Sucesso no YouTube

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Música-tema de novo filme evangélico, interpretada por cantor adventista, registra mais de um milhão de visualizações em menos de um mês
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A música-tema do longa-metragem, interpretada pelo cantor adventista, obteve mais sucesso na rede social do que a versão dublada do trailer do filme. Créditos da imagem: reprodução site oficial do filme

Em menos de um mês, o clipe “Acredito”, do cantor Leonardo Gonçalves, atingiu mais de um milhão de visualizações no YouTube. A canção foi usada como trilha sonora do filme evangélico Você acredita? (dos mesmos produtores de Deus não está morto), que estreou na quinta-feira, 3 de setembro. Um dos cenários da produção musical é a Igreja Adventista do Riacho Grande, em São Bernardo do Campo (SP).

Em entrevista à Revista Adventista, o músico comenta a repercussão de seus vídeos na internet e fala sobre a ampliação de seu círculo de influência.

Vários de seus clipes já fizeram muito sucesso. A música “Sublime”, por exemplo, tem quase 7 milhões de visualizações no YouTube. O que tem contribuído para essa explosão de acessos às suas produções musicais na internet?

Primeiramente, o perfil do público está mudando bastante. O lugar em que as pessoas mais ouvem música hoje é o YouTube/VEVO. Estudos apontam que jovens entre 15 e 25 anos de idade passam três vezes mais tempo no YouTube do que na frente da televisão. Um dos fatores que contribuem para isso é a possibilidade de escolherem o que querem assistir. Além disso, o YouTube tem um alcance mundial e permite a contagem de visualizações, possibilidade que não é oferecida pela televisão.

Em segundo lugar, vivemos numa época em que cada vez mais as pessoas dão preferência à imagem. Somente o áudio parece não satisfazer às necessidades do público. No Instagram, no Snapchat e mesmo no Facebook, as imagens e os vídeos estão entre os conteúdos mais visualizados, compartilhados e comentados.

O terceiro ponto é que eu tive um mudança de postura. Sempre fugi da exploração da imagem pela simples questão de não me sentir confortável com isso. Embora tenha conta no Instagram e em outras redes sociais, raramente apareço. Para se ter ideia, lancei meu primeiro videoclipe somente dez anos depois do primeiro CD. Esse foi, inclusive, um dos principais motivos do atraso no lançamento do CD e DVD ao vivo Princípio. Não me sentia à vontade com esse tipo de exposição. Depois do lançamento, no entanto, tudo mudou. Embora ainda não esteja totalmente confortável com essa nova realidade, desde novembro do ano passado é a primeira vez que imagens minhas são veiculadas em conjunto com minhas canções.

A quarta e última razão é que, quando você tem uma via direta de divulgação com pessoas que acompanham quase que diariamente seu trabalho, o acesso e a resposta a qualquer novidade lançada são muito maiores e muito mais rápidos.

Nos últimos anos você ampliou sua esfera de influência no mundo evangélico e junto a outros grupos. O que tem facilitado essas interfaces?

Tenho encarado isso como um mistério. Meu pensamento foi e continua sendo dar meu melhor a fim de honrar o Criador de toda arte. De alguma maneira, Deus tem levado o que tenho feito a lugares e pessoas que eu não imaginava alcançar. Mas não atribuo isso a nada que venha de mim ou que eu esteja fazendo. É unicamente pela misericórdia dele. Ele trabalha muito mais apesar de nós do que por alguma coisa que estejamos fazendo corretamente. Claro que ter uma estrutura como a da Sony Music também é uma das maneiras que Deus tem utilizado. E talvez o fato de eu trabalhar de maneira consciente e consistente contra meus próprios preconceitos também ajude a não fechar certas portas.

Em maio deste você foi convidado pela embaixada de Israel no Brasil para cantar em duas sessões (uma na Câmara dos Deputados e outra na Câmara Legislativa do Distrito Federal) em lembrança aos 67 anos da criação do Estado israelense. Pelo fato de você ter gravado um CD em hebraico em 2010, como é seu relacionamento hoje com a comunidade judaica no Brasil?

