O medo, o desespero e a revolta podem ser os sentimentos mais espontâneos quando o caos se instala, mas procurar culpados ou tentar fazer justiça com as próprias mãos não é o melhor caminho
“Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz” (Jr 29:7). Essa orientação, escrita pelo profeta Jeremias pouco depois do ano 597 a.C., tem que ver com a realidade vivida pela população de Judá por ocasião do cativeiro babilônico. O povo, que sofria a tragédia da invasão estrangeira e da deportação em massa, precisava compreender que Deus estava no controle da situação e aceitar que Ele podia reverter aquela tragédia nacional em bem.
No tempo do profeta Jeremias, o povo de Judá foi vítima da violência dos babilônios. Semelhantemente, a população do estado do Espírito Santo, carinhosamente chamada de “capixaba”, vem sofrendo desde sábado, 4 fevereiro, uma onda de violência e saques sem precedentes. Ao concluir este texto, mais de 100 pessoas já haviam sido assassinadas no estado desde o início dos ataques. As ruas da região metropolitana de Vitória lembram as cidades abandonadas dos filmes de faroeste.
O motivo para tamanha barbárie é o aquartelamento dos policiais militares. Seus familiares os impedem de sair para o patrulhamento. Amotinados, eles reivindicam melhores salários para a categoria. Entidades que representam a corporação alegam que os policiais militares do Espírito Santo recebem um salário menor que os de outros estados brasileiros.
Vinte e seis séculos separam os habitantes do reino de Judá na época do profeta Jeremias dos que vivem hoje no Estado do Espírito Santo. São enormes as diferenças culturais, históricas e geográficas entre os judeus da antiguidade e os capixabas hoje. A nação hebraica estava sob o comando direto de Deus. Nesse regime teocrático, o próprio rei devia se submeter à autoridade divina. Por sua vez, a sociedade espírito-santense está organizada em um modelo republicano. Por melhor que seja o governo democrático, são pessoas, muitas delas sem qualquer temor a Deus, que norteiam os rumos da sociedade.
Para os antigos hebreus, era necessário passar pela tribulação, mesmo que falsos profetas insistissem em dizer que Deus não permitiria esse mal sobre Seu povo (Jr 29:8,9). Hoje não é muito diferente. Muitos autointitulados profetas prometem o que a Palavra de Deus não promete. Eles “profetizam” “bênçãos”, vantagens e confortos, e omitem que o Senhor nunca assegurou suprimir os males e as dificuldades da vida enquanto Jesus Cristo não vier pela segunda vez à Terra. A dura realidade é que cada pessoa precisa encarar diariamente os muitos problemas deste mundo mau.
Deus contou com o profeta Jeremias para alertar o povo com a incômoda notícia de que haveria muitos anos de cativeiro. Jeremias manteve sua mensagem apesar da impopularidade dela, mas não deixou de transmitir a esperança que só Deus pode dar (v. 10). Hoje o Senhor também conta com pessoas dispostas para advertir a respeito do juízo vindouro e propagar a esperança para este tempo. De acordo com o comentarista bíblico Warren W. Wiersbe, a mensagem profética de Jeremias era que os judeus deportados deveriam se estabelecer em Babilônia e, após um período de setenta anos, Deus chamaria um remanescente para cumprir os Seus propósitos sobre a Terra.
A mensagem de Jeremias se aplica a você, morador do Espírito Santo ou de qualquer lugar do planeta. Deus quer que, onde você estiver, procure a “paz da cidade”, ore por ela e, “na sua paz”, você tenha paz. O medo, o desespero e a revolta com a situação podem ser os sentimentos mais espontâneos quando o caos se instala. Como cristãos, porém, podemos ter, pela graça de Deus, outra reação. Orar, intercedendo a Deus pela paz, é a alternativa que dá mais resultado que procurar culpados ou tentar fazer justiça com as próprias mãos.
Procurai a paz! Mesmo que as circunstâncias sejam de guerra, procure-a. Não foi nada fácil para os judeus orarem por Babilônia. Orar por assaltantes, saqueadores e assassinos deve ter sido angustiante. Mas a ordem era para orar. Um pedido incontestável de Deus. Não havia a possibilidade de um protesto, uma greve ou um acordo para não orar pelos inimigos.
Será que muitos cristãos hoje, por participarem de um contexto social com bastante liberdade, chegariam ao ponto de criarem uma espécie de sindicato da fé para reivindicar que Deus altere Seu modo de agir com eles? Será que, imersos em um ambiente em que tudo se resolve com conflito, cristãos esqueceriam de buscar a paz e orar por ela?
Essas são perguntas para reflexão. Normalmente, o cristão comprometido intercede pelo próximo, independentemente de quem seja. Os adventistas espírito-santenses estão empenhados em vigílias e movimentos de oração, suplicando a intervenção divina para uma situação tão agravante. Conforme noticiou o Portal Adventista, além de pastores e membros, “professores, alunos e servidores da rede educacional adventista intercedem em oração pelo estado.”
Portanto, se você é daqueles que anseia a paz, o melhor a fazer é orar. Comece Já! Aproveite o movimento da campanha “10 Dias de Oração e 10 Horas de Jejum” que a Igreja Adventista do Sétimo Dia está promovendo e torne-se um intercessor. Lembre-se que, assim como o povo hebreu nos tempos do Antigo Testamento, o cristão é submisso diretamente ao governo de Deus, e sua medida de emergência para situações desesperadoras é a ordem de procurar a paz da cidade e orar por ela.
#ForçaCapixabas / #Euoroporvocês
CÉLIO BARCELLOS é pastor em São Gabriel da Palha (ES)
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.