Saiba o que 180 líderes sul-americanos discutiram durante cinco dias sobre os rumos da igreja no continente e qual é o plano para reverter a perda de membros
Márcio Tonetti
Se a igreja na América do Sul fosse uma comunidade de 100 pessoas, ela teria sete crianças, dez adolescentes, 29 jovens, 43 adultos e 11 idosos. Desses, 56 seriam mulheres e 44, homens. A maioria (54) teria menos de dez anos de batismo.
A constante atualização dos dados sobre o perfil e a realidade do adventismo no continente tem possibilitado importantes reflexões. No último Concílio Anual sul-americano, que reuniu 180 líderes de oito países em Salvador (BA) nos dias 3 a 7 de novembro, relatórios da Secretaria e do departamento de Arquivo, Estatística e Pesquisa indicaram sinais de alerta. Por exemplo, além de estar batizando menos a cada ano, a igreja nessa parte do mundo tem perdido cada vez mais membros. Em média, de cada dez pessoas que entram, metade deixa a igreja.
Por isso, além de tratar de questões burocráticas, a reunião administrativa buscou principalmente reforçar a ênfase dada no último quinquênio. O tema do discipulado foi o eixo de toda a programação, sempre inspiradora e marcada por batismos. Na tentativa de reverter a perda de membros e crescer de maneira mais sustentável, a liderança sul-americana quer canalizar mais energia e recursos nesse propósito, fazendo com que os ministérios da igreja trabalhem de maneira integrada e com o mesmo foco.
Uma das novidades deste ano foi a apresentação de um documento amplo sobre o assunto, que traz fundamentos bíblicos e dos escritos de Ellen G. White para a visão seguida pela igreja. Conforme destacou o teólogo Adolfo Suárez, reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (Salt) e um dos responsáveis pela produção do material, o discipulado não deve ser visto como um programa a ser adotado, mas como o estilo de vida do cristão autêntico.
A fim de que o tema seja melhor entendido e motive os membros, também foi lançado o livro Todos Envolvidos na Missão: Um Chamado Para Servir, manual escrito pelo pastor Alejandro Bullón que chegará às congregações no próximo ano. Como o livro aborda, não se faz um discípulo em uma semana ou em um mês. São necessários tempo e convivência. É igualmente importante compreender que o verdadeiro discipulado resulta em multiplicação. “Discipulado sem multiplicação é mero entretenimento”, sublinhou o pastor Erton Köhler, líder sul-americano, no encerramento do concílio. Desse modo, os relacionamentos devem ser vistos como um meio não simplesmente de fazer amigos, mas de revelar Deus ao mundo. Para isso, a igreja espera que mais adventistas abram a Bíblia para estudá-la com pessoas do seu círculo de influência. Para o pastor Edward Heidinger, secretário executivo da sede sul-americana, isso demandará maior disposição dos pastores para motivar e capacitar os membros para o ensino da Palavra.
Ter adventistas mais comprometidos com a missão de fazer discípulos é um dos maiores desafios hoje. Citando a famosa “lei de Pareto”, Heidinger disse que esse princípio poderia ser aplicado à realidade do adventismo sul-americano, já que grande parte dos resultados se deve ao trabalho de poucos. Um dado apresentado pelo sociólogo Thadeu Silva, diretor do departamento de Arquivo, Estatística e Pesquisa da sede sul-americana, reforçou isso. Se em 2012 eram necessários 15,94 membros para trazer e manter uma pessoa na igreja, em 2016 esse número subiu para 28,47.
Entre outras questões importantes para a caminhada da igreja tratadas no concílio esteve a aprovação de um documento que apresenta uma orientação institucional sobre partidarismo político e manifestações públicas (para ler na íntegra, clique aqui).
MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista (com informações de Felipe Lemos e Jefferson Paradello)
(Texto publicado originalmente na edição de dezembro de 2017 da Revista Adventista)
Última atualização em 20 de dezembro de 2017 por Márcio Tonetti.