Redimindo o tempo

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Uma nova oportunidade para viver com plenitude e sabedoria

Márcio Tonetti

Foto: Adobe Stock

O início de um novo ano traz consigo novos sonhos, expectativas e metas. É também um período que geralmente motiva reflexões sobre como temos utilizado o tempo.

O conhecido rabino Abraham Heschel definiu o tempo como “o coração da existência” (O Schabat [Perspectiva, 2014], p. 15). O bom uso desse recurso precioso, disponível para todos, foi um aspecto muito importante dos traços distintivos do protestantismo. No século 17, Richard Baxter, um dos apologetas da ética puritana, levou essa questão ao extremo, ao considerar a perda de tempo o mais grave de todos os pecados (Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo [Companhia das Letras, 2004], p. 143, 144).

Desse modo, a forte disciplina relacionada ao uso do tempo era vista entre os puritanos como um ideal de moralidade, ao passo que o ócio era considerado uma prática condenável. Essa visão também teve certo impacto nos primórdios do adventismo, que nasceu com um forte senso de urgência.

Ellen White afirmou: “Não há desculpa para a morosidade e imperfeição em trabalho de qualquer natureza” (Mente, Caráter e Personalidade [CPB, 2005], v. 1, p. 6). Em outro momento, ela acrescentou: “Tudo seja feito com esmero, asseio e rapidez” (Filhos e Filhas de Deus [CPB, 2004], p. 114). A pioneira argumentou ainda que “o propósito resoluto, a aplicação persistente e a cautelosa economia de tempo habilitarão as pessoas a adquirir conhecimento e disciplina mental que as qualificarão para quase qualquer posição de influência e utilidade” (Parábolas de Jesus [CPB, 2022], p. 200).

Podemos imaginar que alguém que escreveu cerca de 100 mil páginas ao longo de 70 anos de ministério usasse o tempo de maneira muito cuidadosa e organizada. De fato, ela tinha o hábito de planejar sua agenda diária. William, um de seus filhos, relata, por exemplo, que geralmente a mãe começava a escrever às 3h ou 4h da manhã e continuava fazendo isso até o desjejum, às 6h30. Às 7h, todos se reuniam para o culto familiar e depois seguiam para o trabalho (Jud Lake, em Enciclopédia de Ellen White [CPB, 2018], p. 630).

REDIMIMOS O TEMPO PERDIDO QUANDO COMEÇAMOS A UTILIZAR COM SABEDORIA O TEMPO QUE NOS RESTA

Com frequência, a pioneira incentivava os cristãos a disciplinar o próprio tempo, levantando-se cedo, e a aproveitar os momentos durante viagens ou enquanto aguardavam compromissos. Ela sugeriu que esses “retalhos de tempo” fossem empregados “estudando, lendo ou meditando”. Se isso fosse feito, “quanta coisa boa poderia ser obtida!” (Parábolas de Jesus, p. 200).

Uma das declarações mais importantes de Ellen White sobre administração do tempo se encontra no livro Parábolas de Jesus, em que ela aborda a parábola dos talentos de Mateus 25:14-30. A autora ressaltou que cada momento é precioso e “carregado de consequências eternas” (Parábolas de Jesus, p. 200).

Um dos textos bíblicos utilizados pela pioneira para falar sobre gerenciamento do tempo é Romanos 12:11, que diz: “Quanto ao zelo, não sejam preguiçosos.” Ela também citou Efésios 5:15, 16: “Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem, e vivam não como tolos, mas como sábios, aproveitando bem o tempo, porque os dias são maus.”

Obviamente, não podemos trazer o passado de volta, mas podemos redimir o tempo, administrando bem o que nos resta. Inclusive, neste ano, por ser bissexto, teremos 24 horas a mais para usar com sabedoria. Gaste tempo apenas com o que é bom. Afinal, se o tempo já é curto, por que desperdiçá-lo? 

MÁRCIO TONETTI, pastor e jornalista, é editor associado da Revista Adventista

(Artigo publicado na seção Enfim da Revista Adventista de janeiro/2024)

Última atualização em 2 de janeiro de 2024 por Márcio Tonetti.