O pastor que iluminou corações

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Zinaldo Santos, ex-editor da revista Ministério, morre aos 74 anos

Márcio Tonetti

Crédito da imagem: CPB
Crédito da imagem: CPB

Quando estava para se aposentar, em 2015, o pastor Zinaldo Azevedo Santos se despediu dos leitores da revista Ministério, periódico que havia liderado durante 23 anos, dizendo que o pôr do sol do dia 31 de dezembro daquele ano representaria o ocaso de seu ministério institucional. Infelizmente, oito anos depois estamos noticiando o poente de sua existência. Ele morreu no pôr do sol desta quarta-feira, aos 74 anos (9/9/1949-20/9/2023), poucos dias depois de ter sido submetido a uma cirurgia para reverter um quadro de hemorragia no cérebro em decorrência de acidente doméstico. Deixou a esposa, Lenice, três filhas (Aline, Evelin e Denise) e quatro netos.   

Filho de um sapateiro, João Cardoso, e uma operária, Eulália Azevedo, Zinaldo Santos nasceu em um lar adventista no município de Cruz das Almas, no interior da Bahia. Desde cedo, demonstrou vocação para o ministério pastoral, o que o levaria a servir a igreja por 40 anos. Sua trajetória na organização adventista teve início com o chamado para ser auxiliar do pastor da Igreja Central de Salvador (BA). Posteriormente, liderou congregações em Jequié (BA), Aracaju (SE) e Belo Horizonte (MG).

Além de ter trabalhado como pastor distrital, atuou em departamentos da igreja, tendo sido diretor de Mordomia na antiga Missão Nordeste (1981). Também foi secretário ministerial e evangelista na Missão Bahia (1982-1983), na Missão Central Amazonas (1987-1989) e na União Norte Brasileira (1989-1990).

Considerando-se toda essa bagagem e seu gosto pela escrita, o pastor Zinaldo foi chamado para trabalhar como editor na Casa Publicadora Brasileira (CPB), em 1990. Era visto como alguém que “vivia um ministério enquanto escrevia e escrevia um ministério enquanto vivia”. Teve uma atuação destacada na área editorial, estando à frente da revista Ministério e de outras publicações. Inclusive, contribuiu com periódicos como Vida e Saúde e Revista Adventista. Passou um terço de sua existência na CPB, servindo a instituição por 25 anos e meio.

Por meio dos muitos textos que escreveu e dos sermões que proferiu até o fim de sua jornada, exerceu grande influência, oferecendo alimento intelectual e espiritual a gerações de pastores. “O pastor Zinaldo teve uma influência significativa na minha formação ministerial. Por meio da revista Ministério, como aluno de Teologia e pastor distrital, fui abençoado com seus editoriais sensíveis e espirituais, bem como pelas pautas pertinentes que foram abordadas na revista. Foi um grande privilégio ter recebido a responsabilidade de dar continuidade ao trabalho importante que ele desempenhou por 23 anos”, afirma o pastor Wellington Barbosa, editor-chefe da CPB.

“Ele foi sensível às necessidades da igreja e dedicado ao ministério. Sua contribuição à revista Ministério foi marcada por coerência, equilíbrio e comprometimento”, realça o pastor Lucas Alves, secretário ministerial da Igreja Adventista na América do Sul.

“Sabedoria e discrição são virtudes que poderiam defini-lo bem”, conforme observa o pastor Vinícius Mendes, editor na CPB. “Ele amava pregar! Excelente orador, tinha uma voz grave a pausada. Era objetivo no púlpito, expressando com clareza e profundidade o evangelho”, acrescenta.

Em um momento tão complicado como foi a pandemia de Covid-19, o pastor Zinaldo Santos trouxe mensagens de motivação, consolo e esperança para milhares de leitores do devocional intitulado De Coração a Coração (CPB, 2020).

Nas palavras do pastor Marcos De Benedicto, que trabalhou com ele durante 25 anos na CPB, ao longo desse período, o pastor Zinaldo nunca perdeu o tom pastoral. “Sua função de editor da revista Ministério por 23 anos expressava uma combinação maravilhosa de conhecimento teológico e experiência ministerial. Era um editor com coração de pastor, o que pode ser percebido em seus textos da Meditação Diária de 2020. Apreciador da linguagem elegante na fala e na escrita, amava pregar sobre a graça e a glória, além de Jesus. Vivia a música em tempo integral e, com sua voz grave, gostava de cantar em quartetos. Mesmo depois do acidente (queda) que o levaria ao descanso, ainda subiu ao púlpito para proclamar a Palavra. Deixará muita saudade. Ele viveu na graça e agora aguarda a glória”, ele declara.

O pastor Paulo Pinheiro, outro amigo de longa data, também ressalta que Zinaldo sempre foi muito querido e respeitado pelos colegas de ministério e pelas igrejas por onde passou. Eles se conheceram no fim dos anos 1960, cursaram mestrado em Teologia na mesma turma e, mais tarde, se reencontraram na CPB, onde conviveram na Redação por vários anos. “Foi um companheiro de trabalho leal, característica dele que eu mais admirava. Era muito comprometido com sua família e com a obra editorial e pastoral. Introvertido, sem deixar de ser cordial e hospitaleiro, pregava a Palavra com leveza, autoridade e fluência. Era um genuíno pastor”, ele descreve.

Por ocasião de seu penúltimo aniversário, em 9 de setembro de 2022, uma das filhas fez a seguinte afirmação sobre o pai nas mídias sociais: “Ainda não conheci ninguém que não se sinta abraçado pelo seu sorriso aberto. Ele acolhe ‘gregos e troianos’, ‘joios e trigos’, porque não sabe pregar sobre outra coisa que não seja a graça.”

“Em seu último editorial na revista Ministério, o pastor Zinaldo disse que, enquanto houvesse uma centelha de vida consciente nele, se deixaria gastar pelo Mestre. Essa foi a marca de sua existência, um legado que continuará inspirando”, destaca o pastor Edson Medeiros, diretor-geral da CPB. Isso também foi sublinhado, no contexto de sua aposentadoria, em uma página especial publicada na edição de janeiro-fevereiro de 2016 da revista Ministério. Nessa ocasião, o pastor Carlos Hein, então secretário ministerial da Divisão Sul-Americana, fez questão de ressaltar que “somente um pastor com paixão poderia escrever isso”.

Em uma das últimas entrevistas que concedeu, para a série Pioneiros de Luz, produzida pelo Centro Nacional da Memória Adventista, Zinaldo concluiu a conversa com um apelo pastoral: “O mundo está na UTI, respirando por aparelhos. Entre tantas perguntas sem resposta e situações negativas que têm surgido com frequência cada vez maior, é tempo de nos apegarmos ao ‘assim diz o Senhor’.”

Para o pastor Jael Eneas, poderíamos sintetizar a vida desse servo de Deus nos seguintes termos: “Como pastor distrital, atendeu as ovelhas no temor do Senhor. Como secretário ministerial, cuidou dos pastores com oração e mão no ombro. Como editor, seus textos tinham solidez bíblica. Como esposo, pai e avô, foi um exemplo.” 

Esses e outros aspectos que caracterizaram a vida do pastor que iluminou corações foram lembrados na tarde de hoje durante a cerimônia fúnebre, que ocorreu na Igreja Adventista do Laurindo, em Tatuí (SP), cidade na qual morava (assista ao funeral aqui).

MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista

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Última atualização em 27 de setembro de 2023 por Márcio Tonetti.