Presença nas cidades

4 minutos de leitura

Novo líder do Centro Urbano de Missão Global fala sobre o trabalho da igreja nas metrópoles

Por Márcio Tonetti

Foto: Arquivo pessoal

Os grandes centros urbanos já concentram mais da metade da população mundial, o que faz deles uma das prioridades da missão. Por isso, a igreja conta com o Centro Urbano de Missão Global, órgão que oferece recursos, materiais e ideias para inspirar e motivar a realização de projetos nas cidades. O novo líder dessa área é o albanês Bledi Leno, que cursou Teologia no Brasil e posteriormente trabalhou como diretor dos ministérios multiétnicos da Associação da Região Metropolitana de Nova York (EUA). A seguir, ele fala dos planos e desafios para contextualizar a mensagem nesses lugares.  

Como o Centro Urbano de Missão Global da Associação Geral funciona?

Estudamos e analisamos o modo de vida das pessoas em diferentes centros espalhados pelo mundo. Alguns aspectos da vivência em cidades grandes são bem parecidos. Outros, por sua vez, são únicos por refletirem a cultura, os costumes e a identidade local. O Centro Urbano de Missão Global (urbancenters.org) busca conscientizar os adventistas sobre a importância da missão nas grandes cidades e a necessidade de se envolver nela. Além disso, ele também oferece vários recursos, materiais, ideias e iniciativas para inspirar e motivar a realização de projetos nesses lugares. Para tanto, trabalhamos com os recursos disponíveis e em parceria com as sedes administrativas regionais para melhor servir as localidades onde estabelecemos presença.

Quais aspectos da nossa mensagem podem ter mais apelo nos grandes centros urbanos?

A mensagem de saúde, o descanso sabático semanal, os cuidados com a natureza e o planeta, bem como a vida em família, são atrativos à população urbana. Também acredito que a esperança que vivemos e pregamos realmente faz a diferença. Saber que os sofrimentos desta vida não são o fim para aqueles que creem em Deus, muda completamente nossa perspectiva presente e futura.

A missão urbana é o foco de sua pesquisa de doutorado. O que você está analisando exatamente?

Estou abordando a importância dos centros de influência e como eles podem ser um meio eficaz de evangelização urbana e uma plataforma para estabelecer novos grupos de crentes e plantar igrejas.

Como você enxerga a relação entre os centros de influência e as igrejas já estabelecidas? Em alguns lugares, pessoas que estão nos centros de influência não se veem participando de uma congregação “normal”. O que fazer para minimizar essa divergência?    

A ideia dos centros de influência vem dos escritos de Ellen White e seu propósito sempre foi  incentivar membros e líderes da igreja a estabelecerem ministérios para melhor suprir as necessidades locais, conectá-las à igreja e à mensagem de salvação. Atualmente o departamento de Missão Adventista da Associação Geral, do qual o Centro Urbano de Missão Global faz parte, motiva o estabelecimento de centros de influência tendo como propósito plantar novas igrejas. Na prática, os projetos que mais tiveram êxito foram os que fizeram isso. Por outro lado, toda igreja estabelecida deveria estudar a comunidade onde está, pedir a orientação do Espírito Santo, elaborar um plano de ação e abrir suas portas à comunidade. Nesse sentido, toda igreja deve ser um centro de influência.

Você sugere que a abordagem de “ecossistema” pode ajudar a aumentar nossa eficácia em alcançar as cidades. O que isso significa?

Em um ecossistema, há variados e diversificados meios de vivência. Por isso, a abordagem de ecossistema para alcançar os centros urbanos se espelha na natureza. Trata-se de enfatizar a diversificação de ministérios e modalidades de evangelismo que devem ser desenvolvidos tendo em vista as peculiaridades do contexto local.

O que podemos aprender com os métodos que foram empregados pelos pioneiros do adventismo em cidades como San Francisco (EUA), onde a igreja foi comparada por Ellen White a uma colmeia?

Durante todo o seu ministério, Ellen White nunca perdeu de vista a importância de intencionalmente alcançar as cidades. Ela visitou muitas delas em vários continentes, além de ter escrito sobre isso e falado de como os missionários adventistas estavam alcançando as populações urbanas. Em duas dessas cidades, Nova York e San Francisco, a pioneira viu exemplos de ministérios urbanos que estavam dando bons resultados. Em ambos os casos, ela notou que cada membro estava envolvido na missão, servindo conforme seus dons e desenvolvendo novos talentos à medida que realizavam o trabalho. Esse modelo de “colmeia” – ou ecosistema – concentrava-se em desenvolver variados ministérios. Isso incluia a obra médico-missionária, estabelecimento de restaurantes vegetarianos, escolas de evangelismo, brechós, centros de vida saudável, serviços como tratamentos naturais em domicílio e evangelismo público. Todos esses ministérios alcançavam grupos variados e eram necessários para uma obra missionária urbana eficaz. Ao nos inspirarmos nesses exemplos pioneiros da missão urbana, precisamos analisar e contextualizar nossos esforços à vida urbana moderna e estabelecer ministérios que possam responder às perguntas feitas pela comunidade, suprindo suas necessidades espirituais.

Como foi a experiência de liderar ministérios multiétnicos na grande Nova York (EUA), uma das cidades mais multiculturais do planeta?

Nova York é uma cidade única e realmente faz jus ao título de “capital do mundo”. A maior oportunidade que ela oferece é a exposição a culturas e comunidades internacionais que são representadas por vários elementos culturais e comunitários. É um símbolo do mundo e uma lembrança de quão desafiador e importante é contextualizar a mensagem do evangelho.

Por que, em algumas grandes cidades, a igreja cresce mais entre os grupos étnicos?

Pessoas que migram de um país ou província para outra são mais suscetíveis e abertas a mudanças. Já estão num processo de adaptação e assimilação, têm necessidades de pertencimento e comunidade, elementos presentes em nossas congregações. Um belo trabalho tem sido feito para alcançar essas comunidades. Entretanto, precisa-se de intencionalidade para alcançar a população nativa.

A igreja pretende fortalecer sua presença em cerca de 500 metrópoles com mais de 1 milhão de habitantes e em 30 megacidades com população superior a 20 milhões de pessoas. Que ações se têm em vista? O primeiro passo está sendo inspirar e motivar os adventistas ao redor do mundo para se envolverem na missão urbana local. Nossos membros são o maior exército de missionários para alcançar o objetivo de pregar a tríplice mensagem angélica nestes últimos dias. Além disso, estamos trabalhando com Associações e Missões, Uniões e Divisões para criar estratégias específicas e contextualizadas visando alcançar esses centros urbanos. Essas ações incluirão movimentos de plantio de igrejas, centros de influência, presença digital intencional e centros de saúde integral, entre outras iniciativas. Corporativamente, a igreja está reenfocando suas práticas missionais, canalizando mais recursos financeiros e humanos para a linha de frente da missão.

(Parte desta entrevista foi publica na Revista Adventista de abril de 2023)

Última atualização em 19 de abril de 2023 por Márcio Tonetti.