírus é o das pessoas em situação de rua. Em Pernambuco, o suporte a essa população veio através de uma campanha do governo estadual que foi apoiada pela ADRA. Na capital, Recife, 19 pias móveis foram instaladas em 12 pontos da cidade com o objetivo de atender esse grupo de pessoas. Sete desses lavatórios foram doados pela ADRA (leia mais aqui).

Foi pensando também nessas pessoas que uma escritora de Goiânia (GO) decidiu transformar parte do valor da venda de seus livros em kits de higiene para pessoas em situação de rua. Aos domingos, Yonara Aniszewski reúne um grupo de voluntários para distribuir os materiais nas ruas da capital goiana (leia mais aqui). São histórias como essa que o canal de TV adventista Hope Channel está incentivando as pessoas a divulgarem. Elas podem enviar relatos (clicando aqui) de como têm enfrentado a pandemia, como fez o pastor Pedro Torres, diretor de comunicação da União Franco-Belga, que se recupera da Covid-19 depois de uma batalha de oito semanas contra a doença (veja o testemunho dele aqui).

CUIDADO INTEGRAL

Muitos especialistas têm falado sobre a importância de promover o cuidado não apenas do corpo, mas também da mente, já que os reflexos psicológicos de uma pandemia são igualmente preocupantes e atingem tanto quem continua no isolamento quanto aqueles que estão na linha de frente do combate à Covid-19. O problema está sendo investigado, inclusive, por um grupo de pesquisadores de 26 países, incluindo o Brasil, como já informamos em outra edição do Mundo em Revista. Como relatou ao site da Adventist Review nesta semana uma enfermeira adventista que trabalha há 40 anos no Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, não têm sido fácil para muitos profissionais da saúde lidar com a exaustão, a tristeza, o distanciamento da família e os sentimentos aterrorizantes. Por isso, são verdadeiros heróis aqueles que se dedicam ao cuidados dos enfermos, a exemplo da enfermeira Talita Quispe, de 37 anos, que está há dois meses sem poder conviver com as duas filhas e trabalha em um hospital de campanha peruano (leia mais sobre a história dela aqui).

Buscando oferecer apoio emocional nesse contexto, a igreja na Austrália publicou uma edição de bolso do livro Live More Happy (Signs Publishing, 180 p.). A obra reúne conhecimentos científicos atuais nas áreas de neurociência, psicologia positiva e estilo de vida (para saber mais sobre o livro, clique aqui).

A respeito do mesmo tema, a edição do dia 21 de maio do Boletim Científico, divulgado semanalmente pelo Unasp e produzido pelos professores do mestrado em Promoção da Saúde, destaca um estudo conduzido por uma equipe do Hospital de Clínicas de Porto Alegre sobre a Covid-19 e seus desdobramentos na saúde mental da população brasileira (acesse a pesquisa, em inglês, aqui). A principal contribuição da pesquisa foi apresentar recomendações para contextos de pandemias e catástrofes em grande escala.

No âmbito individual, os pesquisadores ressaltaram, entre outros aspectos, a importância de evitar confundir a solidão do confinamento preventivo com abandono, rejeição ou desamparo; desenvolver um sentimento de pertencimento ao processo de cuidado coletivo; dar atenção redobrada às suas próprias necessidades, sentimentos e pensamentos; e limitar a exposição à notícias relacionadas à pandemia.

Em relação à assistência do governo, eles sugeriram, por exemplo, incentivo e participação de equipes multidisciplinares de saúde mental nos níveis nacional, estadual e municipal; a criação de canais de serviço alternativos, como aplicativos, sites e telefone, e de canais oficiais para informar o público; programas de treinamento em gerenciamento de estresse, trauma e depressão; fornecimento de medicamentos psicotrópicos; e monitoramento e combate às fake news.

Tendo em vista os problemas causados pela desinformação, especialmente no contexto desta crise na saúde pública, uma comunidade adventista de Campinas (SP), cidade que fica a cerca de 60 km do Unasp, campus Engenheiro Coelho, organizou no último sábado (16) uma Live com o objetivo de promover a conscientização sobre o tema. A conversa, mediada pelo jornalista e especialista em Jornalismo Científico pela Unicamp, Leonardo Siqueira, teve a participação de Geovana Chiari, doutoranda em Linguística, e da doutora Juliana Dias, pesquisadora dos caminhos da desinformação no Brasil e professora de pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A Revista Adventista, que recentemente produziu um podcast explicando porque as fake news fazem sucesso no mundo religioso, também participou da conversa transmitida pela página da Igreja Adventista do Jardim Eulina no Facebook.

Evento on-line sobre profecias realizado no último fim de semana no Chile. Imagem: Divulgação

Interpretações teológicas equivocadas e especulações sobre o fim do mundo contribuem apenas para gerar alarmismo. Mas a compreensão correta da mensagem bíblica sempre traz esperança. É o que os adventistas continuam procurando fazer ao redor do mundo. Nos dias 15 e 16 de maio, a Associação Centro Sul do Chile realizou um simpósio on-line sobre profecias com a participação de palestrantes internacionais (leia mais aqui).