Ter sido convidado pela embaixada israelense para participar dessas duas sessões solenes foi uma experiência “surreal”. Todos foram muito gentis e me trataram muito bem. Mas foi uma surpresa ter recebido o convite, já que não tenho nenhum relacionamento com a comunidade judaica no Brasil. O fato é que lancei um CD em hebraico em 2010 e só. Tenho interpretado canções em hebraico em praticamente todas as minhas apresentações desde 2007, mas sempre para públicos cristãos. Se é que meu trabalho em hebraico trouxe algum fruto, foi dentro das comunidades cristãs no sentido de diminuir o preconceito – às vezes até mesmo teológico – que ainda há em relação ao judaísmo. Sei que há muitos cristãos que presenteiam judeus com o CD Avinu Malkenu. Aliás, tenho recebido retornos positivos desse tipo de iniciativa. Mas, quando o pastor Edson Nunes Jr. sugeriu a gravação de um álbum em hebraico e me ajudou na produção dele, jamais sonhamos que um dia eu pudesse receber um convite da embaixada israelense para cantar o “haTikva” (hino nacional de Israel). Eu e o pastor Edson estamos lançando ao público, inclusive, uma viagem a Israel em janeiro de 2016 por meio da qual queremos oferecer a possibilidade de uma experiência mais profunda com a Palavra de Deus e com os lugares que inspiraram a gravação desse álbum. Mas nada que justificasse um convite inusitado como esse.

Como você tem procurado testemunhar de sua fé nesses diversos círculos de influência?

Há um pensamento atribuído a Francisco de Assis que afirma: “Testemunhe sempre; quando necessário, use palavras.” Não faço apologética. Quando me perguntam coisas específicas, procuro responder da melhor maneira possível. E busco estar sempre preparado para quaisquer perguntas que possam surgir. Mas acho que a seriedade com que busco fazer meu trabalho, a maneira como trato as questões artísticas, as coisas que posto e publico nas redes sociais e, principalmente, a maneira como trato as pessoas no dia a dia deveriam ser conteúdo o suficiente para refletir e exaltar ao Criador e servir de testemunho de seu reino.

E como você tem trabalhado as doutrinas adventistas em seu repertório musical?

Procuro ser bíblico. Meu primeiro álbum em português, Princípio e Fim, lançado pela Sony Music em 2012, tinha claramente uma proposta teológica e escatológica. Cada vez mais tenho buscado um suporte teológico fundamentado. Por isso, estou trabalhando em parceria com teólogos como o pastor Edson Nunes, que é professor de hebraico e Antigo Testamento no Seminário Latino-Americano de Teologia do Unasp, campus Engenheiro Coelho, e está concluindo o doutorado em estudos judaicos na USP. Antes de escrever qualquer letra, não é raro eu conversar com ele a fim de obter uma aula das principais linhas teológicas vigentes em relação a um assunto específico que quero abordar ou sobre questões puramente linguísticas do hebraico.

Desse modo, quando vou compor, tenho infinitamente mais recursos e segurança de que estou sendo fiel ao que o texto quer dizer. No álbum Princípio e Fim, pelo menos quatro letras minhas foram feitas dessa maneira. Outras duas canções do mesmo álbum são de autoria do Dr. Tiago Arrais, também professor de religião no Unasp, campus Engenheiro Coelho. Realmente, minhas canções possuem uma tentativa de ensinar e/ou popularizar ideias e conceitos teológicos através da canção. Essa é uma das características do meu trabalho que já foi assimilada pelo público.

Mesmo as músicas com letras mais “adventistas” tem tido uma boa aceitação lá fora?

Em geral, as pessoas que conhecem meu trabalho entendem que quero chamar a atenção para a Palavra de Deus. Acho que isso ajuda muito até mesmo na hora de aceitarem ou tolerarem a nossa teologia.

Você acha que através da música é mais fácil quebrar barreiras e se aproximar das pessoas que não professam a mesma fé?

Sem sombra de dúvidas, a arte é a melhor maneira de aproximar pessoas que pensam de maneiras diferentes. Porém, há muitos que não compreendem essa questão ou acham que isso é ruim. Ela tem a capacidade de provocar sentimentos através da autorreflexão e da autocrítica, e de despertar sentimentos semelhantes em pessoas com culturas diferentes. Mas, para isso, precisamos estar dispostos a dialogar. Tenho tanto a oferecer quanto estou disposto a receber. O conceito de aprendizado moderno não é o que um ensina e o outro aprende, mas o que todos, igualmente, compartilham conhecimentos e experiências. Compreendo que, para alguns, isso pode soar perigoso. No entanto, quando sabemos quem somos à luz da Palavra, e quando estamos firmes em Cristo, mesmo que o outro creia de modo diferente, somos conectados não somente uns com os outros, mas com Deus. Nesse sentido, a arte pode, sim, ser um instrumento de aproximação.

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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.