No caso da União do Norte do México, a série evangelística “El Poder de la Esperanza”, realizada pelo pastor Robert Costa, diretor do ministério espanhol Escrito Está, registrou picos de quase 250 mil visualizações no fim de semana de abertura e de de 170 mil nas demais noites em que o programa foi transmitido.

Já na Mongólia, os ministérios da Família e da Mulher têm produzido uma série de vídeos com estudos bíblicos embasados no livreto intitulado Homes of Hope and Healing, publicado pela sede mundial adventista. Em cada episódio, além de ensinar sobre as Escrituras, eles oram pelas famílias do país asiático (saiba mais neste link).

Na Austrália, o centro de mídia adventista de Wahroonga, no estado de New South Wales, percebeu que, em meio à pandemia, além de se interessar pelas profecias bíblicas, as pessoas demonstraram grande interesse pelo tema do perdão (saiba mais aqui). Metade dos que concluíram a primeira etapa do curso bíblico sobre o assunto se matriculou para o segundo módulo, taxa de resposta bem acima da média que a igreja vinha registrando nessa região.

A expectativa também é positiva em relação ao segundo estágio de uma programação evangelística on-line que começou a ser transmitida a partir da Austrália no dia 15 de maio e se estenderá até 13 de junho. Ao longo de quatro semanas, as pregações do pastor John Bradshaw irão conectar eventos mundiais à profecia bíblica. Na primeira etapa do evangelismo virtual, ministrada pelos pastores Gary Webster e Robbie Berghan nos dias 8 a 11 de maio, resultou em quase 300 mil visualizações. “Essa campanha foi uma experiência reveladora do poder das mídias sociais no evangelismo público e nos ensinou muito sobre quais mensagens funcionam com diferentes públicos e como eles interagem com o material. Também mostrou como podemos obter ainda mais sucesso em campanhas futuras. Ao trabalhar na esfera digital, estamos vendo muito mais oportunidades de colaboração, compartilhamento de recursos e trabalho conjunto em projetos futuros”, avaliou o pastor Peterson em uma notícia divulgada no site da Adventist Record.

O próximo passo será conectar os interessados em aprender mais sobre a Bíblia com as classes via ZOOM que serão coordenadas pelas sedes regionais da igreja no território australiano. A ideia é que essas videoconferências sirvam de ponte para as igrejas locais.

E para quem está em busca de ferramentas alternativas para realizar videoconferências, o boletim do Unasp desta semana traz uma informação relevante: “A Cisco systems, desenvolvedora do Webex, um dos softwares de videoconferência mais utilizados no mundo, está oferecendo gratuitamente seu programa para alguns países afetados pela pandemia de Covid-19, dentre eles o Brasil. Além de não haver limite de tempo de uso, a plataforma suporta até 100 participantes por vez e permite o compartilhamento de arquivos, tela e aplicativos. O download pode ser feito por pessoas físicas ou jurídicas, diretamente no site da empresa”.

TEMPOS DE ADAPTAÇÃO

Rádio implantada dentro de barco possibilita que a igreja continue em contato com comunidades ribeirinhas do Amazonas no período de isolamento social. Foto: Arquivo IQN

Os meios de comunicação também têm possibilitado que a igreja continue atendendo comunidades remotas e, ao mesmo tempo, ajude a frear a interiorização do novo coronavírus. Especialmente no Amazonas, cuja capital é a única cidade da região a contar com UTIs para atender os infectados pela Covid-19. Lá, o projeto Igreja que Navega mudou o curso do trabalho.

Com as medidas de isolamento social, o barco adventista passou a atender populações ribeirinhas através da Rádio Amazônia de Esperança, transmitida a partir do próprio barco. Segundo a Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN), “todos os dias, as cinco comunidades que compõem a região de Campinas do Norte podem ouvir as mensagens. A programação começa às cinco horas da manhã e segue até o meio-dia. Depois, retorna a partir das duas horas da tarde, seguindo até dez horas da noite”.

Em maio, a emissora deu início à classe bíblica “Esperança em Tempos de Crise”, uma série com 21 temas. Além disso, foi criado um grupo de WhatsApp para interação com os ribeirinhos da região de Campinas do Norte, localizada a aproximadamente 60 km de Manacapuru, cidade da região metropolitana de Manaus (leia a reportagem completa aqui). Além dos estudos bíblicos, a rádio divulga programas sobre saúde, família e educação de filhos.

Quem também está levando esperança é um grupo que já envolve mais de 2,5 mil crianças adventistas no estado de Goiás. Foi o que noticiou nesta sexta-feira o portal G1. Além de telefonar para idosos que estão sem receber visitas por causa do confinamento, elas estão gravando vídeos com mensagens de conforto. O projeto fez parte das ações da semana dos Aventureiros no estado.

MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista (com reportagem de Antony Dulanto, Briana Pastorino, Deyler Vásquez, Érica Tavares, Gry Haugen, Ellen Hostetler, Jesús Cárdenas, Linden Chuang, Maycon Santos, Maryellen Fairfax, Nathan Brown, Priscila Baracho Sigolin, Raúl Salamanca Muñoz)

Última atualização em 29 de maio de 2020 por Márcio Tonetti.